Fonte: http://www.larepublica.com.pe/index.php?option=com_content&task=view&id=116503&Itemid=38&fecha_edicion=2006-07-14

Por: Derry Díaz.

No dia em que Diana Canessa Garay pensou que perderia seu único bebê, uma mão “amiga” apareceu no Hospital da Criança, em Lima, capital do Peru. Estava vestida de branco e tinha uma voz de mulher. Era uma enfermeira que dizia ter o “remédio” para acabar com a diarréia aguda da qual padecia seu pequeno Fabrizio, de apenas oito meses.

A essa desesperada mãe de 24 anos bastou escutar que o “soro de arroz” cortaria a diarréia, para autorizar a administração do “medicamento”. Não lhe explicaram que o sal de reidratação era de origem transgênica e que sua venda está proibida porque ainda se encontra em fase experimental.

Sem se importar com mais nada além da recuperação imediata de seu filho, Diana Canessa assinou o documento em 15 de fevereiro de 2005. “Só queriam testar meu bebê, me enganaram”, se lamenta agora que seu filho sofre as primeiras conseqüências da experiência.

Arroz com genes humanos

A união de genes da mesma espécie, geralmente vegetais, é comum em alguns países como os Estados Unidos. No entanto, a união de espécies diferentes, como a vegetal e a humana, é “aberrante”, segundo Luis Gomero Osorio, da Rede de Ação na Agricultura Alternativa.

Mesmo assim, a indústria farmacêutica estadunidense Ventria Biocience misturou proteínas humanas no arroz para elaborar uma solução de reidratação. A finalidade era obter um soro que ajudasse a interromper as diarréias agudas.

A comercialização do soro foi rechaçada nos Estados Unidos. O órgão governamental que regulamenta a salubridade nos medicamentos (FDA – Administração Federal de Drogas e Alimentos) disse não ao arroz da Ventria em três oportunidades.

Apesar desses precedentes, o laboratório decidiu fazer um experimento com 140 crianças do terceiro mundo. Os centros de saúde escolhidos foram o Hospital da Criança, em Lima, e o Hospital de Trujillo.

Segundo a encarregada do estudo no país, Nelly Zavaleta, o experimento foi bem sucedido, pois as diarréias acabaram quase imediatamente. Zavaleta e a própria ministra da Saúde, Pilar Mazzetti, se negam a usar a palavra “transgênico”. Elas preferem dizer que o soro tem “origem transgênica”. E qual é a diferença? “È um transgênico com todas as suas letras porque seus genes foram alterados”, diz Luis Gomero Osório.

Diana Canessa Garay foi a primeira a denunciar o experimento. Antes, seu filho era saudável. Hoje, está permanentemente doente e se tornou alérgico a vários alimentos.

Exames

As alergias são as primeiras conseqüências do consumo de alimentos transgênicos. Fabrizio, que agora tem dois anos, já sofre com elas. “Depois que deram o soro, meu bebê começou a ficar sempre doente, em estado delicado. Agora ele é alérgico a tudo, a chocolate, a tangerina. Não sei o que acontecerá depois. O Ministério da Saúde tem que continuar seu tratamento”, afirma Diana.

Outra jovem mãe, Johana Sánchez Turreate, também teme pela vida de seu filho Jordano, de três anos, que desenvolveu alergias após receber o soro.