Fonte: Tatiana Félix*
Uma das presenças mais esperadas no Seminário “Crédito Produtivo para mulheres do programa Bolsa Família”, realizado pelo Instituto Palmas, na Assembleia Legislativa do Ceará, na última quarta-feira (16), foi a do secretário nacional de Economia Solidária, Paul Singer.
Ele iniciou sua participação comentando que este é o primeiro evento ‘bem feminista’ que está participando neste ano, e ressaltou a capacidade que as mulheres têm de se organizarem coletivamente e a emancipação que elas vêm conquistando ao longo dos anos.
Mas, segundo ele, também é importante que a juventude masculina se organize e se capacite, para reagir contra a cultura machista que ‘esterilizou os rapazes’, pela crença de que apenas os homens deveriam trabalhar para sustentar a família. Com a emancipação feminina, segundo Singer, muitos homens ficaram sem saber que papel deve exercer.
“Temos toda uma geração de jovens, não tão jovens, homens, que precisamos de alguma maneira, conseguir resgatar. Vai ser bom para as mulheres, vai ser melhor para eles”, disse.
O secretário elogiou a pesquisa feita pelo Instituto Palmas, que mapeou o perfil das mulheres beneficiadas pelo projeto do Banco Palmas, e disse que levará a iniciativa para Brasília. Segundo ele, é importante descobrir “o que os miseráveis querem ser, em lugar de ser miseráveis”. “Há muitas opções pela vida. É preciso saber o que eles desejam”, completou.
Ele também comentou sobre a importância de o segmento mais pobre da sociedade se unir para trabalhar coletivamente, já que ‘sozinhos, não conseguem’. Segundo ele, quanto mais as pessoas se unem, mais se fortalecem, criando mais mercado estimulando, assim, outros grupos. “A vida é se dar as mãos para que os mais fracos fiquem fortes”, disse.
Para Singer, a Economia Solidária é ‘uma arma’ que tem papel fundamental no enfrentamento à pobreza e na organização do trabalho coletivo, já que permite que “as pessoas saiam da pobreza de uma forma igualitária, sem ser empregado”. Sobre as políticas da presidenta Dilma Rousseff para o setor, Singer comentou que as expectativas são as ‘melhores possíveis’, pois, além de dar continuidade às políticas do Lula, ela coloca a erradicação da pobreza como seu principal projeto.
Ele assegurou que a proposta da presidenta ‘é pra valer’ e disse que tem provas suficientes para isso, já que ele está no governo. “Estamos preparando para um ataque mortal à miséria”, avisou.
“Já apresentamos um programa dentro do Ministério do Trabalho para investir mais no setor”, adiantou, e citou como exemplo o investimento em formação profissional e na expansão do microcrédito, como forma de intervir na erradicação da pobreza. Segundo ele, essa será a maior mudança do novo governo.
Singer ressaltou ainda a importância das parcerias com a sociedade civil, feitas desde a era do governo Lula, e disse estar ‘convencido’ de que “sem o movimento social, sem a sociedade civil, nós não iremos a lugar nenhum”. “O governo sozinho não dá conta, e não é por falta de recursos, mas, por falta de conhecimento”, declarou.
Para ele, ‘país rico é país sem pobres, e não outra coisa’. Por isso, Singer acredita no papel dos bancos comunitários, que têm como foco a coletividade e a oferta de crédito para a população mais carente conseguir trabalhar e prosperar.
Paul Singer
Paul Israel Singer nasceu na Áustria, mas se radicou no Brasil em 1940. Militou no movimento sindical na década de 50 e logo em seguida se formou em Economia, na Universidade de São Paulo (USP). Tornou-se doutor pelo departamento de Sociologia da USP e desde 1996 se dedica à Economia Solidária. Professor e autor de livros, Paul Singer está à frente da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), do Ministério do Trabalho e Emprego, desde a sua criação em 2003. É considerado pelos movimentos econômicos solidários como o ‘pai’ da Economia Solidária no Brasil.
“As matérias de Finanças Solidárias são produzidas com o apoio do Banco do Nordeste (BNB)”.
* Jornalista da Adital