Fonte: Revista Fórum*
É nas periferias que, por vezes, surgem novas idéias de transformação social, disse Boaventura de Sousa Santos, da Universidade de Coimbra. Por isso, ele afirmou que é preciso olhar para o que não está no centro da dominação, ou seja, para as cidades periféricas. As ideias do sociólogo foram expostas no Seminário Internacional Metrópoles Solidárias – Sustentáveis e Democráticas, realizado em Canoas, cidade na região da Grande Porto Alegre, que participa do Fórum Social Mundial deste ano.
No dia 26, durante o evento que debate como impulsionar formas inovadoras democráticas e inclusivas de gestão local, Boaventura defendeu não só o Orçamento Participativo, como uma democracia participativa. “O Orçamento como é feito hoje é antidemocrático. Aliás, a democracia representativa é falsa, porque é pouca, nós precisamos da democracia participativa, que não se limita ao Orçamento. As prefeituras podem, por exemplo, inovar nas prestações de serviço contratando grupos ligados à economia solidária”, disse.
No entanto, para explicar como as pequenas cidades podem alcançar essa democracia de “alta densidade”, como ele afirmou, é necessário superar transições pelas quais passam o Brasil e também a América Latina. De acordo com Boaventura, ao todo são três transições que determinam a realidade do continente e têm que ser superadas.
A primeira delas é a da “ditadura para a democracia”. Embora pareça que a ditadura foi enterrada em seus porões, para Boaventura essa transição não está completa. A discussão sobre a Lei da Anistia, que não puniu os torturadores, e a criminalização dos movimentos sociais, especialmente o caso do MST no Rio Grande do Sul, foram exemplos lembrados por ele que revelam práticas ainda ditatoriais presentes nas recentes democracias latinas.
A passagem da América Latina do colonialismo para a descolonização é a segunda transição, na opinião de Boaventura. “A colonização não terminou com a independência, mas continuou com outras formas”. Um exemplo, segundo o sociólogo, é que a quase totalidade da população pobre do continente é negra e indígena. Outro ponto que ele destacou é como pequenos direitos conquistados com luta política acabam anulados pelo Judiciário. Ele chamou esse processo de “contrarrevolução do Judiciário”.
A última transição, que segundo Boaventura é a mais difícil, é do capitalismo para o socialismo. “A palavra socialismo voltou à agenda aqui na América Latina, de uma maneira nova, mas é preciso entender o que entendemos por socialismo no Século 21”, disse. Boaventura afirmou que se pudesse dar uma definição para o socialismo deste Século seria “uma democracia sem fim”.
Adriana Delorenzo
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