Por Lília Diniz – Artista Maranhense
Eu que empunho bandeiras
na minha poesia
ouço inerte
teu grito
Assino manifestos
falo com dois ou três
juntos recolhemos
o ensaio de um grito
que poderia queimar
os bigodes do diabo.
Não tenho um prato de justiça sequer
para aplacar o que te devora por dentro
não tenho sequer desapego ao prato
que continua vazio
na lavoura minguada
dos dias esfomeados .
Eu que leio Maiakovski
canto Garcia Lorca
sou incapaz de ir além dos versos
não tenho coragem de ofertar
minhas mãos de poeta
ao machado perverso
dos coronéis.
O tempo se arrasta
manchado do teu sangue
e de outros Manés e Margaridas
que fizeram do próprio medo
motivo pra seguir na batalha
Enquanto o senhor da morte
continua lavando o ventre da terra
com sangue e agrotóxico.
Mata pássaros!
Extingue bichos!
Esquarteja gente!
na monocultura do poder.
Os que já foram teu escudo
hoje te apontam rifles
com balas de arame farpado
te lançam punhais
enferrujados pelo sangue
dos atraiçoados.
Não sei fazer outra coisa
senão poemas
que não resolverão nada
que não aplacarão sequer
a vergonha que sinto deste medo
costurado sob os mulambos de minha pele
Me agasalho em bandeiras
desbotadas de medo
com a covardia natural
aos nascidos à fórceps
sob o sol de um maranhão
dominado pelo chicote da mentira.
E não me calo
mil vozes gritam
dentro de mim
embora minha poesia
não consiga decifrar os código secretos
da tua coragem.
Engana-se rica poeta
Tua poesia demonstra muita coragem. Quem dera tivesse eu tua competência em poetar!