Por Jose Celso Carbonar (jcarbonar@hotmail.com)
O Segredo de Luisa e o sonho de Luiz
Uma menina cria a sua própria empresa aos 11 anos de idade. Uma paixão ao ensinar o empreendedorismo e ter a escola como base para que a vida seja também base para o empreendedorismo. Luisa está neste contexto. As mulheres têm um dom natural para empreender, pois se assim não fosse não existiria a humanidade.
Os homens têm seu papel em todo o processo de vida empreendedora para que a obra, a arte seja cada vez mais perfeita. Colaboração, cooperação e solidariedade são insumos básicos para que a vida empreendedora não fraqueje, não fracasse. Isso é universal e a natureza é exemplo vivo que justifica a afirmação.
Podemos naturalmente compreender que sem preparo, sem vontade, sem cooperação, sem esforço, sem colaboração, sem liberdade, sem solidariedade os empreendimentos não se firmam de forma mais duradoura e as relações sociais se tornam frágeis.
Temos visto reações de um lado, incentivos por outro, para o estímulo e desenvolvimento do empreendedorismo. Quando esse empreendedorismo está descolado do processo da vida, do meio ambiente, do presente e com visão para um futuro melhor, aí sim pode haver reações porque a vida estará sendo posta em perigo.
Optamos sempre por algum caminho, por onde talvez seja até o mais difícil. Hoje vendo que apenas 85 empreendedores econômicos no mundo detêm a riqueza correspondente a 3,5 bilhões de pessoas, podemos pensar que muitas vidas estão sendo postas em dificuldades extremas e algumas vidas se isolando do contexto, da sociedade (pelo poder de concentrar riquezas) e podem até estarem sendo jogadas ao isolamento social e causando uma degradação humana. Enfim, ficam refém do próprio processo que dominam. Não há vantagem para ninguém. Outro modelo de desenvolvimento há que ser pensado.
Pensemos de forma racional: se a humanidade hoje fosse composta por esses 3,5 bilhões de pessoas mais esses 85 indivíduos empreendedores econômicos que acumulam e concentram tudo, como seria a vida no planeta terra?
Então, é lógico pensar, que reproduzir a lógica que levou a esse “espetacular” (caso de) sucesso: 85 pessoas acumulando a riqueza de praticamente todos seria um possível extermínio natural completo.
Os 3,5 bilhões de seres humanos, no caso, viventes até na extrema necessidade, necessitariam de qual tipo de empreendedorismo? Empreendedorismo vital? Empreendedorismo social? Empreendedorismo coletivo? Parece que só temos pensado em empreendedorismo econômico e os empreendimentos econômicos não dão conta, na lógica da maximização do lucro, sem regras de partilhas e com o pouco retorno via contribuições de impostos ao desenvolvimento da sociedade, temos que pensar diferente, de forma criativa.
Os 85 mais ricos da terra e os 3,5 mais necessitados, mais pobres, do planeta precisam ser socorridos. Todos estão na iminência de adentrarem num processo de indigência material e social. Sem falar na indigência moral e até espiritual. Poderemos estar caminhando para o abismo, para uma hecatombe social.
Inovações e novas tecnologias que não derem retorno à vida do homem no planeta e somente embriagarem poucos pelo consumismo e concentrações, satisfazendo egos e vaidades, têm que ser repensadas. Evidente que estamos num período de vida melhor e usufruindo de muitos legados que nos foram deixados. Não há como esquecer disso.
A sociedade, os trabalhadores, pois somos todos trabalhadores, não escapa ninguém dessa lógica, muito embora não aprovemos os trabalhadores jogadores, os trabalhadores especuladores, trabalhadores intelectuais, os trabalhadores capitalistas e trabalhadores braçais. O mundo é do trabalho e não apenas dos trabalhos operários, assalariados ou não. No entanto há que ser sempre trabalho digno e decente.
Como pensar então outro modelo de desenvolvimento com outras relações de trabalho, com outras relações sociais? As mulheres pensam e sentem a vida de forma melhor que o homem. Preocupam-se (as mulheres) naturalmente com a vida, pois povoam o planeta.
Amigo Luiz você se apaixonou não pelo “Segredo de Luisa (F. Dolabela)” ou pelo “A Ponte Mágica” (F. Dolabela), mas tinha no coração, sentindo com muito carinho, a experiência do Banqueiro dos Pobres (Muhammad Yunus), e se apaixonou pelo Projeto Desenvolve Palmas: Promovendo o Desenvolvimento Sociocomunitário. Já tinha sentido e compreendido a força de finanças solidárias (à exemplo do Banqueiro dos Pobres) para salvar esses 3,5 bilhões colocados em dificuldades pelo modelo da ideologia dominante. O município de Palmas tem muito desses (cidadãos) colocados em dificuldades pela concentração de riquezas e falta de oportunidades. Esse fato é presente em todas as cidades brasileiras.
O amigo Luiz se foi. Foi dedicar mais tempo a si mesmo, da vida e de sua saúde. Seus legados são inúmeros para nós, para o Estado do Tocantins e para o Brasil. Inegável. O Desenvolve Palmas precisa seguir, naquela lógica que você defendia e incentivava.
Quem agora irá compreender que não pode estar no mesmo sentido, na mesma lógica, na mesma subordinação do pensamento representante dos 85 privilegiados? O Centro de Inovações e Tecnologias Sociais tem tutor natural que entendeu e compreendeu, mas você se ausentou de nós por algum tempo. Não temos dúvida que outros irão continuar esse projeto de vida para Palmas.
O Centro Público de Economia Solidária é a base para o Centro de Inovações e Tecnologias Sociais de Palmas. A sociedade precisa exercer seu protagonismo, seu empreendedorismo vital, social, coletivo, ambiental, cultural e também o econômico para que a vida seja mais equilibrada e digna para todos. É o momento do empoderamento social, o saudável exercício da democracia direta, horizontal, endógena. Seu pensamento estava nessa indicação e vamos continuar ampliando-o para que ganhe mais e mais adeptos.
Se o Centro Público de Economia Solidária ficar como um apêndice de um Centro de Inovações e Tecnologias (duras) exclusivamente para o desenvolvimento econômico, para maximizar lucros e apenas gerar “empregos”, podemos perder tempo, esforço, energia e recursos se esquecermos do desenvolvimento sociocomunitário.
Amigo Luiz, o seu pensamento ficará vivo entre nós e vamos com certeza encontrar muitos “Luizes” daqui para frente para que a boa ideia receba mais pensamentos que a ampliem e a realidade, a finalidade do projeto Desenvolve Palmas não seja desviada, não seja distorcida ou tergiversada para contemplar poucos com o sacrifício de todos.
Não será esquecida a sua recomendação: atuar no empreendedorismo social e coletivo, com a garra e força das mulheres (e hoje é 08 de março) assim como o Banqueiro dos Pobres fez e mereceu o prêmio Nobel de Economia. O seu prêmio amigo Luiz já está já gravado no coração de todos nós para sempre (a gotinha vai transbordar em breve)
Um grande abraço amigo Ministro Luiz Carlos Borges da Silveira e até breve.