Fonte: e_solidaria@yahoogrupos.com.br

A Coordenação do Programa de Feiras Estaduais de Economia Solidária 2006 divulgou o Concurso Nacional de escolha do nome da moeda social nos Mercados de Trocas Solidárias, a serem realizadas nas 26 Feiras Estaduais de Economia Solidárias, nos meses de novembro e dezembro de 2006. Esta proposta lançada em e-grupos (e_solidaria e redesolidaria) motivou debates sobre a pertinência de haver uma única moeda para todas as feiras estaduais deste ano.

Joaquim (bancopalmas@uol.com.br), do Banco Palmas, iniciou a discussão colocando que considera “um equívoco e uma perda para o movimento das moedas sociais, ter uma ÚNICA MOEDA em todas as feiras. Por dois motivos:

01) O principal motivo é que uma das essências da moeda social é que ela representa as características, a cultura, as lutas, as conquistas, as identidades de cada local. Existe um componente pedagógco nestas moedas que é a discussão com o “local” de qual deve ser o nome , o formato, as cores, as representações contidas na moeda social. É assim que acontece quando criamos uma moeda para os clubes de trocas, é assim que acontece quando criamos uma moeda social circulante, é assim em todas as experiencias de moeda social. Então, a riqueza das feiras estaduais em implantarem sistemas de moeda social é poderem estar imbuida deste conteúdo. O grande barato (e o sentido pedagógico) é de “vivenciarmos” na feira solidária , aquilo que fazemos na realidade do dia-a-dia das moedas sociais. Jamais, por exemplo, uma moeda social que represente as identidades locais do Rio Grande do Sul, servirá para o Acre, ou vice-versa. Entào é muito mais RICO que cada estado faça um esforço para discutir e criar sua própria moeda.

02) Um outro motivo, menos importante, mas tb relevante, é a questào da segurança e do controle. Durante dois meses a mesma moeda será utilizada em vários estados, aumentando em muito a possibilidade de falsificaçào e dificultando o controle de cada estado. Ou seja, quando um estado for usar a moeda, ele ficará inseguro para “fechar as contas” pois a mesma moeda já entrou em ciruclaçào em outros estados. Tanto pode haver “migração” de moeda de um local para outro, como fica sempre a “incerteza” quanto se aquela moeda foi “clonada” por alguém. – O estado não teria 100% de controle sobre a moeda.”

Joaquim, considera “o primeiro motivo o mais relevante. Também sei das dificudades em se viabilizar uma moeda por estado. Mas, no que pese tudo isso, acho que um ESFORÇO de cada estado (nem que tenhamos que fabricar a moeda manualmente) daria uma contribuição e um ‘sentido’ muito especial as moeas sociais nas feiras solidárias.”

Dora Sugimoto (dora.sugimoto@mma.gov.br) questionou a “real necessidade de se criar uma ‘moeda nacional’. Será que não estariamos indo no sentido contrário dos princípios da ES? Será que não estariamos burocratizando e tendo que fundar uma espécie de” Banco Central” para emitir, controlar e distribuir a tal moeda? A diversidade de moedas e o fato delas serem criadas pelos protagonistas da ES é uma das expressões mais evidentes de nossa autonomia , capacidade de organização e de autogestão.”

João Luís (fmjsilva@yahoo.com.br), divulgou “um sistema monetário alternativo em Valença, cidade do Rio de Janeiro. Sistema este que inclui uma moeda social chamada COROADOS e já está em circulação na cidade notas de 0,50 centavos, 1, 2 e 5 COROADOS. Esta moeda não só esta servindo para trocas e comercialização dos produtos dos empreendimentos solidários. Como também despertando a curiosidade pela cultura local. Pois Coroados foi o povo de origem da aldeia de Valença. Este sistema ingloba o MMCS – Mini Mecado Comunitário e Solidário; o Caixa Solidário (Espéci Banco Comuitário) com os TEIAS – Título Economico de Investimento à Alternativas Solidárias; GAPS – Grupos alternativos de produção solidárias. Estes GAPSs inclui grupos de AGriculltura e Agro-pecuário familiar. Este sistema está sendo um sucesso devido justamente se tratar de um processo de desenvolvimento local.”

João Luís finalizou afirmando que “a Moeda Social só tem valor se for para este sentido – o desenvolvimento cultural, político, social e cultural da localidade. Assim como é o Banco Palmas que tive o prazer de conhecer e aprender com ele – O PALMA.”

