Por Vinicius Konchinski
Agência Brasil de Comunicação
São Paulo – Em dezembro de 1997, a crise da metalúrgica Conforja, de Diadema, forçou 300 funcionários da empresa a tomar uma decisão que mudaria suas vidas. Cansados dos frequentes atrasos de salários e vivendo sob o risco constante do desemprego, eles uniram-se e resolveram assumir o controle da companhia em que trabalhavam para manter seus empregos.
Os trabalhadores criaram quatro cooperativas e negociaram com o patrão o arrendamento do parque industrial da Conforja. Com isso, deixaram de ser funcionários e tornaram-se administradores do próprio negócio. Treze anos mais tarde, passaram a ser reconhecidos como exemplo.
A iniciativa deles é uma das mais bem-sucedidas no ramo da economia solidária do país. As quatro cooperativas criadas em 1997 acabaram formando a Uniforja. Mais tarde, esta associação de cooperativas transformou-se em um empreendimento que acumula lucros nos últimos dez anos, com exceção de 2008, ano em que a crise mundial acabou afetando a economia brasileira.
“Lucros não, sobras”, corrige o cooperado da Uniforja e atual presidente da organização, João Luis Trofino. “A Uniforja não é uma empresa, portanto, não tem lucro. Tem sobras, que são divididas entre todos os seus cooperados igualmente”.
A Uniforja produz peças que são usadas por indústrias petroleiras, de gás, automotiva pesada e de energia. Entre os clientes estão a Petrobras, a Caterpillar e a General Electric.
Na Uniforja, independentemente da função exercida, todos os trabalhadores recebem a mesma participação dos resultados da empresa. O salário, ou melhor, retirada mensal é que varia conforme o cargo que cada um exerce na cooperativa.
Lá, os 300 cooperados são donos de uma cota do empreendimento. Eles trabalham com 170 pessoas, que são funcionárias da cooperativa. Contudo, enquanto os funcionários recebem seu salário e são contratados conforme manda a legislação trabalhista, os cooperados são co-administradores da fábrica e obedecem um regimento interno elaborado por eles mesmos.
Todas as grandes decisões na Uniforja, são tomadas por todos os cooperados, em assembleia. Grandes investimentos, obras e até a direção da empresa são definidos em votação na qual os cotistas têm votos com o mesmo peso.
Desde a criação das cooperativas, essa fórmula é aplicada. Segundo Trofino, ela é um dos motivos do sucesso da Uniforja. “Todos têm liberdade para falar e ajudam a decidir as estratégias da empresa. Fica mais fácil de acertar”.
Tida como modelo, a Uniforja agora exporta sua experiência. Inspirados nela que 21 funcionários da fábrica de equipamentos para laboratório Lawes decidiram assumir no ano passado o controle da empresa, que faliu. Fundaram a Unimáquinas.
Marcos José Lopes é presidente da Unimáquinas. A cooperativa está iniciando suas atividades e recebeu em setembro suas primeiras encomendas. Desde então, os cooperados trabalham sem receber nada, na esperança de que o sucesso dos empreendimentos solidários não seja exclusividade da Uniforja. “A gente trabalha pensando no amanhã”, diz ele. “É melhor chorar no começo para sorrir no final”.