Fonte: Diário de Cuiabá (www.diariodecuiaba.com.br)

“De todos os animais que a zoologia estuda o homem é aquele que nasce mais indefeso e demora anos até atingir a independência relativa à primeira infância”. Com estas palavras o economista Paul Singer iniciou a sua palestra sobre Economia Solidária (ES), criticando o capitalismo que teria subvertido a vocação natural para o auxílio mútuo por uma idéia de competição inata. Seria a concepção da meritocracia (seleção), como se todos competissem em pé de igualdade e pudessem vencer, apesar dos círculos viciosos impostos pela concentração de riquezas. Singer esteve na semana passada pela primeira vez em Cuiabá. Auditório lotado no Palácio da Instrução.

Para o doutor Paul Singer, Secretário Nacional de Economia Solidária (Senaes) que é um braço do Ministério do Trabalho e Emprego, a economia solidária é uma reação ao pensamento dominante, ideológico e econômico.

Economia solidária é um conjunto de princípios de igualdade e democracia que pressupõe autoconfiança e cooperação entre pessoas diferentes com habilidades diferentes.

Segundo o professor existem moedas sociais, mas a iniciativa do Cubo Card, em Mato Grosso, é admirável e se encontra no caminho certo para o aperfeiçoamento da economia solidária. Apesar da pequena adesão das empresas privadas, as cooperativas podem dar vazão aos créditos acumulados e possibilitar o fortalecimento coletivo.

Singer é um exemplo de vida. Em seus 60 anos de militância socialista combateu o capitalismo durante quase 50 anos, com o objetivo de destruir-lhe. De 1996 para cá percebeu que a construção de um caminho alternativo é muito mais eficiente. E este caminho é a economia solidária que tem entre suas maiores qualidades a inteligência coletiva na resolução dos problemas.

“Entre o coletivo tirânico e o capitalismo fico com o segundo. Pelo menos neste, quando as pessoas saem das fábricas podem mandar no resto do seu dia” disse Paul Singer. Acreditar no coletivo não significa desprezar o indivíduo e este é um dos ensinamentos da economia solidária.

BRASIL – O último mapeamento feito pela Senaes aponta o envolvimento de dois milhões de pessoas trabalhando sob os princípios da economia solidária. Contudo, o professor Singer acredita que há muito mais pessoas praticando a economia solidária dado que os mais pobres a adotam para sobreviver. Este auxílio mútuo é muito comum nas classes de menor poder aquisitivo.

O que a economia solidária faz é valorizar as diferenças e as habilidades específicas produzindo mais e com melhor qualidade de vida para todos. A economia solidária para ele é uma proposta emancipadora, pois não há patrão, há cooperação e divisão justa e democrática do que é produzido.

Aliás, a divisão da produção é um capítulo a parte, pois não há um modelo engessado. Há uma flexibilidade quanto às escolhas tomadas inclusive dentro da própria cooperativa. Todavia o professor explicou que há quem remunere de maneira diferente os cooperados seja pelo valor do trabalho, seja pela necessidade. Ele prenuncia: “Dê cada um segundo a sua possibilidade e receba cada um segundo a sua necessidade”.

Por Cláudio de Oliveira – Da Reportagem