Agência FAPESP (enviado por Marcelo Barra – marcello@w73.com.br zzEduardo Geraque

Paul Singer e Ignacy Sachs discutiram os novos caminhos para o desenvolvimento e a inclusão social no Brasil criados dentro da relação Estado-sociedade civil no XXIX Encontro Anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (ANPOCS).

Para muitos, a data de sepultamento do socialismo é 1989, quando caiu o muro de Berlim. Discussões históricas e ideológicas à parte, nova leitura desse sistema político pode resultar em importante inovação social, segundo o economista Paul Singer, secretário nacional de economia solidária do governo federal.

“O Brasil é um palco privilegiado para que novidades na área social possam ocorrer”, afirmou Singer durante mesa-redonda no 29º Encontro Anual da Anpocs), em Caxambu (MG), na sexta-feira (28/10).

Entre os processos em curso, Singer citou três formas de inovação.

“Os assentamentos frutos da reforma agrária são algumas dessas inovações, assim como os 150 mil acampamentos que existem hoje na beira das rodovias brasileiras”, disse.

Pare ele, a novidade nesses casos está na organização das comunidades.. Mesmo que, em muitas delas, tais relações sociais sejam bastante conflituosas.

O microcrédito e os processos em que empresas são recuperadas por ex-empregados depois de chegarem ao estado falimentar também foram citados.

“Nesse segundo caso, pode-se considerar que grande parte dos processos de recuperação obteve bastante êxito”, aponta.

Para Ignacy Sachs, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, na França, é preciso pensar o presente e o futuro a partir das ruínas dos paradigmas, sendo o socialismo um desses esqueletos.

“Em primeiro lugar, temos que admitir que os cientistas devem assumir suas responsabilidades sociais. Também somos protagonistas em muitos tsunamis sociais”, disse.

Para o economista e sociólogo polonês naturalizado francês, qualquer tipo de inovação deve ser avaliado a partir de critérios tanto sociais (emprego, pobreza e desigualdade, por exemplo) como ambientais (qualidade do ar, do solo e da água), além dos econômicos, que podem ser medidos pelos investimentos.

“Não dá para avaliar um projeto de inovação sem ter um planejamento”, afirma Sachs, para justificar que o monetarismo presente na realidade brasileira atual é apenas um modismo.

“Imagine a análise da construção de um resort no litoral brasileiro.. Você não pode falar que aquilo será bom ou não, se alguns ‘Ps’ não forem levados em conta, como praia, porto, pesca ou petróleo. Para avaliar os benefícios do hotel, é preciso que se faça um planejamento de ocupação do litoral brasileiro”, afirmou.

Bastante próximo das experiências práticas das inovações sociais desenvolvidas hoje dentro das fronteiras brasileiras, o sociólogo Rudá Ricci, do Instituto Cultiva, organização não-governamental criada em 2002 para atuar em políticas públicas, também apresentou seu ponto de vista durante a mesa-redonda.

“Uma das questões centrais é que a inovação vem do governo, que acaba financiando as iniciativas. Mas ela não é do governo, é da sociedade civil”, afirmou.

Para Ricci, em alguns casos já é possível imaginar que a clássica relação entre sociedade civil e Estado está sendo ultrapassada. “O sentido de público deve ser retrabalhado”, disse.