Fonte: Lycia Ribeiro (lyciaribeiro@uol.com.br)

Samira de Castro – Diário do Nordeste

Driblando as dificuldades de acesso ao sistema financeiro convencional, a sociedade civil organizada está buscando novos canais de fiananciamento. A Socioeconomia Solidária e as chamadas finanças de proximidade — como cooperativas de crédito e bancos comunitários — já são uma realidade no Ceará.

Na Agência de Desenvolvimento Local e Socioeconomia Solidária (Fundesol), o crédito é visto como um direito, uma ferramenta de inclusão social e valorização humana. Essa é a filosofia dessa Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que atua há quatro anos no Grande Bom Jardim, em Fortaleza, na área de microcrédito assistido. “A Fundesol sempre assumiu os princípios da Socioeconomia Solidária, resgatando a solidariedade, a valorização da pessoa humana e o compromisso com o desenvolvimento local”, resume Paulo Roberto Gimenes, diretor executivo da entidade.

Atendendo a uma população de quase 200 mil habitantes, a Fundesol mostra que a economia solidária é um dos caminhos para a geração de renda, impulsionando o desenvolvimento de comunidades pobres. “Aqui no Grande Bom Jardim, não tínhamos sequer uma fotocopiadora. Para reproduzir documentos, as pessoas tinham de ir até o Terminal da Parangaba”, diz Gimenes. Hoje, a comunidade já conta também com cyber café e uma lojinha de economia solidária, os moradores da região deixam seus produtos em consignação, proporcionando o escoamento da produção.

Os empréstimos da Fundesol somaram R$ 512,3 mil, beneficiando 650 pessoas, no acumulado deste ano. De 2002 a 2005, o crédito concedido chega a R$ 900 mil, para cerca de três mil clientes. Além das linhas de financiamento, a entidade disponibiliza o sistema de cartão solidário, o Credsol, que movimentou R$ 175 mil em vendas no ano passado. “A concessão de crédito é realizada através de cinco modalidades de cartões, que utilizam chips, facilitando o controle, a expansão e a transparência do processo”, explica Gimenes.

Aceitos em 40 estabelecimentos credenciados do Grande Bom Jardim, os cartões de crédito pessoal estimulam o consumo local. O Credsol Bom disponibiliza créditos de R$ 40 a R$ 100 para compra de gêneros de subsistência de pessoas com renda de pelo menos meio salário mínimo. Já o Credsol Mais (R$ 100 a R$ 500) fideliza as compras no bairro, favorecendo o círculo vicioso da economia local. O Credsol Prosumidor (R$ 50 a R$ 10 mil) financia insumos produtivos de empreendedores de perfis diversos. O Credsol Empresa (R$ 200 a R$ 3 mil) financia despesas administrativas das instituições parceiras e afins e, por fim, o Credsol Financiamento (R$ 100 a R$ 2 mil) é voltado para investimentos e realizações pessoais.

Públicos

Jovens empreendedores e mulheres chefes de domicílio são os públicos prioritários da Fundesol. Recentemente, o Banco Popular do Brasil firmou convênio com a entidade para empréstimos com fundo rotativo. “Essa linha de crédito se destina a mulheres com até três anos de estudo, conforme orientação da Secretaria Executiva da Mulher, nossa parceira no projeto”. A iniciativa é fundamental, já que mais de 60% dos moradores da região são do sexo feminino.

Paulo Gimenes acrescenta que a Fundesol foi uma das primeiras organizações no País a acreditar nos jovens. “Firmamos parceria com a Prefeitura de Fortaleza para disponibilizar linhas de crédito para este público e também atuamos com o CredJovem e com o Crédito Jovem Lázaro Ramos”. Nos planos de expansão do microcrédito orientado, ele revela que a entidade está negociando para ser correspondente da Caixa Econômica Federal.

Experiências avançam no País e Ceará

Fazendo um balanço dos outros bancos comunitários do Ceará, Joaquim Melo diz que o Banco PAR, de Paracuru, criado em setembro do ano passado, tem R$ 30 mil de empréstimos em reais e R$ 5 mil da moeda “par” em circulação entre os 101 clientes ativos. Já o Banco Bassa, de Santana do Acaraú, criado em outubro deste ano, possui R$ 2 mil da moeda “santanas” em circulação e uma carteira de 30 clientes.

O Banco BEM, de Vitória, no Espírito Santo, possui R$ 30 mil créditos em reais e R$ 7 mil da moeda “bens” em circulação. O segundo banco comunitário do Espírito Santo, o Terra, de Vila Velha, está com R$ 2 mil da moeda social, “terra”, em circulação. Em Recife, o Banco Tabaiaires, mantém R$ 3 mil da moeda “siriedas” circulando. Em janeiro de 2006, “entrará em operação o Eco-Luzia, em Salvador”, informa Melo. (SC)