Fonte: Fabíola Zerbini (fabiolazerbini@terra.com.br)

Que maravilha saber que Gilberto está se aventurando nesta área de cruzamento de princípios que tanto pode nos ajudar a caracterizar as convergências e os eventuais limites entre os dois movimentos, e, assim, delinear os contornos do que vimos chamando de “Comércio Justo e Solidário Brasileiro”.

A tal “face” brasileira do CJS precisa mesmo se consolidar com um discurso próprio, com uma cara própria, já que estamos em um processo de criação de algo novo, não desconectado do movimento de re-significação do conceito internacional de comércio justo (aliás, inserido na luta interna deste movimento), mas, com uma cara própria garantida pela tal bricolagem que você coloca mais abaixo, pela integração com estes outros movimentos e conceitos.

Creio que, lá trás, quando se decidiu começar a pensar em comércio justo no Brasil de forma integrada com promoção de mercados locais justos e solidários, criou-se uma sinergia inicial deste movimento com aqueles outros que já vinham trabalhando no mesmo caminho, talvez ainda pouco conectados com a prática efetiva de relações comerciais justas e solidárias, mas convergentes em relação aos problemas e vícios que se querem anular com tais alternativas.

E de lá para cá, vimos construindo, acho que cada vez de forma mais coletiva, um caminho comum, de busca de convergência e fortalecimento mútuo. Nesse ponto, arrisco a dizer que o Brasil é o país que mais avançou nesta perspectiva de integração dos movimentos (muitos outros, ou melhor, alguns atores de outros países também querem esta integração sem muito sucesso), tendo como caminho deste processo a construção participativa dos princípios e critérios de CJS (através das reuniões animadas pelo Faces do Brasil, mas, principalmente da participação de atores brasileiros que vinham de um movimento ou outro nestes processos), e, como marco definitivo, a construção coletiva do Sistema Brasileiro de Comércio Justo e Solidário, com atores da economia solidária (a SENAES e o FBES), atores da Agricultura Familiar (SDT e SAF), e, atores do comércio justo abrasileirado (Faces e Articulação OPFCJS), além das participações mais pontuais de atores do movimento ambientalista (através do MMA) e de consumidores (IDEC).

E aí dá para entrar um pouco nesta questão dos princípios que você coloca, no sentido de que tivemos, dentro do GT Sistema Brasileiro de Comércio Justo e Solidário, criado para animar este processo, discussões muito interessantes sobre este tema, e uma das conclusões que se chegou, a partir da legitimação do conjunto de princípios e critérios de Comércio Justo e Solidário que consta da primeira versão do texto legal que regulamentará este Sistema, é de que o Comércio Justo abraça os princípios da Ecosol, e acrescenta o que chamamos de princípios compartilhados por toda a cadeia (preço justo, relação comercial duradoura, transparência nas informações ao longo da cadeia etc) não por serem inovadores no campo dos desejos da Ecosol ou da Agricultura Familiar, mas por, a partir de então, se afirmarem como regras obrigatórias deste novo mercado, destas novas relações.

Neste sentido, aproveito para anexar a minuta da Instrução Normativa que está em processo de consulta pública, ressaltando que a mesma traz na Seção “Normas”, o conjunto de princípios e critérios consensuados por este GT, ressaltando que os mesmos partem de uma re-leitura do acúmulo gerado no Seminário Padrões de CJS, realizado em São Paulo pelo Faces e FBES (abril de 2006), com a participação de inúmeros outros atores.

Não quero dizer com isto que ainda não tenhamos um longo caminho pela frente… Na verdade, sabemos que há muito a caminhar… – e essa pesquisa que você anuncia vai ajudar em muito a registrar este caminho, e, a mostrar onde estamos no mesmo. Enfim…Disponibilizo-me a trabalhar no que for possível, pois esse é um tema que me encanta!