Fonte: Adital (www.adital.com.br)

Um projeto apresentado em 2008 ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB) tem ajudado a fortalecer uma iniciativa de economia solidária que, além da produção, busca tornar toda a cadeia econômica de trabalhadores artesãos e agricultores familiares. Apoiada e assessorada pela Cáritas Brasileira Regional do Ceará, a Rede Bodegas pretende constituir fundos de produção e comercialização solidárias, com base através de Fundos Rotativos Solidários vinculados.

O Programa de Apoio a Projetos Produtivos Solidários, do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), é fruto de um convênio assinado com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), que é vinculada ao Ministério de Trabalho e Emprego, para disponibilizar crédito e viabilizar Fundos Rotativos a ações produtivas associativas e sustentáveis que assumam o perfil da economia solidária. Os recursos do BNB são destinados através do Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR).

O projeto atende a três empreendimentos: a Budegama, em Fortaleza, capital do Ceará, além de outras duas no interior do estado: a Bodega Nordeste Vivo e Solidário, em Aracati, e a Budega do Povo, em Tianguá. O projeto BNB é voltado principalmente para garantir a manutenção dos processos produtivos dos participantes. “Ele se concretiza no financiamento dos grupos”, reforça Vanda Fernandes, assessora da Prioridade de Economia Popular Solidária da Cáritas Regional Ceará.

Na estruturação das bodegas, ela afirma ter encontrado algumas dificuldades na operacionalização da produção e, principalmente, da venda dos produtos. Por isso, foi incentivado, sobretudo nos últimos vinte anos, que os grupos trabalhassem de forma coletiva. Isso porque, além de a produção da agricultura familiar e do artesanato não ser em grande escala, a assessora lembra que a ação dos atravessadores acaba prejudicando os ganhos dos trabalhadores.

Os grupos articulados pela Rede de Bodegas privilegiam a comercialização de produtos in natura ou beneficiados com base em práticas agroecológicas, garantindo a sustentabilidade ambiental. Além disso, o escoamento da produção é realizado de forma coletiva, inclusive com a colaboração na venda, com a distribuição das mercadorias para serem vendidas nos outros estabelecimentos. “Aproveitando a experiência da Cáritas, tentamos ajudar na sustentabilidade e na autonomia dos produtores”, explica Vanda Fernandes.

Segundo ela, a ideia de fortalecer a economia solidária e de garantir a convivência com o semiárido remonta à década de 1980, quando foi promovido o primeiro seminário “O homem e a Seca no Nordeste”, realizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Segundo a assessora, um pouco depois, começou a mudar o perfil dos fundos que mantinham os projetos, a partir da criação do Fundo Rotativo Regional (FRR). Naquela época, o objetivo do fundo era contribuir para amenizar os problemas imediatos decorrentes da seca, apoiando a agricultura familiar e as organizações de trabalhadores rurais.

A nova realidade indicava a necessidade de possibilitar a sustentação às iniciativas produtivas, garantindo a aprovação de novos projetos e educar as famílias e grupos para o exercício da solidariedade. Com o amadurecimento, o crédito passou a ter uma nova forma de gestão. Antes repassados de forma emergencial, praticamente sem retorno, os recursos começaram a ser parcialmente devolvidos em forma de produtos ou em dinheiro. Assim, eram originados novos projetos e empreendimentos.

As Bodegas, hoje Cooperativas de Produção e Comercialização, nos casos de Aracati e Tianguá, são constituídas por produtores, principalmente agricultores Familiares e artesãos. A Bodega Nordeste Vivo e Solidário, localizada em Aracati, iniciou as atividades em 2004, mas, depois de cerca de dois anos, já havia montado uma filial na Prainha do Canto Verde, em Beberibe, município próximo. Os dois espaços são utilizados para a comercialização de produtos artesanais e agroecológicos.

O Projeto de Bodegas – Espaços Agroecológicos e Solidários foi constituído por produtores familiares e outros grupos acompanhadas pela Pastoral Social da Diocese de Tianguá e Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte, esta responsável pelo município de Aracati. A idéia surgiu da necessidade das comunidades em comercializarem seus produtos e com base em pequenas iniciativas em momentos pontuais como exposições, feiras na semana da solidariedade, encontros e festas religiosas.

Em agosto de 2007, houve a ampliação com o surgimento de uma nova experiência, a Budegama, no bairro Mondubim, em Fortaleza, constituída por um grupo de 10 mulheres artesãs, organizadas na Associação Mulheres em Ação (AMA). A iniciativa foi fruto de um curso de comercialização realizado pela Cáritas com a participação de artesãs. Em Fortaleza, as integrantes dos grupos produtivos estão presentes em quatro bairros, mas se organizam para alternar a responsabilidade pela administração da sede da Budegama.

Para a efetivação da ideia, os empreendimentos contaram com o incentivo e o apoio da Cáritas Regional, Cáritas Diocesana de Limoeiro. O projeto foi apoiado pela Catholic Relief Service (CRS), que apostou na experiência, financiando a estruturação dos dois espaços e a contratação de agentes de vendas e articuladores de campo.

Junto com o Conselho Gestor, as equipes Diocesanas e Regional da Cáritas deram um acompanhamento ao projeto, com perspectiva de que o mesmo se torne auto-sustentável. Além dessas, outras associações, sindicatos e financiadores foram importantes para a estruturação das bodegas. “São muitos os níveis de colaboração”, destaca Vanda Fernandes.