Fonte: Henrique Novaes (hetanov@ige.unicamp.br )

De 5 a 8 de dezembro de 2006 acontecerá em Salvador o I Fórum Nacional da Rede de Tecnologia Social (RTS). A rede nasceu oficialmente em 2004 como uma resposta mais eficaz às ações anteriormente isoladas de diversas instituições interessadas na pesquisa, utilização e reaplicação da Tecnologia Social (TS). Ela congrega 400 entidades no país inteiro (ONGs, Universidades, Ministérios do Governo Federal, etc). Ao longo desta semana, divulgaremos algumas idéias que nos parecem ser norteadoras deste Fórum.

A TS é definida pela RTS como produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social. Essa definição foi acordada após as primeiras reuniões e encontros da RTS. No entanto, para compreender em profundidade a TS, é preciso destacar os dois planos nos quais ela se realiza. Há um plano conceitual, em que a idéia de TS expressa uma concepção de intervenção social que é inclusiva em todos os seus momentos, e há um plano material, no qual cada TS é desenvolvida e difundida de acordo com as possibilidades e limitações de cada comunidade ou local.

Maiores informações sobre o Fórum podem ser obtidas em http://www.rts.org.br

No plano conceitual, a Tecnologia Social propõe uma forma participativa de construir o conhecimento, de fazer ciência e tecnologia. Propõe uma alternativa de intervenção na sociedade, que aponte para o desenvolvimento no sentido amplo desta palavra, de realização das possibilidades do ser humano. No plano material, muitas ONGs, Universidades, etc estão aplicando a idéia de TS na construção de soluções para questões sociais variadas. É a experiência levada a cabo no plano material que demonstra a viabilidade e eficácia da TS como conceito e cria a base de uma nova concepção de intervenção social. Finalmente, é na interação constante e indispensável entre os planos material e conceitual que a TS se desenvolve.

Apesar da existência desses dois planos, a idéia de TS (plano conceitual) é geralmente percebida de forma intuitiva. A maior parte das pessoas não chega ao tema pelo caminho da reflexão teórica, mas a partir da vivência e/ou sensibilização para o tema da exclusão social. Chegam em busca de ações que possam minimizar a exclusão por meio da aplicação do conhecimento: da ciência e da tecnologia. No entanto, para que a idéia de TS concretize sua intenção de inclusão, é fundamental pensar além do uso de tecnologias para atender a demandas sociais específicas. É necessário um enfoque que entenda a questão da exclusão/inclusão a partir do papel desempenhado pela tecnologia. É através desse “enfoque tecnológico” que se pode perceber como a tecnologia que conhecemos (Tecnologia Convencional) incorpora na sua construção os valores e interesses relacionados ao sistema sócio-econômico em que vivemos; o que a torna, quase sempre, uma geradora de exclusão.

Para que a idéia de TS concretize sua intenção de inclusão, é fundamental pensar além do uso de tecnologias para atender a demandas sociais específicas. É necessário um enfoque que entenda a questão da exclusão/inclusão a partir do papel desempenhado pela tecnologia. Mas esse enfoque mostra também que uma tecnologia que, desde sua concepção incorpore valores alternativos e envolva os atores sociais interessados, poderá promover a inclusão. O entendimento de que as tecnologias não são simples ferramentas neutras, mas construções sociais que possuem características influenciadas pelos valores e interesses presentes no ambiente em que são concebidas, é um elemento importante da proposta da TS.

Exemplos do passado mostram como tentativas de desenvolvimento e difusão de tecnologias alternativas podem falhar em seus objetivos de transformação social quando não são embasadas num enfoque tecnológico como o que se esboçou acima. Nos anos 1970, houve uma proliferação de defensores de tecnologias diferentes das convencionais, que integraram o movimento da chamada Tecnologia Apropriada (TA). Essas tecnologias tentavam se diferenciar daquelas consideradas de uso intensivo de capital e insumos sintéticos e poupadoras de mão-de-obra, produzidas nos países do Norte. Mas as TAs foram desenvolvidas com base em uma visão neutra da tecnologia, que não percebia a tecnologia como uma construção social. E numa concepção equivocada de que o conhecimento pode ser “ofertado” por uns e “demandado” por outros, sem o envolvimento dos atores sociais interessados.

Acreditamos que estas e outras questões poderão ser aprofundadas no Fórum, justamente para que a RTS não esteja condenada a repetir os erros do passado.