Fonte: Agência Adital, por Roberto Malvezzi, Gogó *

Moradores ribeirinhos, acostumados a viver o dia-a-dia do rio dos Sinos/ RS, mostram-se horrorizados com a extensão da tragédia. Nos últimos 40 anos nunca foi visto mortandade semelhante. O grande desafio das autoridades da área ambiental, agora, é localizar a origem dos resíduos tóxicos que provocaram a tragédia. Cerca de 40 empresas da região estão sendo investigadas e três já foram autuadas, sendo uma indústria de alimentos e dois curtumes por procedimentos irregulares no lançamento de resíduos tóxicos no Arroio Portão, que desemboca no Sinos.

Dobra pelo Amazonas, Madeira, São Francisco, Beberibe e por 70% dos rios brasileiros de alguma forma já degradados ou contaminados;

Dobra por todos os empresários, por todo grande capital que devora a natureza e esmaga os seres humanos;

Dobra pela classe política, incapaz de enxergar as novas exigências do século XXI e insistir no modelo desenvolvimentista da revolução industrial;

Leia a matéria Catástrofe no Rio dos Sinos, de Arno Kaiser, em http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=24857

Dobra pelos monocultivos da cana, da soja, do eucalipto que eliminam a biodiversidade e se estendem pelos campos brasileiros na monotonia do verde único;

Dobra pela mídia brasileira, pela mídia mundial, que condena a degradação ambiental, mas apóia cotidianamente o modelo de desenvolvimento ao qual ela pertence;

Dobra por cada árvore derrubada, cada espécie eliminada, cada peixe morto, cada vida a menos na riqueza da biodiversidade;

Dobra pelos intelectuais de direita e os que se dizem de esquerda, que brigam e alimentam a briga pelo poder, mas se recusam ver os rumos da humanidade e sua relação com a natureza;

Dobra por cada pescador que já não pesca, cada criança que já não come o peixe, cada família que já não bebe de suas águas;

Dobra por cada um de nós, filhos mortais da natureza, que preferimos carro individual, o ar condicionado, o peixe de granja, que a vida bebida diretamente na natureza;

Já não haverá mais sapos (para fazer remédio); já não haverá mais plantas (para fazer remédio); já não haverá mais cascavel para fazer o anestésico seiscentas vezes mais potente que a morfina;

Só então perceberão que havia um Rio dos Sinos.

* Agente Pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT)