Fonte: Denis Batista (denisbatista@gmail.com)

Fabiano Angélico, da PrimaPagina

Um dos principais problemas enfrentados por pequenos artesãos do interior do Brasil é fazer com que seus produtos cheguem a um público mais amplo. Uma alternativa seria fornecer para grandes redes de varejo, que têm pontos de venda espalhados em vários Estados. Esta saída, porém, é dificultada pela política de aquisição dos hipermercados: em geral, eles compram de fornecedores que prometem regularidade na entrega e um volume compatível com a procura e que aceitem receber pagamento dois ou três meses após a entrega do produto. Como os artesanatos são geralmente produzidos em poucas unidades e não têm uma regularidade determinada, fica inviável fornecer para as redes das grandes cidades.

Uma parceria entre o Ministério da Cultura e o grupo Pão de Açúcar, articulada pelo PNUD, propõe flexibilizar essas práticas de mercado de forma a buscar uma solução para o impasse. O acordo prevê que artesãos participantes do projeto Pontos de Cultura — ação prioritária do programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura — se cadastrem como potenciais fornecedores do Caras do Brasil, iniciativa do Grupo Pão de Açúcar que leva a lojas da rede itens elaborados de forma sustentável por pequenos produtores.

“Os produtos passarão pelos critérios do Caras do Brasil. Queremos itens produzidos com sustentabilidade, respeito ao meio ambiente e que promovam a inclusão social e a geração de renda”, afirma a coordenadora do Caras do Brasil, Beatriz Queiroz. “Respeitados esse preceitos, os produtores têm que estar aptos a emitir nota fiscal. Por fim, o produto tem que ser passível de ser vendido no supermercado. Não pode ser um produto de grandes dimensões ou um produto muito caro”, detalha.

Atualmente, os produtos do Caras do Brasil são expostos em 36 lojas dos supermercados Pão de Açúcar, Compre Bem e Sendas. De acordo com Beatriz, o projeto envolve 72 fornecedores de 19 Estados. São 305 produtos, cuja comercialização beneficia mais de 13 mil pessoas, segundo estimativas do Pão de Açúcar. Nas lojas participantes, são comercializados produtos alimentícios, como geléia, mel e farinha, além de cestaria, produtos de tecelagem e artesanato de barro, entre outros.

Várias comunidades ligadas aos Pontos de Cultura já manifestaram interesse em se cadastrar para tentar participar do programa, aponta o secretário de Programas e Projetos do Ministério da Cultura, Célio Turino. “Fizemos um evento conjunto com o Pão de Açúcar quando os Pontos de Cultura eram 200 — metade do que é hoje. Na época, 80 localidades manifestaram desejo de participar”.

Novas ações serão realizadas nos próximos meses para capacitar outras localidades que trabalham com artesanato. “Como dobrou o número de Pontos de Cultura, poderemos ter mais gente interessada em trabalhar com o Pão de Açúcar. Só teremos uma dimensão da parceria com a ação prática”, diz. No momento, segundo o Ministério, não há estimativas de receita ou de número de artesãos que fornecerão à rede varejista. “O alcance da parceria dependerá da capacidade produtiva dos artesãos”, diz Beatriz Queiroz. “O primeiro passo, que foi a assinatura da cooperação, já foi dado”, completa.

O maior benefício do convênio, assinado em dezembro de 2005, é garantir condições para o escoamento da produção artesanal e, ao mesmo tempo, manter a autenticidade das produções, avalia Turino. “Grandes redes em geral pagam 60 ou 90 dias depois de receber, cenário que, para uma comunidade pequena, é inviável. Conseguimos que o Pão de Açúcar se comprometesse a pagar com 10 dias de recebimento. Isso é um ganho muito grande porque estamos criando um meio de escoamento da produção cultural e material destas comunidades”, comemora.

O coordenador de projetos do Ministério da Cultura afirmou ainda que a parceria vai permitir a comunidades locais desenvolver suas economias a partir de seus produtos culturais. “E o mais importante é que cultura, aqui, não é vista como um ornamento, mas como elemento de desenvolvimento: cultura enquanto arte, expressão simbólica, mas também enquanto cidadania e economia”, diz.

“A partir da escolha dos fornecedores, vamos colocar os produtos nas gôndolas. Aí, quem vai dizer se vai vender ou não é o consumidor”, diz Beatriz. De acordo com a coordenadora do Caras do Brasil, nas lojas que participam do programa há uma estratégia de marketing especial para os produtos artesanais. “Essas lojas têm uma comunicação visual diferente, na seção onde acontece o projeto. As gôndolas têm um desenho diferente e são sinalizadas”, afirma.

Turino prevê que os produtos artesanais conseguirão atrair consumidores. “Há uma demanda por produtos desse tipo. As pessoas querem ser percebidas como individuais e por isso querem produtos que sejam únicos, diferenciados. Acho que o Pão de Açúcar percebeu esse nicho”.