Autor: Frei Gilvander Moreira, da Comissão Pastoral da Terra, do Movimento Capão Xavier Vivo e da Igreja do Carmo, em BH (gilvander@igrejadocarmo.com.br)

Enquanto acontece o 47o Encontro do BID em Belo Horizonte, com todo o conforto, no dia 01 de abril, dia da mentira, três marchas dos Movimentos Sociais sofreram com a arrogância do (des)governo AéCIO Neves. Cerca de 500 atingidos por Barragens, representando as 50 mil famílias atingidas por Barragens em Minas Gerais, vieram a Pé de Ponte Nova/MG. Chegaram com os pés calejados, suados, mas firmes para lutar o quanto for preciso para conquistar um mínimo de direitos que lhes são negados. Gritando sempre: Água é fonte de vida, não é mercadoria. Águas para a vida, não para a morte.

Tiveram que dormir ao relento, sob lona preta, perto do BH Shopping, sem lugar adequado para fazer as necessidades fisiológicas. Não tiveram local para tomar um banho. O jantar veio de Itabirito, da paróquia do Pe. Geraldo, bonito gesto de solidariedade com que está na luta por justiça. No dia anterior, no trevo da BR 262 com a BR 040, a tropa de choque bloqueou a continuidade da marcha por 1,5 hora. Hoje cedinho (01/04), todos de pé, tomaram um café simples com pão seco. Só! Mais de 10 viaturas da Polícia Militar dormiram no local controlando os passos de todos.

Às 8:00 hs, iniciamos a marcha rumo ao centro de BH, descendo pela Av. N. Sra do Carmo. Na curva, antes do Shopping Ponteio, a tropa de choque bloqueou mais uma vez a estrada, dizendo que tinham ordens para não deixar a marcha do MAB entrar em Belo Horizonte. Depois de um jogo de cena do Major Samuel, Cel. Teatino, Major Carvalho e …, após alguns minutos, liberaram a estrada para a continuidade da marcha.

Na Praça Sete, no centro de BH, encontramos com as outras duas marchas: uma da VIA CAMPESINA que veio pela Av. Cristiano Machado e outra dos MOVIMENTOS POPULARES DA CIDADE que veio pela Av. Amazonas. Ali se encontraram os mais de 2 mil participantes do I Encontro mineiro dos Movimentos Sociais. De forma pacífica e cidadã todos protestavam contra as políticas neoliberais implementadas no Brasil pelos organismos multilaterais como BID, Banco Mundial, FMI e BIRD, em parceria com os (des)governos federal, estaduais e municipais.

A Tropa de choque e PM, com um exagero de viaturas e policiais fortemente armados, disseram que não aceitariam que passássemos na Praça da Liberdade. Mas tínhamos que passar na Praça da Liberdade, pois lá estavam vários companheiros/as fazendo GREVE DE FOME há dois dias. Tínhamos que acolhê-los na caminhada. Seguimos pela Av. Afonso Pena, Av. João Pinheiro (Antiga Av. Liberdade), ao até ao lado do DETRAN. Da mesma forma que o povo hebreu, unido e organizado, fugindo das garras do faraó, encontraram pela frente o Mar Vermelho que acabou se abrindo e o povo se libertou, nós encontramos pela frente um PAREDÃO da tropa de choque que, com cordas e armados até os dentes, proibiam-nos de aproximar da Praça da Liberdade.

Dom Luciano Mendes nos acompanhava e, ao lado Comissão de Coordenação, ajudou a negociar com o Major Ramalho (do Serviço de Inteligência da PM), com Major Samuel, Cel. Teatino e etc. Mas a tropa de choque, alegando que tinham ordens superiores, do (des)governo AéCIO Neves, não permitiu de jeito nenhum que chegássemos até a Praça da Liberdade. O máximo que conseguimos foi autorização para que um grupo de 100 companheiros/as, escoltados por cavalaria da polícia, fossem buscar na Praça da Liberdade, os sete companheiros/as que faziam GREVE DE FOME há dois dias. A truculência da tropa de choque tenta humilhar os trabalhadores. Alguns companheiros receberam gás de pimenta nos olhos, no rosto e no peito (o Serginho do MST e um pastor da igreja metodista, por exemplo). As crianças que acompanhavam suas mães Sem Terra ficaram atordoadas, pois nunca tinham visto tanta polícia.

Com uma profunda emoção, indignados, acolhemos Pe. João do Carmo, Sônia Loski, Maria Luzinete de Almeida, Jackson Kid Almeida Lima, Ademilson Teixeira Alves, Marcelo Corisco e Jonas Ferreira e outros que participaram da greve de fome por dois dias. Assim no dia 01 abril, dia da mentira, "rasgou-se o véu do TEMPLO do (des)governo AéCIO Neves e do Prefeituro de BH. Os quase 3 mil marchantes confirmaram que estamos mesmo sob as garras de uma DITADURA ECONÔMICA internacional que tem como aliado mais forte o estado privatizado. A Constituição Federal foi pela milionésima vez pisada e rasgada, pois está lá escrito que todos têm o direito de ir e vir e a liberdade de expressão. No entanto, não pudemos sequer andar pelas vias públicas sem intimidação ou passar pela Praça da Liberdade que, na prática, está privatizada pelo AéCIO Neves e pela MBR – Minerações Brasileiras Reunidas. Mais: Observamos que não tinha nenhum jornalista da grande imprensa mineira. Sinal de quem o (des)governo Aécio Neves impõe censura absoluta aos meios de comunicação em Minas Gerais?

Indignados, repudiamos a truculência do (des)governo Aécio Neves, da tropa de choque e da polícia militar. Mas o Deus da vida e da esperança caminha com os pobres que estão em movimento, se organizando e lutando por direitos. O deus capital passeia pelos tapetes vermelho do Encontro do BID e de todos que, de joelhos, adoram o deus mercado.

No I ENCONTRO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS MINEIROS estaremos, de hoje até o dia 04 de abril, acampados na Praça da Assembléia Legislativa, discutindo em conferências, debates e oficinas, UM PROJETO POPULAR E SOBERANO para o BRASIL. Todas as pessoas de bem de Belo Horizonte e região estão convidadas a comparecer lá na Praça da Assembléia e participar ativamente das discussões. Venham somar forças conosco! Trocar experiências e lutar por UM OUTRO BRASIL, menos injusto e mais solidário.

Por Reforma Agrária já! Por Agricultura familiar e ecológica! Pelos direitos dos Atingidos por Barragens! Por ética na política! Contra a monocultura do eucalipto! Contra o agronegócio! Contra a ditadura de governos que são vassalos dos poderosos da economia! FORMA BID e organismos multilaterais!