Por Esther Vivas (Tradução: Paulo Marques)
Ano após ano se repete o mesmo ritual: chega o Natal e com ele os cânticos ao consumo e a compra sem limites. Nos dizem que necessitamos mais para ser mais felizes. Mas, isso é certo? Na realidade, e em um contexto de crise ecológica e climática global, de transbordamento dos limites do planeta, de desperdício coletivo…, deveríamos repensar nosso modelo de consumo e avançar no sentido de uma cultura de “melhor com menos”, combatendo um consumo excessivo, antiecológico, supérfluo e injusto, promovido pelo mesmo sistema capitalista.
Entretanto, mais além da ação individual, que tem um valor demostrativo importante e que aporta coerência a nossa prática cotidiana, é fundamental a ação política coletiva, rompendo o mito de que nossas ações individuais por si mesmas geram mudanças estruturais. No âmbio do consumo, por exemplo, podemos participar em grupos e cooperativas de consumo agroecológico, que a partir de um trabalho autogestionado, estabelecem relações diretas entre consumidores e trabalhadores rurais, evitando intermediários, promovendo relações de confiança e levando a cabo um consumo ecológico, solidário e de apoio ao mundo rural.
Mas é fundamental que esta ação política transcenda o âmbito do consumo, ir mais além, e estabelecer alianças entre diferentes setores afetados pela globalização capitalista e atuar politicamente. A situação de crise sistêmica do capitalismo, com suas distintas facetas: ecológica, financeira, alimentar, de cuidados, energética… faz mais necessário que nunca esta ação política coletiva. A criação de alianças entre trabalhadores rurais e urbanos, mulheres, imigrantes, jovens… é uma condição indispensável para avançar para esse “outro mundo possível” que preconizam os movimentos sociais.
Com este objetivo diferentes organizações estão convocando uma greve de consumo para o próximo 21 de dezembro. Se trata de não adquirir nenhum produto ou serviço durante esse dia para expressar um rechaço claro a um sistema capitalista que nos têm conduzido a uma crise global sem precedentes, e que conta com o apoio explícito de governos e instituições, mais interessadas em privatizar os serviços públicos, cortar salários e ajudar os bancos e as empresas privadas, que em apoiar quem mais necessita.
Motivos para sair as ruas não faltam, mas sobram.
Esther Vivas é co-autora do: “Del campo al plato” (Icaria ed., 2009).
Artigo publicado en El Punt, 18/12/2010.
Traduzido para o blog www.brasilautogestionario.org