Fonte: Agência EFE

Brasil, Índia e África do Sul estabeleceram hoje as bases de um projeto de integração para o qual convidaram todos os países em desenvolvimento, com o intuito de construírem uma nova forma de cooperação baseada em um comércio justo e solidário.

A primeira Cúpula do Fórum de Diálogo Ibas (sigla que formada com as iniciais dos três países), reuniu em Brasília o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, e o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki.

A primeira reunião de líderes do fórum, que nasceu há três anos, terminou com uma declaração na qual a entidade se apresenta como uma base para a construção de uma “estrutura” que estabeleça “novos contatos” entre países da Ásia, da América do Sul e da África e que contribua “para o fortalecimento da cooperação Sul-Sul”.

Paralelamente à Cúpula, empresários dos três países exploraram as opções de negócios no âmbito trilateral.

Uma das áreas que desperta mais interesse entre os empresários e governantes é a da energia, sendo que os três países possuem experiências e modelos diferentes.

O primeiro-ministro da Índia disse que o Brasil é líder mundial na produção de etanol, combustível produzido com cana de açúcar. Já a África do Sul está na frente na questão da mineração e de gás e a Índia tem grande experiência no desenvolvimento de energia solar.

Segundo Singh, este grande potencial transforma a “segurança energética” em um dos principais objetivos do Ibas, sobretudo pela necessidade de que os três países têm de alimentarem suas indústrias na busca por maiores taxas de crescimento.

A intenção de cooperar nesta área foi evidenciada em um dos cinco convênios trilaterais assinados no final da reunião.

O acordo energético determina a criação de um grupo de trabalho divido em três para uma cooperação ampla no desenvolvimento dos biocombustíveis e dá ênfase ao etanol e ao biodiesel, derivados da cana de açúcar e de óleos vegetais, nos quais o Brasil possui ampla experiência.

Além disso, empresários e autoridades governamentais decidiram que trabalharão na identificação dos setores complementares dos três países, que em conjunto têm cerca de 1,3 bilhão de habitantes e somam um PIB de aproximadamente US$ 4 trilhões.

Segundo Mbeki, pelo que Brasil, Índia e África do Sul representam em seus respectivos continentes, “o que está sendo feito terá um impacto que irá muito além dos três países e que será um exemplo para todas as nações do sul”.

“Este primeiro encontro simboliza a união de três grandes continentes através de três países com economias e sociedades abertas”, afirmou o governante África do Sul.

Lula também destacou a unidade dos países no Grupo dos 20 (G20), que defende a eliminação dos subsídios agrícolas nos países mais ricos, e afirmou que o Ibas “se transformará em uma referência do multilateralismo” proposto por Brasil, Índia e África do Sul para o comércio e a política mundial.

Em um dos documentos, Lula, Singh e Mbeki reiteraram o apoio a uma reforma ampla do Conselho de Segurança da ONU, para que sejam aceitos países em desenvolvimento como membros permanentes. Além disso, eles reconheceram o “direito inalienável” de todos os países ao desenvolvimento da energia nuclear com fins pacíficos.

Também condenaram o terrorismo em todas suas formas e expressaram sua preocupação com o conflito no Oriente Médio, sobre o qual incitaram as nações comprometidas a “retomarem as negociações de paz o mais rapidamente possível”.

Os líderes também pediram uma representação “mais eqüitativa” dos países em desenvolvimento nos grandes foros econômicos, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), que deve ser objeto de “uma reforma fundamental de cotas e voz”.

A próxima Cúpula do Fórum Ibas deverá acontecer no próximo ano na África do Sul, oferecida como sede por Thabo Mbeki.