Fonte: http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=4718.
Vivemos tempos de memória. Memória da tragédia da ditadura. Memória de crimes encobertos pela transição conservadora. Tempos de choro, de reflexão, de luta pela justiça, de projetar um futuro que não repita os erros e as injustiças do passado. É tempo da Comissão Nacional da Verdade e da negação máxima à qualquer tipo de insinuação de retrocesso. É tempo de desculpas e não de estupros.
À sociedade brasileira cabe cassar o deputado estuprador assumido. Que se utilizar de uma arma, “banalizada pelas torturas da ditadura” contra uma deputada, símbolo da luta pelos direitos humanos e consequentemente contra todas as mulheres. Cabe à nós cassar Jair Bolsonaro, pelo seu desrespeito, pela ameaça, pelo insulto, pelo machismo e pelo crime que cometeu. Crime contra a humanidade ao incitar este tipo de comportamento.
Que nos sirva como o maior exemplo de que o trabalho da Comissão Nacional da Verdade deve ser continuado e levado às últimas consequências, que só podem ser benéficas aos povos brasileiros.
É uma obrigação ética reformar a lei da anistia, não podemos permitir que continuem a surgir e se fortalecer bolsonaros pelas sombras de nossas memórias ocultadas pelos dominadores.
Vamos atrás dos 464.572 eleitores e eleitoras, principalmente elas, que votaram neste ser, para explicar-lhes porque assumimos esta posição e para explicar-nos como pudemos permitir que até o dia 10 de dezembro de 2014, 50 anos depois do Golpe Militar, ainda existe tal manifestação de insulta à dignidade humana.
É o mais límpido exemplo de que não podemos paralisar os passos no caminho de recontar nossa história.
Não podemos ter a narrativa de nossas vidas sequestrada pelos torturadores institucionais. Não se trata de “violações de direitos”, e sim de tortura institucionalizada como sugere a Anistia Internacional à CNV.
Não podemos negar que nossa vitória é legítima, é contra a ditadura, é pela democracia, é por uma sociedade justa, é pela igualdade, liberdade, solidariedade, como defendida historicamente pelos socialistas e comunistas, que se tornaram alvo, às sombras da ditadura daqueles tempos, e que tem se projetado sobre os tempos atuais.
Que nos sirva de exemplo e que possamos aprender com o que poderá acontecer caso deixemos de defender o bolivarianismo venezuelano como um movimento de humanização da sociedade, que critica a mercantilização de bens essenciais, de direitos, do território, das sementes e da vida. Não somos, mas queria que fossemos bolivarianos também.
É hora de exaltar a história linda e digna do povo cubano. De mostrar que parte daquele povo, seus medicos e medicas, vem nos dar uma lição de humanidade, vem nos salvar do que se tornou nossa medicina, mercantil.
É hora de barrar a derrubada da participação social no Congresso Nacional contra a qual se entoa, como pecha, o bolivarianismo que desejamos que ela representasse, mas não representa.
É hora de bradar que queremos mais mudanças, e por isso não estamos contentes com uma estratégia, já esgotada, de conciliação concretizada a 12 anos pelos nossos governos federais.
Eles mudaram o país? Sim. Para melhor? Sim. Mas não o necessário e nem o suficiente. E nossa memória pode provar isso em 13 caracteres: junho de 2013.
Sei que é difícil interpretar o movimento histórico do qual fazemos parte no presente, justamente por estarmos envoltos consciente e inconscientemente pelo mesmo.
Mas as lições históricas são muito nítidas neste momento, neste entusiasmante dia internacional dos Direitos Humanos: 10 de dezembro de 2014.
O constrangimento e a vergonha que sentimos, por ter entre nossos 513 parlamentares um defensor obsceno da ditadura, da putrefação humana, é a mesma das derrotas que sentimos estar sofrendo, quando mais de 50 milhões de pessoas optaram pelo voto na candidatura que flertou com gente que defendeu e defende a ditadura.
Em tempos de memória, precisamos recontar nossa história, afirmar nossa identidade como trabalhadores e trabalhadoras, como maioria da população brasileira, reinventar um socialismo nosso, assumir lado, e fazer a mudança, com participação social, reforma política e das comunicações, com repúdio aos bolsonaros, e a quem quer que reivindique uma intervenção militar neste cinquentenário. Vamos pra frente, para o futuro, com um projeto de país democrático e popular. Temos todas as condições para fazer isso e surpreender. Às vezes até a nós mesmos.
Abaixo à ditadura hoje e sempre!
Pela desmilitarização das polícias!
Viva a democracia e o projeto democrático popular do Brasil!