Renato Cruz
Livros, música, software e muito mais são oferecidos de graça, e legalmente, para internautas de todo o mundo
Dizem que não existe almoço grátis. A não ser que seja virtual, daria para acrescentar. As possibilidades de trabalho colaborativo em massa e os ganhos de escala trazidos pela rede mundial permitem a oferta de vários produtos e serviços de graça. Por um lado, o internauta se beneficia. Por outro, empresas tradicionais são obrigadas a rever seu modelo de negócios, ao verem seu principal mercado ser atacado por um concorrente que não está interessado em fazer dinheiro.
No primeiro trimestre, o Google faturou US$ 2,254 bilhões. A maior fonte de receita é a publicidade, com os anúncios que coloca nas suas páginas de busca e em sites de terceiros. Com esse dinheiro, consegue subsidiar outros serviços, como o Google Earth, em que as pessoas podem ver imagens via satélite da Terra, o Blogger, em que o internauta pode fazer um site pessoal, ou o SketchUp, programa para desenho tridimensional que não custa nada se o uso não for comercial.
Uma vez que se constrói a infra-estrutura necessária para um serviço de buscas como o do Google, o custo de novos sites torna-se bastante pequeno. Os serviços gratuitos trazem visibilidade e audiência para o Google e, conseqüentemente, para seus anúncios. Segundo dados da ComScore, os sites do Google receberam 495,788 milhões de visitantes em março, de um total de 694,260 milhões de internautas em todo mundo. Ficaram em segundo lugar, depois dos sites da Microsoft, visitados por 538,578 milhões.
Mesmo assim, a posição da Microsoft não é muito confortável. Em 28 de abril, as ações da empresa caíram 11% em Nova York. Entre os motivos, a preocupação dos investidores com a estratégia para competir com o Google e o Yahoo!. Na última quinta-feira, o presidente mundial da empresa, Steve Ballmer, anunciou o investimento de US$ 1,1 bilhão em pesquisa e desenvolvimento para o MSN, iniciativa de internet da companhia, no ano fiscal de 2007, comparados a US$ 500 milhões no ano anterior.
A Microsoft tem serviços gratuitos de grande audiência, como o MSN Messenger, de troca de mensagens instantâneas, e o Hotmail, de correio eletrônico. No entanto, sua principal fonte de receita é a venda de licenças de software. Nessa atividade, a Microsoft enfrenta a competição do chamado software livre, ou de código aberto, que pode ser copiado, modificado e usado livremente, sem pagamento de licenças. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas, 16% dos servidores nas empresas brasileiras usam o sistema operacional Linux, software livre concorrente do Windows, que tem 64% deste mercado.
Os grandes projetos de software livre são resultado da colaboração de programadores de vários países, que trabalham voluntariamente, via internet. O potencial de trabalho colaborativo criado pela rede não se restringe, no entanto, ao software. A Wikipedia é uma enciclopédia escrita por voluntários de toda parte do mundo. Qualquer pessoa pode visitá-la e modificar os textos. Ela tem verbetes em mais de 200 línguas. Em português, são mais de 131 mil. Em inglês, mais de 1,115 milhão. Em dezembro, a revista Nature publicou um artigo comparando a Wikipedia à enciclopédia Britannica, e não encontrou muita diferença. Eles analisaram alguns verbetes sobre ciência e encontraram, em média, quatro erros por texto na Wikipedia e três na Britannica.
No Brasil, a Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa (BibVirt), da Escola do Futuro da Universidade de São Paulo, depende de voluntários para digitalizar livros em domínio público. Além de textos integrais de obras literárias, oferece gratuitamente versões digitais de artigos, documentos, imagens, sons e vídeos. “Temos mais de 300 obras de literatura, mais de 50 apostilas e mais de 7 mil imagens”, diz Ana Paula Leite de Camargo, coordenadora da BibVirt.
O livro mais baixado é Iracema, do escritor José de Alencar. A BibVirt tem parceira internacional com o Projeto Gutenberg, site pioneiro em oferecer textos eletrônicos na internet, com clássicos da literatura na língua original. Atualmente, o Projeto Gutenberg possui cerca de 18 mil obras disponíveis.