Fonte: Sandra Quintela (sandraq@pacs.org.br)

Por: C. Hernández – EL PAIS (20/07/2005)

“Quem tiver loja que a abra, e senão que a venda.” Com este refrão o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ilustra a política que pretende aplicar no contexto de suas sempre tensas relações com o empresariado: nacionalizar as companhias que estejam fechadas e entregá-las aos trabalhadores, para que estes as dirijam sob esquemas de co-gestão. O presidente anunciou nesta terça-feira (19/07) pela televisão que possui uma lista de mais de mil empresas que poderiam ser afetadas pela medida.

Chávez propõe-se a massificar a política de expropriação de companhias que se encontrem na paralisação iniciada em janeiro do ano passado com a empresa processadora de papel Venepal. Para isso, tem uma lista mais de mil empresas que estão fechadas ou trabalham muito abaixo de sua capacidade instalada.

Em seu programa de televisão dominical, Chávez indicou que as indústrias privadas que não forem reativadas serão compradas pelo Estado e postas a funcionar sob a modalidade de Empresas de Produção Social (EPS), quer dizer, que a propriedade será mista entre o Estado e cooperativas de trabalhadores.

Essas empresas devem realizar contribuições sociais e cooperar com os programas de educação e saúde nas comunidades onde estejam implantadas.

O anúncio foi recebido com muitas reservas pelo setor empresarial. O presidente do Conselho Nacional de Industriais (Conindustria), Eduardo Gómez Sigala, disse que “se o que querem é eficiência, devem criar as condições macroeconômicas adequadas para operar” e acrescentou que “parece que há interesse em que as empresas privadas tenham uma situação difícil para ativar logo os mecanismos de expropriação”.

O dirigente industrial explicou que algumas das empresas foram obrigadas a diminuir drasticamente sua produção ou a fechar suas portas devido aos controles de preços que o governo aplica desde 2003.

Outros representantes, incluindo os três candidatos que disputam a presidência do órgão empresarial, Fedecámaras, insistiram que qualquer processo de expropriação seja realizado dentro das leis e de forma concertada com os proprietários das empresas.

Em janeiro passado, o Estado venezuelano expropriou a processadora de papel Venepal. Seus proprietários pretendiam declarar falência, mas os trabalhadores se negaram tenazmente a abandonar seus postos e, com o apoio do governo, ressuscitaram a unidade produtiva.

A empresa tem agora um capital de 6 milhões de euros e é propriedade do Estado e dos trabalhadores. A Companhia Nacional de Válvulas, que produz equipamentos para a indústria petroleira, seguiu o mesmo processo.