Data: 28 de janeiro de 2006.
Promotora: ANTEAG – Associação Nacional de Trabalhadores e Empresas de Autogestão
Esta mesa foi composta por Patrícia, da Anteag (Brasil) e Lenivaldo Lima, da Usina Catende Harmonia (Brasil)
Um ponto fundamental para se pensar metodologias de formação, quaisquer que sejam, é partir do pressuposto de que a construção do conhecimento deve se dar de forma coletiva, visando a emancipação do sujeito, considerando-o como um sujeito histórico.
Outra coisa que precisa ser pautada é a formação de formadores. Deve haver um esforço individual e coletivo neste sentido, pois muitas verdades se modificam a cada dia e muitos conceitos, por vezes, acabam se cristalizando.
A palavra aluno, que em sua raiz etimológica, significa aquele que não tem luz, o que supõe que o educador seja aquele sujeito que leva o conhecimento ao aluno, ou seja, é o detentor de todo o saber. Em processos de formação de trabalhadores em autogestão e economia solidária, prefere-se utilizar as palavras educador e educando, onde não há a supremacia de saberes entre um e outro, ambos educam e aprendem.
Trabalham-se com os valores humanos, para o convívio, para o coletivo. E o valor da autogestão pode ser concebido como a legítima “racionalidade democrática”. O lema do Governo Chávez, em Venezuela, é “todo poder ao povo” e, isso, nada mais é, do que autogestão.
Pode se dizer que a autogestão é uma utopia, é algo que sempre vamos buscando e nunca alcançamos, porque sempre queremos mais. Estamos construindo uma cultura, um sentido de viver, uma tradição, um costume, que chamamos de autogestão.
E, quando se pensa em metodologias de formação, tem que ser ter a clareza de que o ser humano está no centro das preocupações, onde se constrói uma formação para a autonomia do sujeito e não para a dependência.
Lenivaldo Lima coloca a experiência da Usina Catende Harmonia, uma fazenda que agrupa cerca de quatro mil famílias e 500 trabalhadores e trabalhadoras da usina, com histórico de altos índices de analfabetismo e submissão aos antigos patrões.
A alfabetização, para este e para muitos outros casos, é muito importante para promover a mudança da cultura e a construção da autogestão. Mas, como fazer a autogestão em toda a sociedade, num projeto de construção de algo novo?
Como já foi dito anteriormente, a autogestão é uma utopia que vai se construindo através de um processo contínuo. A importância da autogestão relacionada à democracia direta – “todo poder ao povo” – já é difícil de se aplicar em uma empresa e, ainda mais, em um país. A todo o momento, é preciso questionar o poder da autoridade. E, se não houver o devido cuidado, a autogestão pode cair em projetos burocráticos e repressivos.
A participação deve ser direta em todos os setores: meios de produção, comunicação/informação e democracia econômica como instrumento de fortalecimento da democracia política.
Ary Moraes, citando P. R. Sarkar, o criador de Prout, coloca que: “a questão do valor utilitário versus o valor existencial, dar valor a todos os seres, animados e inanimados, da produção autogestionária, como um componente de sustentabilidade aos empreendimentos solidários.”
Portanto, como se distribui o resultado do trabalho em uma empresa autogestionária?
A ANTEAG recomenda às empresas que ela acompanha, que os pró-labores, ou resultados, sejam na proporção de um para três, ou seja, o maior pagamento não deve se exceder a mais de três vezes do valor do menor pagamento (por exemplo, se o menor pagamento for de R$300,00, o maior não pode ultrapassar os R$900,00). Porém, essa é uma decisão que a Assembléia da empresa decidirá.
O que define o eixo comum que marca o conceito das cooperativas assessoradas pela ANTEAG é a autogestão. Se as cotas/partes forem muito altas para o ingresso de novos integrantes, estas cotas são divididas de modo a dar condições para que o novo trabalhador possa pagá-las à cooperativa.
O momento é de se aprender com as experiências que já vêm sendo construídas sobre metodologias de formação de trabalhadores e, também, criar novas metodologias e relações de trabalho que favoreçam a autogestão, de modo a apoiar e inspirar os trabalhadores a continuarem participando do movimento, da luta e do trabalho.