Fonte: Cunca Bocayuva
Ao que parece as forças que animam o hiepespaço da ciberdemocracia que se fortalece como rede de resistência democrática e popular vai se ampliando para viabilizar a vitória de Lula e do PT. O resgate do petismo numa chave ampliada nos exige a afirmação do protagonismo coletivo dos sujeitos coletivos e das suas plataformas de luta. Como produtores de política e como cooperadores na rede horizontal vamos experimentando na prática a ruptura com a inércia fragmentadora e serializadora, da mídia e da política espectáculo. Deixamos de ser consumidores desarticulados, somos cidadãos e produtores.
A dinâmica inter-redes pode e deve se articular com a dinâmica molecular dos campos de luta em construção. As mudanças do modelo de desenvolvimento envolvem o problema do modo de produzir, na sua relação com o Estado e o formato das políticas públicas. O modo de construir e se apropriar do direito a cidade e do excedente social passa por reconhecer novas formas de proiriedade e direitos de acesso a riqueza. A economia solidária é uma peça fundamental para uma mobilização democrática e produtiva, na cidade e no campo, na produção material e na imaterial, na tensão entre trabalho autônomo e trabalho dependente. O cooperativismo se inscreve como célula organizativa da autonomia produtiva, a organização por local de trabalho como instrumento de controle produtivo, a economia pública como fator de redistribuição e planejamento baseado no novo cálculo econômico, social e ambiental.Não podemos esperar o resultado das eleições para afirmar o sentido estratégico da luta pela transformação noso modos de produção e reprodução social, como condição de construção da desigualdade através de um projeto político emancipatório apoiado na reforma intelectual e moral, apoiado na construção e criação e afirmação dos direitos individuais e coletivos. O tema do programa é fundamental, devemos e podemos qualificar a disputa das prioridades políticas a partir da acumulação de forças e, das definições já presentes nas plataformas e surpreendendemente inscritas em leis, bem como, em experiências localizadas.
A segunda via do experimentalismo democrático e o reformismo revoucionário permitem a radicalização da democracia na direção da transformação social, cultural e produtiva. Mobilizados virtualmente devemos pensar na conexão com os processos e plataformas unificadas de mobilização social na sua relação com as novas esferas públicas e as novas dinãmicas produtivas. Aqui vale destacar que precisamos convocar o programa eleitoral e Lula para reafirmarem seu compromisso com a função social da propriedade: pela via da reforma urbana e da implementação do Estatuto da Cidade, pelo Orçamento Participativo, pelos Fundos Públicos do Anti-valor, pelo Cooperativismo Popula e a Autogestão, pela Reforma Agrária e a Segurança Alimentar, pela Ação Afirmativa, a diversidade e o multiculturalismo, pelo Pluralismo político e a Reforma da Política, pelo desenvolvimento sócio-sustentável, pelo Sistema nacional e o Programa Nacional de Direitos Humanos, por uma política de segurança cidadão, com apoio nos movimentos sociais e fóruns que articulam os sujeitos coltivos da transformação.
O programa eleitoral e Lula devem se lembrar dentro outras coisas da necessidade de fortalecer o ativismo civil e cidadão, as esferas de democracia direta e a economia solidária com o cooperativismo popular e a autogestão. Nossa experiência coletiva indica que a cooperação democrática e produtiva nos territórios e nas redes é condição para unificar economia e política.
O campo da economia solidária bravamente capitaneado pelo Fórum Brasileiro de Economia Solidária e a plataforma do sofware livre devem ser destacados e merecer uma prioridade na luta que se articula com a renda básica, o salário mínimo, assim como na defesa do emprego e a socialização dos resultados da produtividade. O retorno das greves, a continuidade das ocupações de terras, a mobilização de indígenas, do movimento de mulheres, do movimento negro, dos movimentos de juventude, dos sem-teto e dos atingidos por barragens, indicam uma potência ativa para a mudança do padrão de desenvolvimento e a rupturas com o regime de acumulação perverso do capitalismo financeirizado e dependente. A busca de uma nova política de desenvolvimento e a experimentação de alternativas produtivas cooperativas e autogestionárias faz parte do processo de rutura com as formas de espoliação do grande capital. A possibilidade de unificar redes de micros e pequenos produtores, de articular complexos industriais e construção de infraestrutura, numa forma de economia mista de transição com espaços não-capitalistas é essencial para resgatar a centralidade do trabalho. Uma nova política pública de trabalho e renda deve se apoiar na articulação entre o campo da economia solidária, os sindicatos e os demais atores empresariais dispostos a rearticular o sentido social e público da economia política do trabalho.
Os que estamos atuando na dinâmica de criação de formas de propriedade social e cooperativa apoiados na constituição de 1988, as mulheres e homens que criam a riqueza como trabalho vivo em movimento, podemos somar o impulso da inteligência coletiva em rede para fortalecer a economia solidária. A resistência democrática e popular pode esboçar o debate sobre o programa alternativo da esquerda democrática e socialista, como disputa de hegemonia no processo de democratização. Como em 1848, como em 1917-20, como em 1968, o tema da democracia e da autonomia se articulam exigindo uma nova cultura apoiada na experiência militante de que nos fala Paul Singer. Tanto as transformações sociais no capitalismo quanto o futuro do socialismo dependem da capacidade de avançar na direção de um novo metabolismo social e produtivo, mediado pela democratização radical, guiado pelos direitos humanos na sua indivisibilidade.