Fonte: Agência Carta Maior, por Verena Glass

Cerca de 700 trabalhadores do MST ocuparam a fazenda do deputado, acusado de ter sido um dos principais beneficiários de R$ 4,1 milhões repassados por Marcos Valério. Nesta semana, MST promoveu ainda ações em oito Estados.

Uma fazenda de 192 hectares do deputado federal José Janene (ex-lider do PP na Câmara), localizada em Londrina, Paraná, foi ocupada na manhã desta sexta (15) por cerca de 700 agricultores do MST, que exigem a desapropriação da área, adquirida supostamente com dinheiro da corrupção.

Acusado de ter sido um dos principais beneficiários de R$ 4,1 milhões repassados pelo empresário Marcos Valério a dirigentes do PP, Janene teve a sua cassação pedida pelo Conselho de Ética da Câmara em junho deste ano. O deputado também é réu em 13 ações civis públicas na Justiça paranaense, e em 11 inquéritos e uma ação penal no Supremo Tribunal Federal.

Segundo o MST, a ocupação da fazenda do deputado é um protesto contra a corrupção como forma de aquisição de bens. Em nota divulgada nesta sexta, o movimento recupera uma denúncia feita em junho de 2005 pela revista Isto É, pela qual Janene teria passado, em dois anos, de “miserável” a dono de terras, rebanhos e uma frota de carros importados.

De acordo com a reportagem da revista, em 2002 o deputado teria declarado à receita federal – a quem já devia R$ 15 milhões – que seus negócios tinham produzido rendimento zero naquele ano. Mas, entre 2003 e 2004, ele e a família teriam adquirido “uma dezena de fazendas, imóveis e uma frota de carros importados avaliados em cerca de R$ 7 milhões. (…) Nesta fantástica engenharia financeira, não estão incluídas outras jóias de seu patrimônio: rebanhos de gado e ovinos, safras de soja e a mansão de R$ 2 milhões encravada no Royal Golf, um elegante condomínio fechado na zona mais elegante de Londrina”.

Pela reforma agrária Esta semana, o MST realizou uma série de ações em vários Estados, como Bahia, Goiás, Santa Catarina, Pernambuco, Alagoas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, para cobrar do governo o cumprimento de promessas de assentamento e para protestar contra a criminalização do movimento.

Em Pernambuco, o MST promoveu nove bloqueios de rodovias na quinta e mais quatro na manhã desta sexta. Também na quinta, sem-terra realizaram um ato em frente ao Fórum de Ibimirim, no sertão pernambucano.

“Foi uma mobilização para cobrar a aceleração da reforma agrária no Estado, que este ano assentou apenas 500 famílias das 12 mil acampadas. Mas os protestos visaram principalmente denunciar a criminalização que o MST e os movimentos em geral vêm sofrendo no Estado, em especial com o novo pedido de prisão preventiva expedido contra o coordenador nacional do movimento Jaime Amorim”, afirma Alexandre Conceição, dirigente estadual do MST.

A prisão de Amorim – que chegou a ser detido e liberado dias depois com a concessão de um hábeas corpus – esta sendo pedida pela Justiça em função de sua participação de um protesto na frente do Consulado dos EUA em dezembro de 2005.

Na Paraíba, integrantes do MST e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) ocuparam, desde a tarde de quarta (13), a sede do Incra em João Pessoa. Representantes de 49 acampamentos – cerca de 2.700 famílias – exigiram o cumprimento da meta de assentamento de 500 famílias em 2006, já que, segundo o MST, até agora apenas 20 famílias foram atendidas. Já os agricultores do MAB protestaram contra expulsão de 700 famílias para a construção da barragem de Acauã e exigiram o seu reassentamento imediato.

No Mato Grosso, de acordo com o movimento, 100 famílias do MST mantiveram, nesta quinta, a ocupação do Incra em Cuiabá e 200 pessoas interditaram a BR-070, em Cáceres. Há cerca de 3.500 famílias acampadas no Estado, mas até agora apenas 70 foram assentadas no ano, afirma o MST.

No Mato Grosso do Sul, nesta quinta cerca de 120 sem terra bloquearam a BR-262 entre Campo Grande e Bataguaçu, na região do Vale do Iviema, para reivindicar a liberação das cestas básicas das 3 mil famílias acampadas no estado.

No Rio Grande do Sul, cerca de 300 agricultores do MST deixaram o escritório do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em Porto Alegre, ocupado desde o início da semana, e montaram acampamento em frente ao prédio. O movimento cobra do governo a liberação de nove áreas e o cumprimento da meta de assentamentos de 1070 famílias assentadas em 2006.

Questionado se as ações desta semana teriam alguma relação com a corrida eleitoral deste ano, Alexandre Conceição negou. “O MST não vai se pautar por qualquer calendário eleitoral. A necessidade de ações se pauta pelas necessidades dos agricultores”, afirma. Segundo movimento, não houve uma coordenação central das mobilizações nos Estados, mas Conceição explica que a jornada de lutas se deu em função da lentidão do Incra em cumprir as metas do Plano Nacional de Reforma Agrária.

Com informações do MST.