Fonte: e_solidaria@yahoogrupos.com.br

A questão étnica mobilizou a discussão entre @s participantes do grupo e_solidaria e a formação foi apontada como necessária para a ampliação da compreensão e mudança nas relações de gênero, raça/ etnia, orientação sexual, pessoas com deficiências, etc. na dinâmica da construção da Economia Popular e Solidária.

Para Luciana Pereira de Souza (lucianagabi13@yahoo.com.br), ” numa época em que voltamos o nosso olhar para a questão dos afro- descendente brasileiros, como percebemos alguns avanços tais como: lei 10639, sistema de quotas, conferência brasileira de igualdade racial, a luta pela demarcação das terras remanescentes de quilombo e tantas outras discussões, me assusto lendo coisa que vem carregado de preconceito, como é o caso da lista negra, estou dando um outro nome para esta lista: lista dos sem compromisso em corrigir os erros historicos deixado pela colonizaçaõ brasileira”. Luciana referia-se à Lista encaminhada ao grupo com o nome de políticos envolvidos em diferentes casos de corrupção.

Antonio Brito (ajrbt@uol.com.br) concordou com a Luciana. “Já havia enviado e-mail anterior sobre o modo como fazemos referências aos gêneros, raça/etnia e as diversas orientações sexuais. Quero insistir na necessidade do movimento da Economia Solidária aprofundar e preparar de maneira sistemática um processo formativo nesta temática, inclusive acompanhando este conjunto de ações do Governo federal na área. Se formos olhar bem para muitos dos empreendimentos ou que acompanhamos ou dos quais fazemos parte, as posturas e as atitudes discriminatórias também fazem parte de cotidiano de tod@s. E não é só através de discursos. Vale a pena verificarmos o lugar que negr@s ocupam nos empreendimentos, ainda que sejam maioria. Ou ainda, vale a pena perguntar a eles, numa estrutura dos muitos dos nossos questionários qual a sua \”cor/raça\” (IBGE) para podermos verificar o que respondem e como respondem. Tive a oportunidade de coordenar uma Mesa num encontro do Fórum Intergovernamental de Gestores Públicos de Promoção da Igualdade Racial (FIPIR), que contou com a presença do Profº Paul Singer, a Ministra Matilde Ribeiro e outros. O tema era Geração de Trabalho e Renda com corte racial. Em sua fala, o professor que reconhece todo o histórico da discriminação contra negros e mulheres e etc., afirma a importância da Economia Solidária em alcançar exatamente esta população excluída e discriminada, porém, não vê a necessidade, talvez, de que deva haver uma intencionalidade de programas e projetos no âmbito da ES para esta população, que, de certo modo, poderia colocar alguns dos nossos conceitos e visões etnocêntricas sobre questionamentos, sobretudo, nos áreas de administração, economia e gestão. Creio que o debate é necessário, urgente e transcende as percepções que temos do que lemos, ouvimos ou falamos. É preciso nos formarmos.”

Rosemary Gomes (rgomes@fase.org.br) contribuiu com o debate colocando que “concordo que equidade, combate as desigualdades se conseguem com tratamento diferenciado (ações afirmativas) porque não se parte de historicos igualitários. O mesmo vale para o pouco debate e nenhuma política especifica para as mulheres da ecosol. Mas como politica pública (não politica governamental) se constroe no diálogo é preciso que o movimento (sociedade civil ) esteja colocando isso na pauta. para isso o começo é a sensibilização atraves de demonstração para tod@s do porque essas ações são necessárias , de que forma contribuiriam para uma sociedade melhor para todos e todas, como poderiamos demonstrar essa expecicifidades na formação, capacitação, gestão, comercialização, uso de tecnologias, acesso ao crédito etc… na produção, na sobrevivência estamos partindo de um pressuposto comum mais as ferramentas podem e devem ser as mais diversas e diferenciadas. É chover no molhado mas já sabemos que os pobres, os excluidos não são uma massa de iguais entre si.”

“Com relação a economia solidária (ecosol) e a questão de gênero, raça, etc, tenho a impressão de que há um movimento da ecosol em direção a esses setores; é como se a ecosol quisesse \”incorporar\” esses setores a fim de consolidar, não deixar dúvidas de sua natureza democrática (da ecosol). Na verdade, acredito que a ecosol deve trilhar o caminho de volta, ou seja, estudar e assimilar o modus operandi da economia praticada/construída pelos quilombolas, canudos, caldeirão entre outros movimentos revolucionários, construir uma síntese, e disputar na sociedade sua hegemonia”, conclui Robson (rmarciobrandao@yahoo.com.br)

Antonio Brito fechou o debate, afirmando que a sugestão de Robson foi boa. “O estudo histórico da organização econômica é um dos passos (não menos importante) para este debate. Mas pode ser “recheado” com um diagnóstico do modo como tem se apresentado estas relações (gênero, raça, orientação sexual, pessoas com deficiências, etc.) na dinâmica da construção da Economia Popular e Solidária, etc. São dois caminhos diferentes: a sistematização para a construção de um diagnostico do hoje e a sistematização e experiências não só no âmbito do povo negro, mas também das mulheres. Creio que um dos eixos para pensarmos tanto o diagnóstico como a sistematização das experiências históricas (e atuais) seja o trabalho por meio do conceito de territorialidade. E creio na construção e no esforço teórico do Prof. Milton Santos para pensar esse conjunto de relações nos marcos do território. Um outro eixo que pode organizar estas atividades é o da SOLIDARIEDADE. Creio que o conceito ou as visões de solidariedade são tão amplas como a discussão sobre felicidade. É como se esta discussão fosse \”inconclusa\” dado o grau de humanidade que elas abarcam, ou seja, é \”demasiadamente humano\” (aproveitando o Nietzsche), a solidariedade e a felicidade. Mas se colocarmos a solidariedade na perspectiva da AÇÃO (Hannah Arendt, Milton Santos e tantos outros), podemos avançar em indicar os marcos de solidariedade no âmbito dos territórios. Estou seguindo a boa sugestão da Rose.”