Entre os dias 29 de novembro e 02 de dezembro de 2005, em Caracas, Venezuela, aconteceu o I Encontro Ibero-americano de Cooperativas, tendo a participação de representantes de dezoito países, sendo que na delegação de brasileiros havia 23 delegados do FBES.

O Encontro teve como objetivo articular mecanismos de cooperação entre atores da economia popular a nível nacional e internacional para a criação de uma grande rede de experiências associativas autogestionárias. Em cada Grupo de Trabalho (Formação e Comunicação, Turismo, Artesanato, Habitação, Financiamento, Agropecuária e Agroindustrial) foram discutidas propostas para fortalecimento dos setores e formadas comissões para dar continuidade às discussões, mantendo e ampliando a rede tecida no Encontro.

Abertura do Encontro

A abertura do evento contou com a presença do presidente da Venezuela, Hugo Chavez que fez seu discurso após a participação de representantes que compunham a mesa: cooperativas da Missão Vuelvan Caras/ Venezuela, do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), da Associação Nacional de Agricultores Pequenos/ Cuba, da Nicaracoop/ Nicarágua, da Rede de Economia Alternativa e Solidária/ Espanha.

Sandra Magalhães, que representou o FBES, apresentou o o movimento de economia solidária no Brasil, lembrando que tem um história de mais de 20 anos e vem sendo construído com a colaboração de universidades, organizações não-governamentais (ONGs), movimentos sociais e sobretudo com a força dos/as trabalhadores/as dos empreendimentos econômicos solidários (EES). Sobre o mapeamento dos EES, Sandra ressaltou que o mesmo identificou mais de 20 mil empreendimentos com características de autogestão, entre cooperativas, empresas de autogestão, grupos formais e informais. Enfatizou que mais de 30 pessoas do Brasil estavam presentes ao Encontro e que todos/as buscam fortalecer o movimento de integração junto com os amigos e amigas. “Construir outro mundo, outra economia está em marcha.”

Ao finalizar sua fala, Sandra, ao cumprimentar o presidente Hugo Chavez, entregou moedas do Palmas. O presidente demonstrou muito interesse pela experiência cearense e em seu discurso fez um destaque, ao expressar que tem interesse de fazer convênio com o Norte do Brasil.

Chavez, ao fazer seu discurso, ressaltou que Encontro deveria ter resultados firmes para o avanço do cooperativismo, construindo espaços para a integração. “É impossível construir um outro mundo num só país. Ou é construído em todos ou em nenhum. Comecemos por aqui”, disse ele.

Colocou duas propostas de ação para o Encontro: 1. Financiamento para cooperativismo internacional – com fundo do governo, sendo que seu governo está disposto a dar passo adiante na formação do fundo e, depois, ir incorporando outros governos federais e locais; 2. Centros de formação – Escola de Cooperativismo, pois a formação e capacitação são fundamentais para o cooperativismo.

Ao finalizar o ato de abertura do Encontro, Chavez frisou que “o cooperativismo tem que impactar o modo de vida social, ele é um passo para a construção de um outro mundo”.

Articulações do Brasil

Durante o Encontro, a delegação brasileira reuniu-se todos os dias. Estas reuniões foram importantes tanto para que os integrantes do grupo se conhecessem como para a construção conjunta de propostas em torno do Encontro e para o VI Fórum Social Mundial (FSM), que será realizado em Caracas no final do mês de janeiro de 2006. Destes momentos outros, durante e após o Encontro, ocorreram, onde o FBES envolveu-se no processo de organização do VI FSM (veja no item VI FSM).

Na expectativa de dar continuidade às articulações e discussões promovidas no Encontro, cada GT organizou Comissões com representantes de diversos países. O Brasil foi indicado a participar das seguintes comissões:

Comissão Agropecuária e Agroindustrial, tendo como representante Francisco Lucena (ADS/ CUT);

Comissões de Enlace e Fundos do GT de Turismo, representante João Prestes (Ecoturismo Solidário/ AM);

Comissão de Habitação, representante Maria de Fátima dos Santos (Fórum Lixo e Cidadania);

Comissão Manufatura Artesanal, representante Maria Dalvani de Souza (Coopaçaí/ RO)

Além destas Comissões, o FBES também estará contribuindo na construção de uma páginaweb da Rede Ibero-americana de Economia Solidária, a partir das discussões do GT de Formação e Comunicação.

Saímos do encontro da Venezuela com responsabilidades da agenda do governo venezuelano, incluindo o II Encontro Ibero-americano de Cooperativas, na Nicarágua/ 2006. A partir do dia 04 de janeiro, em Caracas, estará acontecendo uma reunião de continuidade das articulações estabelecidas no I Encontro, para a qual o FBES indicou Ary (do Rio de Janeiro) para participar.

Moeda Social e Núcleos do Desenvolvimento Endógeno

Entre os 18 países presentes no Encontro alguns acordos bilaterais e multilaterais foram realizados. Com relação ao Brasil, tivemos a proposta de intercâmbio com o governo venezuelano referente às moedas sociais. Representantes do governo venezuelano, inclusive o próprio ministro da Economia Popular, Elias Jauá, virão para o Brasil, em janeiro de 2006, visitar o Banco Palmas, em Fortaleza/CE e no Norte do Brasil, com objetivo de conhecer as experiências brasileiras e de sensibilizar o Brasil para a proposta de desenvolvimento endógeno.

Relatos

“A metodologia do encontro propiciou a apresentação das experiências dos participantes facilitando a socialização das práticas/fortalezas e dificuldades, e nessa dinâmica foram delineados os passos da construção de um documento coletivo. Os trabalhos de grupo se deram na perspectiva da criação de uma rede iberoamericana para intercâmbio de conhecimentos e tecnologias da economia popular, além da busca de garantia da soberania dos povos.” (Oscarina – Coop Mútua-Ação – Cooperativa de Psicologia/ Fórum Paulista)

“Foi de extrema importância a nossa participação neste encontro. Além do processo de troca que um encontro como esse oferece, também posso elencar vários momentos de formação e articulação política. Desta forma,penso que participar de uma mesa sobre financiamento com os países da América do sul e falar da experiência do Brasil ( Banco Palmas-CE , Bancos do Povo-PE e SISCOM- Sistema de Crédito Orientado à Mulher- PE) é sem dúvida alguma uma experiência imensurável.” (Karla – Casa da Mulher do Nordeste/ Fórum Pernambucano)

“O que vi no grupo que participei foi que nós, brasileiros estamos sendo bem vistos pelos outros países, como referência de união, organização e em busca de mecanismos que nos ajudem a mudar a história capitalista no nosso país, unindo forças e mudando o nosso desenvolvimento econômico. Em todas as falas fomos bem ouvidas e levadas a sério, outros países nos ajudaram tirando proposta em cima dos exemplos que citamos.”(Cristina – trabalhadora da Rede da Casa da Mulher do Nordeste – Fórum Pernambucano)