Fonte: http://www.expressomt.com.br

Nas últimas décadas o mundo tem vivido mudanças estruturais, de ordem econômica e social, ocasionadas principalmente pelo modelo neoliberal de desenvolvimento e a globalização da economia. Estas mudanças fragilizaram as relações tradicionais de trabalho adotadas, até então, pelo capitalismo, aumentando a informalidade e trazendo uma conjuntura marcada pelo desemprego. Neste contexto, onde é perceptível o acirramento da crise, os trabalhadores se sujeitam à ocupações que excluem seus direitos sociais em troca de garantias mínimas de sobrevivência.

Mas nem tudo é negativo no atual quadro de aprofundamento da crise, que acaba gerando espaço para o surgimento e avanço de outras formas de organização do trabalho, ocasionada, principalmente, pela necessidade dos trabalhadores encontrarem alternativas de geração de renda. Experiências coletivas de trabalho e produção vêm se disseminando nos espaços rurais e urbanos, através das cooperativas de produção e consumo, das associações de produtores e instituições financeiras voltadas para empreendimentos populares solidários, entre outras formas de organização.

Influenciado pelo movimento cooperativo do sul do país, Mato Grosso viu surgir, nas duas últimas décadas, cooperativas de crédito, associações de produtores voltados para agricultura familiar, linhas de financiamento solidário para pequenos negócios, e incubadoras que trabalham na criação de empreendimentos coletivos. Entre estas incubadoras está a ARCA Multincubadora que funciona no campus da UFMT, em Cuiabá, instituição responsável pelo surgimento de várias cooperativas na baixada Cuiabana, como a Coorimbatá (Cooperativa dos Pescadores e Artesãos do Pai André e Bom Sucesso).

O segmento de compostagem, reciclagem e reaproveitamento de resíduos sólidos também fez surgir em Cuiabá, e em outros municípios de Mato Grosso, uma série de empreendimentos ligados à economia solidária. Entre estes se destaca a Coopervv- Cooperativa Conexão Verde Vitória, que trabalha com compostagem de resíduos orgânicos e geração de renda para famílias e moradores do bairro jardim Vitória. Atualmente a Coopervv conta o apoio do Projeto Espaço Vitória: geração de renda e gerenciamento de resíduos, projeto patrocinado pela Petrobras que incentiva atividades socioambientais ligados à economia solidária e inclusiva.

Segundo a líder do movimento de catadores de materiais recicláveis de Mato Grosso, Valquíria Pereira, o recente fechamento dos lixões, determinado pela lei que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, vem motivando a abertura de várias associações e cooperativas ligadas ao setor. No estado já são 32 cooperativas de catadores organizadas e 30 em processo de regularização. Um movimento que gera renda e inclusão social para mais de mil famílias.

A economia solidária tem recebido, nos últimos anos, investimentos consideráveis de governos municipais e estaduais. O número de programas de economia solidária tem aumentado no país, impulsionando as iniciativas de comercialização e empreendedorismo populares, a abertura dos bancos do povo e o surgimento de cooperativas ligadas a setores diversos, como economia criativa e a agricultura dos pequenos produtores.

Com o objetivo de fortalecer e divulgar a economia solidária no país o Governo Federal criou em 2003 a Secretaria Nacional de Economia Solidária, órgão governamental responsável pela implementação de políticas públicas integradas, voltadas à geração de trabalho e renda para trabalhadores e famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

De modo geral a economia solidária resgata as lutas históricas dos trabalhadores iniciadas no século XIX, lutas que deixaram como legado o cooperativismo, movimento de resistência contra a exploração do trabalhador provocada pelo avanço dominante do capitalismo industrial. No Brasil a economia solidária ressurgiu, no final do Século XX, como uma alternativa dos trabalhadores frente as novas formas de exclusão e exploração surgidas contemporaneamente no mundo do trabalho.