Fonte: http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=1679&eid=362

Mais de mil lideranças indígenas vindas de todas as regiões do Brasil, além da Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai, estarão reunidas entre os dias 3 e 7 de fevereiro, em São Gabriel (RS), para lembrar os 250 anos da queda da resistência do povo Guarani contra os exércitos de Espanha e Portugal e seu líder, Sepé Tiaraju, durante a Assembléia Continental do Povo Guarani.

“Os pajés mais velhos sempre disseram em suas histórias que iriam passar anos e anos, até que os Guarani se reagrupassem. O encontro é uma ótima oportunidade para retomarmos nossa história de luta e pensarmos o futuro”, afirma o cacique guarani, Mario Karai, terra indígena Cantagalo, localizado na região da grande Porto Alegre.

O encontro pretende debater a questão indígena e as formas de enfrentar os desafios do dia-a-dia. Assim como gritou Sépe Tiaraju “Alto lá! Esta terra tem dono”, não só os Guarani como outros povos, têm ainda na terra a sua maior reivindicação. Só no Mato Grosso do Sul, calcula-se que ainda seja necessário regularizar mais de 190 terras indígenas do povo Guarani (Nhandeva e Kaiowá).

Maurício da Silva Gonçalves, líder indígena da Comissão de Terra Guarani, diz que para seu povo Sepé é um símbolo de resistência e luta. “A referência do Sepé Tiaraju é muito importante para o povo Guarani, por que ele morreu lutando pelas terras, e ainda hoje são muitos Guarani lutando pelo seu espaço, pela sua terra”, acredita Maurício.

Para antropólogos e indigenistas a falta de terra é a grande responsável pela desestruturação em diversos níveis das sociedades indígenas. A falta de onde retirar o sustento e o confinamento em pequenas terras levam a uma perspectiva de vida desanimadora, que produz uma situação de tensão, alcoolismo, alto nível de suicídios, desnutrição infantil e um ambiente sem dúvida violento. “Sem a terra é impossível a gente desenvolver nossa cultura e auto-estima”, diz Mario Karai. No ano passado 38 indígenas foram assassinados, maior número dos últimos 11 anos.