Fonte: Carlos Fontana (presidencia@cooperbotoes.com.br)

Marco Sanchotene/ Gazeta do Povo

Quando a fábrica de botões Diamantina Fossanese atrasou o pagamento mensal e o 13.º salário, em 2003, a sensação dos empregados da empresa, com sede em Curitiba, era de que os negócios não iam bem. A certeza dos problemas veio após o sumiço do investidor com todo o estoque. Temendo a falência – e o desemprego – os 200 funcionários decidiram ocupar a empresa e pressionar a direção para que os problemas fossem resolvidos. Após três meses de luta judicial, eles conseguiram o direito de assumir a fábrica através de uma cooperativa, a Cooperbotões.

Fundada há mais de 40 anos por Giovani Olivero, a Diamantina já chegou a dominar 90% do mercado nacional de botões, mas hoje em dia não tem nem 5%. Os ex-funcionários, hoje administradores, atribuem a decadência às medidas tomadas pelos herdeiros depois do falecimento do fundador. Na época, a direção da fábrica ficou nas mãos de sua filha, Lídia Olivero que foi seguida por diferentes executivos. Segundo os funcionários, os diretores não estavam preocupados em gerenciar a indústria. Algumas pendências jurídicas ainda estão sob responsabilidade de Lídia, que vive na Itália.

Durante os três meses de ocupação, os empregados se revezaram dia e noite para sensibilizar a Justiça. O único incidente enfrentado, segundo eles, foi uma reintegração de posse levada por um oficial, que foi ignorada. Um tempo depois o Ministério Público do Trabalho protocolou uma ação civil na qual sugeria a transferência do controle da fábrica para os operários.

Apenas três meses depois da ação ter sido acatada pela Justiça, os trabalhadores tiveram que enfrentar a falência da indústria. A administração formada entregou os pontos e debandou a Diamantina. Os cerca de 90 funcionários que restaram não aceitaram a derrota e há um ano mantêm a produção em dia. Hoje, todos são “donos” da fábrica e decidem as grandes questões em assembléias.

Apesar de serem orientados pela central de cooperativas Unisol e pela Agência de Desenvolvimento Solidário, ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), a transição não foi fácil porque, de acordo com eles, tiveram que aprender assuntos que nem imaginavam existir.

O atual presidente, Carlos Fontana, trabalhava como porteiro antes da cooperativa ser estabelecida e conta que, no começo, o trabalho era feito “na intuição”. “Nós aprendemos a negociar pensando assim: quando vamos a uma loja comprar um produto, conversamos com o vendedor e pedimos um desconto. Aplicamos isso nos contatos com os fornecedores e deu certo”, explica, animado. Fontana lembra que a equipe teve ainda que aprender a fazer fluxo de caixa, balanços, relatórios de contas a pagar e a receber e a negociar com bancos.