Carlos Henrique (clubedetrocas@ig.com.br) agradeceu as contribuições neste debate por estarem “defendendo a moeda social local, fico feliz que vocês também tenham esta visão. Quero aproveitar a oportunidade de dizer que eu Carlos Henrique, Representante dos clubes de Trocas em São Paulo, que também nós aqui em São Paulo, já praticamos a moeda social local a 8 anos, que é uma moeda social permanente, e que também é fruto dos valores culturais regionais, das lutas, das conquistas e a identidade de cada clube de trocas. Assim como defendido pelo Joaquim do Banco Palmas, que pratica já alguns anos, outros Estados também construíram suas moedas sociais locais, com estes valores. Como vem uma moeda social local, ela é construída coletivamente, e algumas moedas sociais locais, demoram anos até que ela se torne realidade.”

Segue uma reflexão enviada por Carlos Henrique neste debate.

“A informação que julgo importante debatermos coletivamente, mesmo porque estou adorando este debate, e é difícil pautar esta discussão sobre moeda social local, são tantos outros assuntos que acabamos não tendo tempo, para discutirmos este assunto.

O que irei desenvolver a seguir é sobre a diferença de uma moeda social local e uma moeda social de eventos.

Só para vocês terem uma idéia do processo para escolha de uma moeda social local, as vezes dura meses, até encontrar um nome que valorize a cultura local, as lutas e a historia de um local, ainda hoje em São Paulo, muitas pessoas que freqüentam nosso fórum de economia solidária em São Paulo, ainda não tem cultura do uso da moeda social local, são poucas as pessoas que freqüentam os clube de trocas que tem a moeda social local a mais de 8 anos no Bairro de Santa Terezinha. O que estas pessoas do Fórum já experimentarão foi a moedas sociais de eventos, utilizadas nas Feiras de Economia Solidária que tem um período de vida que dura até o final de um determinado evento.

A moeda social de Eventos de São Paulo, foi aprovada e custeada sua confecção pelo Fórum Municipal de Economia Solidária de São Paulo, esta moeda social já foi utilizadas em vários eventos. Feira Metropolitana de Economia Solidária de São Paulo ano de 2004. Feira de Economia Solidária de São Paulo, só com uso de moeda social Eco Sampa no ano de 2005. Primeira Feira Nacional de Economia Solidária em Abril de 2006.

Todas as vezes que foram utilizadas, ela recebia um carimbo, de que se tratava de uma feiras com período de validade até tal data, sendo resgatada em todos os finais de eventos.

Para a feira Nacional de Economia solidária o carimbo foi assim:

PRIMEIRA FEIRA NACIONAL ECONOMIA SOLIDÁRIA DE 06 A 09 / 04 / 2006

O próximo evento que esta moeda Social Eco Sampa, será aplicada é na III Mostra de Boas Praticas Ambientais, no próximo domingo na Av. Paulista, 1400, das 9 as 17 horas, em São Paulo.

Outra experiência que foi utilizada a mesma moeda social de eventos é o Txai, que foi utilizado nos Fóruns Sociais Mundiais de 2005 Porto Alegre e 2006 Caracas na Venezuela.

Tanto a moeda social de evento Eco Sampa e a Txai, apesar de serem chamadas de moeda social, elas não podem ser chamadas de moedas sociais locais, e sim moeda social de evento que tem uma vida útil que dura até o final do evento.

Reafirmo que o nosso interesse aqui em São Paulo, seria de investir nesta moeda social de eventos Eco Sampa, porém eu também compreendo que as demandas de se fazer as moedas sociais para todos os 26 Estados Brasileiros, inclusive Estados que não tem a cultura da moeda social, e que estamos fazendo uma capacitação a distancia, no grupo OrganizandoMTSadistancia, para se entender um pouco, sobre todo processo de como organizar um Mercado de Trocas Solidárias em uma Feira Estadual de Economia Solidária, e colocar em circulação a moeda social de evento nas trocas de produtos, serviços e saberes.

Já foi confirmado pela comissão organizadora das Feiras Estaduais 2006, caso optasse por moedas Estaduais a necessidade de se fazer 26 licitações, 26 editais, o custo iria reduzir ainda mais os poucos recursos que hora estão sendo administrados, para viabilizar o funcionamento das 26 Feiras Estaduais.

A proposta que esta sendo encaminhada é a confecção de carimbos com os dizeres de cada Estado, podendo o Estado determinar qual texto colocar no carimbo.

