Fonte: http://www.jcam.com.br/materia.php?idMateria=43195&idCaderno=10, por Denison Silvan

O tema economia solidária é relativamente recente, mas a essência é velha conhecida dos amazonenses.

Sob o novo termo, as relações de reciprocidade típicas das comunidades indígenas e ribeirinhas da Amazônia, aliadas ao movimento cooperativista mundial, estão ganhando espaço nas discussões sobre desenvolvimento sustentável e políticas públicas de países da América Latina e da Europa, principalmente na França e no Brasil.

Ao aceitar convite da professora Iraildes Caldas Torres, da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) para escrever um artigo sobre o tema, nos debruçamos sobre o universo da economia solidária, um assunto que diz respeito a todos os empreendedores, pelas oportunidades que oferece. Daí nosso interesse em abordar o assunto na Coluna Empreendedorismo. O artigo fará parte de uma coletânea nacional, com dez ou 11 autores, a ser publicada oportunamente.

Recente publicação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), denominada Ação Pública e Economia Solidária –Uma Perspectiva Internacional, mostra aos empreendedores como aproveitar as idéias associativistas e o cooperativistas num contexto capitalista em que a exclusão social e a conseqüente miséria são preponderantes. Também, sinaliza aos tomadores de decisão e aos administradores públicos novas oportunidades de inserção social das camadas menos favorecidas por meio das ações preconizadas pela economia solidária.

Os autores do livro citado destacam que a economia solidária “representa práticas fundadas em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da atividade econômica”, em detrimento à concentração da riqueza nas mãos dos detentores do capital. Coloca-se, assim, a economia solidária como promotora de ações de geração de ocupação e renda em larga escala e como instrumento de combate à exclusão social.

As principais características da economia solidária são auto-gestão; valorização do trabalho humano; respeito à natureza, aspecto que garante a sustentabilidade dos empreendimentos; respeito à condição feminina e a inclusão de todos os participantes do processo nos benefícios gerados. A idéia central é que, unidos, os empreendedores têm mais chances de enfrentar as adversidades impostas pelo mercado, expandir suas atividades e gerar renda para inúmeras famílias.

Aos empreendedores, cabe salientar os exemplos de economia solidária bem-sucedidos apresentados no livro, como forma de incentivo a que essas experiências vitoriosas possam se replicar no Amazonas. Um dos setores econômicos onde a atuação dos agentes da economia solidária é relevante é o do vestuário. Exemplos vitoriosos citados no livro são a Palma Fashion, de Fortaleza, e as cooperativas populares do Rio de Janeiro e de Minas Gerais e das cidades de Caxias do Sul e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Em Manaus, o Sebrae Amazonas replica experiência semelhante, envolvendo um grupo de 45 mulheres, em sua maioria costureiras, inseridas no projeto Desenvolvimento do Setor Produtivo de Confecção do Vestuário de Manaus.

Com o intuito de fugir das políticas públicas assistencialistas, a Senaes (Secretaria Nacional de Economia Solidária), dirigida pelo economista Paul Singer, pretende ser um instrumento na luta contra a pobreza e a exclusão social, apoiando experiências de desenvolvimento comunitário e capacitando lideranças sobre esse tipo de economia. Dados dessa secretaria revelam que no Brasil existem 15 mil empreendimentos de economia solidária, dos quais 55% são associações, 27% grupos informais e o restante, 14%, são cooperativas.