Fonte: Notícias ComCiência (www.comciencia.br)

Os índices de inovação das indústrias instaladas no Brasil parecem indicar uma mudança na chamada cultura empreendedora do país. Pelo menos é o que se pode observar no perfil das empresas que ampliaram investimentos em inovação em 4,5%, entre 2001-2003, em comparação a 1998-2000: as pequenas empresas, ou seja, aquelas que empregam de 10 a 49 pessoas. O que indica essa mudança são os resultados da última Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec), do IBGE. Divulgada recentemente, a Pintec 2003 apresentou um aumento na taxa de inovação de 31,5% para 33,3%. Entre as grandes empresas, com mais de 500 funcionários, o aumento foi pouco significativo e entre as demais, de 50 a 499 funcionários, a taxa chegou a diminuir.

Qual seria a explicação para esse aumento dos investimentos de pequenas empresas em inovação? Ruy Quadros, professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências, da Unicamp, acredita na hipótese de que a participação em cadeias produtivas esteja impulsionando as pequenas empresas a se modernizarem, a fazerem um upgrade de seus processos produtivos com mais intensidade. “O aumento da competitividade do mercado pode ter um efeito na ponta da cadeia produtiva, que era a mais atrasada. O fato de grande parte dessas pequenas empresas ser fornecedora das grandes, e estas cobrarem mais avanços nos produtos, pode ter levado a esse resultado”, avalia Quadros.

A queda do índice de inovação entre as grandes empresas, por sua vez, seria explicada, segundo Quadros, pelo fato da taxa de inovação no Brasil estar ligada à transferência de produtos lançados no exterior ou licenciamento de tecnologia, fazendo com que a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) dessas empresas tenham se tornado mais efetivos a ponto de sustentar a taxa de inovação com menos dispêndio entre 2000 e 2003.

A explicação para o avanço das pequenas é reforçada por Mariana Rebouças, coordenadora da Pintec, que destacou as exportações como um dos fatores que alavancaram esse aumento na taxa de inovação. Além disso, percebe-se que a estratégia de inovar em produto e processo foi maior que a de inovar apenas em processo como no ano de 2000. “Parece que estamos entrando em outro patamar de competitividade, no qual a diferenciação por produto é mais importante do que o corte de custos”, afirma Rebouças.

A economista acredita que as empresas se interessaram em exportar e aumentaram sua linha de produtos, que não são necessariamente novos para o mercado mundial ou para o mercado nacional, mas podem ser novos para a empresa. Do total de empresas que implementaram algum tipo de inovação, apenas 177 inovaram para o mercado mundial.

Segundo Mariana Rebouças, é preciso ainda destacar que o ligeiro aumento no número de empresas inovadoras (de 22,7 mil em 2000 para 28 mil em 2003) aconteceu em meio a um contexto macroeconômico adverso, o que leva a crer que as empresas estão atribuindo maior importância à inovação: “mesmo diante desse cenário economicamente pouco favorável, as empresas investiram em inovação”, lembra a economista.

Perfil dos inovadores Entre os setores que realizaram mais inovações destacam-se, em primeiro lugar, o setor de informática (71,2%), depois o de material eletrônico básico (61,7%); em seguida automóveis, caminhões, camionetas, utilitários e ônibus (57,5%); material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicação (56,7%) e, em quinto lugar, produtos farmacêuticos (50,4%).

Ruy Quadros chama a atenção para o setor automobilístico. De acordo com o pesquisador, neste setor o Brasil está se transformando em um centro de esforços de desenvolvimento para exportação mundial. A empresa alemã Bosch transferiu para o Brasil toda uma linha de produtos voltados para a exportação. Outros exemplos seriam as norte-americanas Eaton e Delphi e a italiana Magneti Marelli. “Essas empresas estão transferindo para o país linhas de produtos, não apenas para serem produzidos, mas também desenvolvidos aqui. Associados a isso estão os investimentos das montadoras no Brasil”, diz Quadros. O desenvolvimento do motor flex fuel no Brasil também faz parte desse contexto já que, segundo o professor, envolveu todo um conjunto de atividades de desenvolvimento no país, com a participação de engenheiros brasileiros, montadoras e fabricantes de autopeças.

Em relação à Pintec 2003, outra observação do pesquisador refere-se ao crescimento da importância atribuída pelas empresas às universidades e institutos de pesquisa, de 25,6% para 29,7%. Para ele, este dado decorre principalmente de políticas que estimulam esta relação explicitamente, sobretudo por meio dos Fundos Setoriais e pelos programas da Fapesp tais como o Programa de Inovação Tecnológica em Pequena Empresa (Pipe) e Parceria para Inovação Tecnológica (Pite). “Existe um ambiente favorável à inovação. Está-se amadurecendo a cultura de cooperação entre a universidade e a empresa. O que é muito importante para nós pesquisadores”, afirma Quadros.