Autor: Marcos Arruda – PACS, 19/4/2005 (marruda@pacs.org.br)
O objetivo desta ficha é compartilhar o caminho que utilizei para realizar um seminário com 110 pessoas, durante dois dias inteiros. Promovido pela organização-irmã do PACS, o Cefuria, em Curitiba, versou sobre o tema: "Os movimentos sociais dos anos 90 para cá e sua relação com a Economia Solidária". Os bons resultados se devem à proporcionalidade de conseguimos entre as várias atividades que introduzimos no programa do seminário.
1. Mística
A mística de abertura é rica de simbolismo, com os participantes trazendo diversos objetos representando seus trabalhos e entrando com bandeiras dos movimentos populares presentes. Dois participantes-cantores cuidam de puxar canções na abertura e durante momentos de todo o seminário. Seleciono poemas curtos do livro Cantigas Menores, de Dom Pedro Casaldáliga, que leio no início ou no fim dos diferentes momentos do seminário.
2. Apresentações
A apresentação d@s participantes inclui – quem sou, de onde venho, que faço no movimento popular e/ou na economia solidária. Depois o animador é convidado a fazer uma apresentação mais prolongada, incluindo um resumo de sua história de vida e a narração da luta e dos sofrimentos vividos durante a ditadura e durante o exílio. Esta referência histórica é muito valorizada pel@s participantes.
3. Cochicho
Em seguida, o animador propõe um cochicho de 15 minutos sobre quatro principais desafios mais um: 1/ … da realidade paranaense. 2/ … da realidade brasileira. 3/ … da realidade latino-americana. 4/ … da realidade mundial. 5/ Um desafio a mais que lhes ocorre como muito importante. Formam-se 15 pequenos grupos, que depois relatam juntos suas conclusões escritas em papelógrafo. Cada grupo vem apresentar seu relato frente ao plenário e colar suas folhas num varal. O varal fica exposto ao longo de uma parede durante todo o seminário. O animador anota os relatos no seu caderno, em colunas, cada uma representando um desafio. Esta reflexão coletiva é muito rica e demarca o terreno temático de interesses d@s participantes. Depois do almoço, o animador apresenta uma síntese das propostas dos grupos, comentando os desafios durante uns 40 minutos. Fazendo esta sistematização ele recheia o seminário com as questões mais prementes para @s participantes.
4. Sociodrama
O momento seguinte é aberto com a proposta de um sociodrama. Com base no que o animador recolheu d@s participantes nos momentos anteriores, fica claro que os cinco temas escolhidos previamente cabem agora. Assim mesmo, o animador propõe que cada um dos cinco grupos decida se quer o tema que lhe é proposto ou algum outro que deseje. Todos seguem os temas propostos, cujos cenários são: 1/ O dinheiro atual e seu movimento. 2/ o dinheiro numa economia solidária. 3/ A produção no sistema do capital hoje. 4/ A produção autogestionária na economia solidária. 5/ Cenas de uma sociedade que pratica o consumo consciente e solidário. As crianças que acompanham seus pais no seminário participam de uma das cenas.
Dedicamos os 45 minutos finais do dia ao diálogo de decodificação das apresentações. Primeiro falam @s espectador@s, depois @s participantes de cada grupo. As reflexões surgidas do diálogo são surpreendentes.
Uma festa de dança e muita música anima a noite.
5. Reflexão com base em projeção de datashow e nos programas de rádio Trocando em Miúdos
O segundo dia é aberto com uma mística e com o programa de rádio sobre Mulheres e Economia Solidária, do CD mais recente produzido pelo PACS. Logo, a apresentação de uma projeção de transparências preparada especialmente para o seminário. Esta projeção está disponível para quem se interessar (pedir ao Pacs – pacs@pacs.org.br). Os campos temáticos incluem:
* Nomes e práticas de economia solidária (popular, social, do trabalho, socioeconomia etc.)
* Gestão e cuidado das várias casas que habitamos.
* Pressupostos antropológicos contraditórios e o que fundamenta a ES.
* Aspectos principais da realidade brasileira e mundial: desigualdade, injustiça e opressão. A globalização neoliberal. O império, suas ações e suas contradições.
* A globalização baseada na cooperação e na solidariedade.
* As práticas da economia solidária.
* As práticas dos movimentos populares, no Brasil e no resto da América Latina.
* Elementos de uma visão da economia solidária.
A tarde é aberta com o programa de rádio sobre Agricultura Familiar versus Agronegócio, dado que várias pessoas vêm de regiões e de práticas rurais de trabalho. Segue-se o diálogo em torno da projeção:
Componentes da economia solidária: consumo consciente, produção autogestionária, comercialização e trocas solidárias, finanças solidárias e moeda social, tecnologias compartilhadas, educação cooperativa, comunicação em diálogo, redes de colaboração solidária, cadeias produtivas solidárias.
* Ética, desenvolvimento autogestionário, governança solidária – três dimensões da ES.
* Estratégias relacionais da ES.
* As redes e os fóruns de ES.
* Economia amorosa.
* Tendências evolutivas da humanidade.
Antes da transparência final, abrimos espaço para depoimentos de práticas d@s participantes, durante meia hora. Alguns relatos de práticas originais merecem ser registrados em noutras fichas.
6. Encerramento
O encerramento inclui um momento de avaliação em fichas, que são trazidas para um cesto no centro do salão. Serão transcritas em computador e partilhadas com @s participantes e o animador. Uma mística muito tocante, canções, um poema lido pelo próprio poeta João Santiago, presentes e efusivos abraços.
O sentimento geral é de um evento muito rico e harmônico. O método se fundamenta na Metodologia da Práxis, que toma como essencial para o processo educativo o saber d@s participantes e atribui ao animador um papel de guia e também de educando. Concebe o saber como originado da prática teorizada d@s participantes e do animador, a ser ampliado e potencializado pela pesquisa, diálogo e descoberta. Trabalha com a integralidade do ser humano, que exige um processo educativo envolvendo o intelecto, o sentimento, a emoção e a intuição, num movimento que busca ser proporcional e harmônico. Poesia, música, sociodrama, cochicho-pesquisa, programas de rádio, relatos pessoais, reflexão crítica e propositiva, diálogo, todos estes são meios de aprendizagem que tornam a educação uma ação participativa em que todos ensinam e todos aprendem.