Fonte: Imprensa – Jornada de Agroecologia (13/05/2004)

Ponta Grossa, PR (12/05/2004) – Na abertura do terceiro encontro da Jornada de Agroecologia, esta manhã, em Ponta Grossa, PR, os discursos foram marcados por duras críticas às multinacionais ligadas ao setor da alimentação e por recados de "alerta" ao governo federal. Também repercutiu entre os participantes do evento a notícia sobre a suspensão das importações de soja de empresas brasileiras pela China, após rejeição de um carregamento de 59 mil toneladas de soja contaminadas por agrotóxicos. Segundo um dos coordenadores da Jornada, Roberto Baggio, "esse fato é prova material de que não há espaço, no mercado internacional, para a comercialização de alimentos envenenados e, muito menos, transgênicos". Baggio completa que "nenhum governo ético e responsável pode colocar em risco a saúde da sua população".

O conferencista Plínio de Arruda Sampaio, ex-deputado federal e presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA), foi um dos conferencistas que criticou "a recente especulação no mercado financeiro", que, segundo ele resultou "custou ao Brasil uma perda da ordem de 10 bilhões de reais". "Isso é quase a metade do orçamento da reforma agrária brasileira", reafirmou Sampaio. A opinião foi compartilhada pelo Secretário Nacional de Comunicação da CUT, Antônio Carlos Spis, que participou da abertura do evento e da primeira mesa de debates.

À tarde, o professor universitário e membro da Fundação Juquira Candiru, Sebastião Pinheiro, abordou o tema da mercantilização da natureza: "os recursos naturais viraram mercadoria e as políticas públicas se voltaram apenas para o tal setor do ‘agronegócio’, esquecendo que mais de 70% dos alimentos produzidos no país vêem das pequenas propriedades familiares e dos assentamentos de reforma agrária", disse. Participaram também da solenidade de abertura do terceiro encontro da Jornada de Agroecologia o prefeito de Ponta Grossa, Péricles de Melo, os deputados estaduais Elton Welter e Padre Paulo e o vice-Presidente da CPT Nacional, Dom Ladislau Biernask.

Para José Maria Tardin, também coordenador da Jornada de Agroecologia, "o evento está sendo marcado pela unidade entre as organizações da agricultura familiar, da reforma agrária e luta pela terra, ou seja, da agricultura camponesa, que defendem a agroecologia como modelo de agricultura sustentável". As estimativas da Jornada dão conta de que mais de quatro mil famílias, apenas na região Sul do Estado do Paraná, adotem sistemas agroecológicos na produção de alimentos. No Paraná, esse número sobe para mais de 50 mil famílias que fazem experimentos de preservação de sementes crioulas, com matriz agroecológica. Para Roberto Baggio, "isso acontece também em função da necessidade, pois os altos custos da produção convencional vêm estimulando os próprios agricultores a implementarem seus campos de sementes e a selecionarem as melhores variedades a serem plantadas nas safras futuras".

No segundo dia de atividades (13/05), estão previstas conferências com o representante da Via Campesina no Brasil, João Pedro Stédile (do MST), o antropólogo Alfredo Vagner (da UFF/RJ), o Padre Inácio Neutzling (Instituto Humanitas/Unisinos), a ambientalista Teresa Urban e o representante da AS-PTA, Jean Marc Von der Weid. No sábado, dia 15/05, acontecerá a comemoração de um ano da ocupação da área "ex-Monsanto" em Ponta Grossa, rebatizada de Centro Chico Mendes de Agroecologia, que, agora, produz sementes crioulas de milho, feijão e arroz, sem o uso de agroquímicos.

Jornalista: Thea Tavares (MTb 3207 – PR). Sala de Imprensa da Jornada: (42) 239-3958 e (42) 239-5437.

Entidades Promotoras da Jornada de Agroecologia: AOPA – Associações da Agricultura Familiar – STR’s – AS-PTA – Assesoar – CPT – Cre$ol/Baser – Deser – Fetraf-Sul/CUT – Fórum Centro-Sul – Fórum Oeste – IAF – MAB/CRABI – MPA – MST – Rede Eco Vida – Rureco – PJR – OMTR – Terra de Direitos.