Fonte: Brasil de Fato
Em ciclo de debates em São Paulo, a ex-militante do partido dos Panteras Negras (Black Panthers), Ericka Huggins, falou sobre o genocídio da juventude negra da periferia, os sacrifícios que os negros passam para entrar nas universidades públicas e sobre as perseguições às religiões de matrizes africanas. Explanou também sobre o machismo, que sempre esteve presente na época do partido, mas que os homens o combatiam diariamente. “Mulheres pegavam em armas e homens trocavam as fraldas”, disse.
Entre as pessoas que tiveram o contato com a ex-militante, o sentimento enobrecedor de coragem, resistência e persistência na luta cotidiana foi unânime.
“Ela mostrou que a luta é justa, válida e possível. Ela deixou bem claro que veio da periferia e se orgulha disso. Praticamente, nos intimou a escrevermos nossas próprias histórias através da luta popular”, relata Irenita Ferreira, militante do movimento Juventude Libre. Ela e mais cerca de 250 pessoas lotaram o auditório de Geografia da USP. O evento serviu como lançamento público do Coletivo de Estudantes Negros da USP, cujo manifesto foi lido ao final sob intensos aplausos dos presentes.
Ericka entrou para o Partido dos Panteras Negras aos 15 anos. Em 1969 – com 18 anos de idade – se tornou uma das líderes da célula do partido junto ao seu marido John Huggins, em Los Angeles. Um ano depois, seu companheiro foi assassinado, deixando uma filha recém-nascida. Mesmo com todas as dificuldades, permaneceu no partido e até hoje continua lutando. Éricka retornou aos estudos, pois acredita que a educação é uma arma revolucionária, assim como a cultura.
O partido Black Panther
O ‘Black Panther Party’ foi fundado em 1966 em Oakland, na Califórnia, por Huey Newton e Bobby Seale. A finalidade original do partido era patrulhar os guetos negros para proteger os residentes dos atos de brutalidade da polícia.
Os Panteras tornaram-se eventualmente um grupo revolucionário marxista que defendia o armamento de todos os negros, a isenção no pagamento de impostos e de todas as sanções da chamada “América Branca”.
Mais que a defesa das comunidades, o partido também mantinha escolas de formação política e treinamento de artes marciais para crianças e jovens, além de um programa de segurança alimentar para as famílias mais pobres.
No entanto, o crescente número de prisões esvaziou gradativamente a ação do partido. A polícia agia cada vez mais com severidade. A hostilidade empregada foi tamanha que o próprio Congresso abriu investigações sobre a ação policial.
De toda forma, os Panteras foram reprimidos, suas lideranças dissolvidas e o movimento perdeu a simpatia dos negros. A mudança no cenário fez com que os remanescentes do partido abandonassem a violência das reivindicações e adotassem estratégicas políticas convencionais e a prática de serviços sociais para a população negra.
Com atividades mais discretas, porém, mais funcionais para suprir as carências dos negros, o partido dos Panteras Negras manteve-se ativo até a década de 1980. (*com informações do blog Juventude Libre)