Sobre a possibilidade do Estado, conseguir a tempo construir uma moeda social com recursos próprios, para ser utilizada nas Feiras Estaduais de Economia Solidária, informamos que não existe nenhum impedimento, as razoes por optar por uma moeda social local são legitimas, por este motivo nosso apoio, só lamentamos que este ano de 2006, ainda não seja possível adotar esta pratica para todos Estado, devido justamente a não existência em todos Estados da cultura do uso da moeda social, e como se trata de uma pratica pedagógica, onde queremos levar esta experiência de uso da moeda social, estamos convocando o Movimento Nacional de Trocas Solidárias para nos ajudar na organização dos Mercados de Trocas Solidárias, nos 26 Estados Brasileiros.

Sobre a possibilidade de uma falsificação ou do uso da mesma moeda social de eventos ser utilizada em outros eventos, como já descrevemos acima aqui em São Paulo, já estamos aplicando em vários eventos da Economia Solidária, o uso da moeda social de eventos Eco Sampa, e ainda não tivemos nenhum problema de falsificação.

Para cada evento que é utilizado a mesma moeda social, é criado um carimbo, já servindo como exemplo para as Feiras Estaduais:

Feira Estadual de Economia Solidária de São Paulo Período de validade desta moeda social será de 10/11/2006 a 12/11/2006

Feira Estadual de Economia Solidária de Mato Grosso Período de validade desta moeda social será de 10/11/2006 a 12/11/2006

Assim por diante para cada Estado.

Todas moedas sociais são carimbadas e para cada moeda social colocada em circulação, um produto entra no lastro do Mercado de Trocas Solidárias, que será composto por 100 cestas básicas, ainda não sabemos, mas estamos pleiteando os vales refeição que em vez de serem doados para os empreendedores solidários de forma gratuita, são negociados no Mercado de Trocas Solidárias, por moedas sociais, e por todos produtos recebidos dos participantes do evento.

No final do evento, é feito um resgate destas moedas sociais de eventos, e as moedas sociais de eventos que não forem resgatadas, provocará uma sobra no lastro, que pode ser redirecionada para outras Feiras Estaduais.

Quem vai comunicar quantas moedas sociais de eventos, foram colocadas em circulação e quantas não foram resgatadas é o responsável pelo Eco Banco, que esta em sintonia com todos os outros responsáveis do Eco Banco nos outros Estados.

Neste raciocínio, concluímos que em cada enceramento de um Estado, as moedas sociais de evento não resgatadas, perdem a sua validade, e assim é feito também nos outros Estados, que de igual forma, para todas moedas sociais de evento, colocadas em circulação, também tem um carimbo e para colocar estas moeda social de eventos em circulação, também é feito o lastro, com 100 cestas básicas, vales refeição e produtos dos participantes da Feira Estadual.

O carimbo produzido pode ficar em poder do responsável do Eco Banco, é só ser conhecido no primeiro dia da Feira Estadual.

Outra argumentação, é que teremos em certa data do mês de Novembro e de Dezembro algo aproximado a 12 Estados realizando Feiras Estaduais de Economia Solidária na mesma semana, ou seja, a pessoa com as moedas sociais de eventos de um estado não poderá estar nas 12 Feiras Estaduais ao mesmo tempo, só se contar com outras 12 pessoas, duvido muito que isto venha acontecer, além da distancia e o custo para ir de um Estado e outro, talvez isto inviabilize o interesse de querer prejudicar estas Feiras Estaduais, não esqueça que para cada moeda social colocada em circulação a pessoa precisa deixar um produto equivalente no Mercado de Trocas Solidárias.

Resumo da ópera

As moedas sociais de eventos carimbados com o nome do Fórum e prazo de validade, só poderão ser utilizadas nas Feiras Estaduais respectivas.

Sobre a possibilidade de falsificação, ela é real e possível, porém mesmo que a moeda social fosse local, ela também pode ser rapidamente falsificada, de um dia para o outro, basta alguém ter interesse de prejudicar um trabalho coletivo. A falsificação é uma realidade mundial, onde só no Brasil algo aproximado a 500 milhões de Reais, são absorvidas pela economia brasileira com notas falsas todos anos, o que precisamos fazer é dificultar ao máximo estas tentativas de falsificações, uma pratica que já estamos aplicando é a moeda social ser local, impedindo que a moeda seja gasta em outras regiões. Para que esta possibilidade, não venha prejudicar um trabalho coletivo, vamos pensar juntos como poderíamos criar um mecanismo para evitar a falsificação das moedas sociais de Eventos, mas não só para eventos, mas para todos os 365 dias do ano, pois estamos aplicando a moeda social local em vários Estados Brasileiros.”