Atividade promovida pelo FBES

Data: 27 de janeiro de 2006.

Mesa composta por: Lenivaldo Lima, da Usina Catende (Pernambuco); Maria Dalvani de Souza, da Coopaçaí (Rondônia); Joana Mota Palheta, do Fórum de Empreendedores Populares (Pará); um companheiro da Argentina; Paulo Palhano, da Rede Abelha (Rio Grande do Norte); e Wilson, do Projeto Vira Lata (São Paulo)

Acesse a apresentação da Rede Abelha em: www.fbes.org.br/?option=com_docman&task=doc_download&gid=109&Itemid=18

Na abertura da oficina, Lenivaldo destacou que no Brasil 2/3 dos trabalhadores são informais. A economia solidária surge neste contexto, porém numa outra lógica: trabalho coletivo, compartilhando os resultados, não separando o saber intelectual do manual, buscando superar a segmentação da produção – consumo – distribuição.

A Cadeia do Algodão foi apresentada por Maria Dalvani. A idéia de organizar esta cadeia surgiu no Fórum Social Mundial de 2005, quando setecentos trabalhadores e trabalhadoras de cooperativas confeccionaram as bolsas juntos. Hoje a cadeia agrega 2000 trabalhadores e trabalhadoras, sua coordenação é composta por representantes das cooperativas escolhidos por região do Brasil que se reúnem todos os meses para planejar, pensar os preços, etc. O impacto do desenvolvimento e da metodologia da cadeia para os Estados e grupos que a compõe supera qualquer atividade formal de formação, segundo Dalvani. Com a criação da marca Justa Trama ocorreu uma transformação, agregaram os conhecimentos, respeitando espaços e diferenças, realizando uma construção onde todos e todas participam. O processo de organização da cadeia trouxe modificações para os trabalhadores que a compõe impossíveis de retroceder. Esta é uma oportunidade que o capitalismo não possibilita: respeito entre as pessoas, educação, capacitação, cultura. “Cada um tem o direito de pintar seu sonho!” A diferença está em chegar na ponta, respeitando a terra, os produtos, as pessoas. O processo inicial foi dolorido, segundo Dalvani, que o comparou à gestação, com dores de parto, “mas agora é tempo de cuidar do fruto que é a Justa Trama”.

Joana apresentou a Cadeia da Fruta, enfatizando que consumimos muitos alimentos químicos e que os objetivos da cadeia é promover a alimentação regional e natural por meio do consumo das frutas dos empreendedores da economia solidária. Esta cadeia tem lutado contra o capitalismo e gerado trabalho e renda para muitas famílias. Uma das estratégias da cadeia é a comercialização para governos, pois assim as frutas chegam até as crianças. O Pará, estado onde Joana mora, trabalha com polpa de frutas: açaí, cupuaçu, bacuri, manga. O consumo das frutas da cadeia fortalece os empreendimentos econômicos solidários (EES), os quais contribuem para a preservação do meio ambiente, geram trabalho e renda, promovem o consumo saudável e a organização dos trabalhadores e trabalhadoras. Tem muita gente, afirmou Joana, contribuindo para a continuidade desta cadeia: organizações não-governamentais (ONGs), FBES, Fóruns Estaduais de Economia Solidária (FEESs), pessoas que acreditam na economia solidária.

Em 1989 foi constituída a Rede Abelha a partir de duas ou três organizações rurais e hoje, apresentou Paulo, está em toda a região Nordeste do Brasil e aglutina homens e mulheres da área agrícola. Os EES que a compõe estão organizados em cooperativas e associações com tipos diferentes de abelhas. A preservação do meio ambiente á bandeira de luta para manutenção da rede, pois a preservação das abelhas depende disto. Estas estão desaparecendo por questões ambientais, dificultando a polinização das plantas. As dificuldades encontradas na rede, segundo Paulo, são a baixa escolaridade e formação em apicultura, baixo nível de tecnologia em relação à indústria. As estratégias para superar estas dificuldades: formação para gestão da produção para trinta filhos de agricultores e criação de curso técnico ou escola técnica para estudos na rede. Lutas: políticas públicas e acesso à informação para exigir políticas públicas que fomentem equipamentos e formação para a melhoria da qualidade do mel, inclusão do apicultor como profissão e acesso ao mercado do pequeno apicultor, além de trabalhar em prol da consciência ecológica.

A experiência dos catadores de material reciclado foi apresentada por Wilson. Segundo ele, no Brasil mais de um milhão de pessoas trabalham com lixo e, pelos dados do Movimento Nacional de Catadores, há trinta mil catadores organizados. Muitas dificuldades se colocam neste trabalho. No início, foi a localização de indústrias que comprassem o material. Até 1990 não havia indústria que comprasse plástico PET. Hoje os catadores conseguem vender todo o material que recolhem. A organização dos catadores tem como marco um encontro em Brasília e como maior desafio a formação/ capacitação. Outros desafios, segundo Wilson, são o capital de giro, pois a cooperativa não tem recurso para se gerenciar e a gestão, buscar superar as dificuldades e alavancar o processo. Seguir os princípios dos 3 R é fundamental (Reduzir a geração de resíduos, Reutilizar e Reciclar o resíduo) para pensar o consumo sustentável. A proposta da organização dos catadores e cooperativas em rede consiste na criação de uma bolsa de preços que serão postos na rede. Esta idéia é uma proposta da Petrobrás e Fundação Banco do Brasil, com o objetivo de melhorar a geração de trabalho, renda, a qualidade de vida dos catadores e promover a inclusão social, afirmou Wilson.

Na Argentina, a organização do movimento social iniciou na crise econômica da década de 1990, quando trabalhadores e trabalhadoras começaram a pedir ao governo trabalho e comida. Estes não se conformavam com o auxílio do governo de U$100, pois queriam trabalho, o único que traz dignidade. Com o governo Kirschner houve uma abertura para muitas coisas, por exemplo, fomento de políticas públicas e ONGs, que faziam resistência desde o governo militar, passaram a organizar EES de todo o tipo. O companheiro da Argentina frisou que dentro do capitalismo é difícil competir com quem produz em série e com a decisão política do Estado pode haver incentivo para o processo de construção da economia solidária e, conseqüente, reconstrução do laço social. As questões levantadas pelos participantes da oficina destacaram a importância do consumo dos produtos dos EES, por meio de compras coletivas e de feiras e da formação de cadeias e redes para a organização dos trabalhadores e melhoria da qualidade de vida dos envolvidos.