Atividade realizada pelo FBES

Data: 28 de janeiro de 2006

A oficina contou com a apresentação de experiências feitas por Ary Moraes, Lenivaldo Lima, Ir. Lourdes Dill e Loiva de Oliveira, da Cáritas (Rio Grande do Sul) e representantes de cooperativas da Venezuela.

Ary iniciou a oficina convidando que os trabalhadores de cooperativas da Venezuela apresentassem sua experiência acerca do desenvolvimento endógeno. Um trabalhador expôs que no Núcleo de Desenvolvimento Endógeno (NUDE) que participa , de Quebrada da Virgem, há quatro comunidades. O trabalho realizado por este NUDE é em prol do meio ambiente, para a recuperação da Quebrada da Virgem, e tem como base a comunidade. As atividades realizadas pelas quatro comunidades envolvem produção de café, apicultura e floricultura.

O trabalho desenvolvido pela Cáritas do Rio Grande do Sul foi apresentado por Loiva e Ir. Lourdes. A Cáritas está no Brasil há 50 anos e há 25 anos desenvolve projetos voltados para a economia solidária, buscando fortalecer a sociedade civil. Hoje a rede de economia está constituída, sendo composta por muitos EES, ONGs e gestores públicos. Para Ir. Lourdes, a Cáritas contribuiu para a efetivação de muitas políticas públicas direcionadas para a economia solidária existentes. Ela finalizou sua apresentação salientando que a economia solidária não busca as riquezas do capitalismo mas, também não se contenta com as migalhas da exclusão social. Para a construção desta outra economia é preciso estar com o outro, isolado não há expressão. “Muita gente pequena, fazendo coisas pequenas, mudarão a face da terra. Isto é economia solidária!”

Baixe a íntegra da apresentação da Cáritas em: www.fbes.org.br/?option=com_docman&task=doc_download&gid=115&Itemid=18

A Usina Catende, apresentada por Lenivaldo, foi a segunda experiência apresentada na oficina. A Usina é complexo que abriga 48 engenhos, uma área de 26.000 hectares, uma hidrelétrica, várias casas-grandes (antigas sedes de fazendas), 8 açudes, além de um parque industrial para a produção de açúcar e ração animal. Existe, ainda, uma cerâmica industrial, uma metalúrgica e uma frota de 38 unidades entre caminhões e tratores. Desde 1995, quando os trabalhadores da Usina iniciaram o projeto Catende-Harmonia, foi possível recuperar a empresa nos moldes da diversificação industrial e agrícola das culturas, com a construção da Companhia Agrícola Harmonia, uma empresa em processo de autogestão, atualmente sendo administrada em regime de co-gestão entre o poder judiciário e os trabalhadores, através de suas organizações. O impacto das atividades da Usina alcança cinco cidades , 120 mil pessoas, quatro mil famílias da zona rural, quinhentas pessoas trabalham no parque fabril e 2200 famílias plantam cana de açúcar. Antes, os proprietários da Usina proibiam os funcionários que plantassem culturas alimentares, hoje há incentivo. “Liberdade é a questão mais importante! Poder ir em qualquer espaço da usina, conversar com o gestor”, disse Lenivaldo. Antes os gestores andavam armados. “A arma agora é a comunicação! Temos rádio, a energia elétrica chega até os trabalhadores.” A moradia ainda é precária, mas com apoio do governo federal estão buscando ampliar o desenvolvimento. “A Catende é a raiz da desigualdade brasileira, citou Lenivaldo de um estudo do IBASE, é uma revolução que está acontecendo na Catende!” Antes havia a cultura de submissão, hoje há participação, transparência, liberdade, formação/ capacitação por meio da Educação Popular. Tida semana cerca de cem pessoas se reúnem numa casa-grande e decidem os rumos da Usina.

Ao final das apresentações Ary contou a experiência do FBES, sua organização nos estados brasileiros, suas instâncias e segmentos.

O público, formado amplamente pelos trabalhadores do NUDE da Quebrada da Virgem, fez muitas questões. Os temas foram: presença da economia solidária do meio urbano e rural, participação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no FBES, cálculo do valor trabalho, fontes de financiamento, dificuldades encontradas no processo.

Ao responder as questões, foi salientado que as feiras não viabilizam os EES, que é importante para a sustentabilidade a existência de redes locais, para a comercialização no cotidiano. O fomento inicial é importante para a organização de um EES. A Cáritas, por exemplo, tem fundos que são direcionados para projetos alternativos, com recursos de entidades internacionais, da Campanha da Fraternidade e de governos.

A dinâmica microrregional, por vezes, determina o impacto das experiências de economia solidária. Há, por exemplo, cidades no Brasil, onde a movimentação de recursos depende dos ganhos da seguridade social. As experiências de economia solidária neste locais modificam a dinâmica. O valor do trabalho é calculado pelo que é trabalhado. As cooperativas que surgem já estão nivelando os pro-labores.

Loiva diferenciou as duas formas de economia solidária que foram apresentadas: as empresas recuperadas e os grupos comunitários/ feiras. Entre as dificuldades encontradas no processo de organização das feiras/ grupos comunitários, Loiva indicou: cultura difícil de ser mudada, individualismo, acompanhamento dos EES, pois aqueles que não são acompanhados tendem a ter mais dificuldades, isolamento dos grupos, prazos pequenos para utilização de recursos públicos, entendimentos e metodologias diferentes abrem o desafio de construir um projeto comum com as diferenças.