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CONVIVENDO E CONSTRUINDO NO CERRADO SUL-MATOGROSSENSE
Sebastiana Almire de Jesus
Em Mato Grosso do Sul, somos obrigados a conviver com a agricultura mecanizada e a criação extensiva de gado, de corte, o aumento da produção de grãos e da pecuária de corte, sobretudo, para a exportação nos últimos anos é inegável, porém, as evidências ambientais que indicam que a presente forma de desenvolvimento agrícola é insustentável, favorecendo a degradação ambiental acelerada, são evidentes em todo o estado.
Mas, para nossa alegria, convivemos com várias associações, cooperativas e grupos informais que vem praticando a economia solidária pelo estado.Estes grupos, baseados no princípio de que a comunidade pode obter lucro sem ganhar dinheiro em cima da exploração humana ou da degradação do meio ambiente, vem criando condições para termos parte do cerrado de volta nas paisagens sul-mato-grossense.
Desde os indígenas, quilombolas, pequenos agricultores até trabalhadores urbanos, muitos são os que encontram nas paisagens do Estado, matéria prima para produção de diversas peças artesanais, artísticas, e mesmo o enriquecimento da alimentação com o extrativismo dos frutos do cerrado.
Sou testemunha, do quanto vem sendo importante a experiência das famílias que atuam no desenvolvimento de produtos alimentícios com os frutos do Cerrado, como o cumbaru, o jatobá, o araçá e muitos outros, esta experiência vem contribuindo para a sustentabilidade das comunidades locais e também para a recomposição da paisagem natural do cerrado, contribuindo até mesmo com o turismo, agregando valores ao turismo local.
A prática desses grupos vem mostrando cada vez mais, que existem outras formas de produção, e que o extrativismo é uma opção de sustentabilidade da natureza e das comunidades que interagem com ela.
O movimento de Economia Solidária vem trabalhando no estado, com a certeza de que para haver em uma comunidade o Desenvolvimento Local, é importante a confiança, a cooperação a solidariedade entre as pessoas, o despertar de suas capacidades e a valorização das potencialidades locais, bem como, a responsabilidade da comunidade na sustentabilidade biológica local.
Temos consciência que a transição para uma sociedade sustentável é um problema de consciência do grupo que começa na mudança interna das pessoas, nos sentimentos de solidariedade, no compromisso do ser humano com os demais e com a natureza e para exercitar isso investimos na criação dos Núcleos de Base do Movimento.
O desenvolvimento local que acreditamos ser sustentável no cerrado deve contribui com novas formas de produzir, dividir riquezas, materializar a cidadania, a democracia e a sustentabilidade da comunidade para que ela tenha “de que viver” e “razões para viver”.
Tentando dar resposta a problemática da comercialização, criamos em Campo Grande, a Central de Comercialização de Economia Solidária, que reúne produtos de diversos núcleos, rurais e urbanos, de quilombolas e indígenas, facilitando a comercialização. E nesta nossa experiência priorizamos, além da comercialização, as articulações que acontecem no espaço da Central, e isso tem sido relevante para o desenvolvimento da economia solidária no estado.
Sou feliz por ter nascido no cerrado, e mais ainda, por poder contribuir com uma maneira de viver, produzir, comercializar, consumir no cerrado, sem agredi-lo, buscando recuperá-lo aos poucos.