Fonte: Agência Adital

Menos acesso à educação, menos acesso ao mercado de trabalho, salários inferiores. Esse são alguns dos aspectos que ilustram a real situação dos negros hoje no Brasil. Chamando a atenção para todas essas desigualdades sociais, milhares de pessoas celebrarão no próximo dia 20, data de aniversário de morte do líder Zumbi dos Palmares, o Dia Nacional da Consciência Negra. As mobilizações e atividades devem ocorrer em mais de 200 cidades brasileiras.

Este ano, em São Paulo, acontece a primeira edição da Parada Negra, que promete reunir cerca de 10 mil pessoas na Avenida Paulista, principal corredor da cidade – que tem a uma das maiores populações negras do país. A manifestação está marcada para as 12h e seguirá em direção ao Estacionamento da Assembléia Legislativa, no Parque Ibirapuera. Na pauta, mais respeitos pelos cidadãos e cidadãs negros e uma política pública mais compromissada e menos excludente.

De acordo com a agência Afropress, lideranças do Movimento Brasil Afirmativo, que desde agosto vem mobilizando para a Parada Negra, bem como os organizadores da III Marcha que reúne entidades como a Unegro, Conen e Movimento Negro Unificado, que atuam sob uma mesma agenda de atividades desde a semana passada se reuniram com os setores da Prefeitura para garantir que toda a marcha ocorra em paz e sem maiores problemas.

Segundo estimativas do Movimento Brasil Unificado, uma das organizações que realiza a Parada, outras atividades referente ao 20 de novembro devem acontecer em 217 cidades. Um dos pontos a serem explorados nos eventos diz respeito ao projeto de lei que tramita no Senado propondo que a data se transforme em feriado nacional. Atualmente, o Estado com maior número de cidades que adotaram a data como feriado é Mato Grosso, com 105. O Brasil possui 5.560 municípios.

Do Rio de Janeiro, Lúcia Xavier, do Criola, afirma que o 20 de novembro é uma data que marca a presença histórica de um herói negro, ao mesmo tempo que marca um dia de luta, de resistência. “São 35 anos indo às ruas, se manifestando contra a miséria, pela vida digna. É uma data que marca a luta, a resistência, que resgata essa presença importante de Zumbi dos Palmares”, disse.

Troféu Raça Negra 2006

Também em São Paulo, outro evento marca a celebração do Dia Nacional da Consciência Negra. Trata-se do Troféu Raça Negra 2006 que, no dia 19, na Sala São Paulo, realiza sua quarta edição, e tem o objetivo de reconhecer, exaltar, enaltecer e divulgar o valor das iniciativas, ações e realizações que tenham contribuído para a ampliação e respeito do negro brasileiro.

o troféu premia categorias tradicionais: ator/atriz, cantor/cantora, revelação e grupo musical e as institucionais homenagens póstumas e destaque especial, entre outras. A escolha dos vencedores, como já é tradição, foi feita pela população através da revista Afirmativa Plural e do site www.trofeuracanegra.com.br. O prêmio é promovido pela Afrobras – Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sócio – Cultural.

Onde você guarda seu racismo?

Já em sua segunda fase, promovida pelo Diálogos Contra o Racismo, a campanha “Onde você guarda seu racismo?” quer conscientizar e sensibilizar a população para gestos e falas do cotidiano que muitas vezes expressam algum tipo de preconceito contra os negros. Os primeiros dados mostram que o Brasil é visivelmente um país ainda muito preconceituoso, mas mostra que – ainda assim – os brasileiros não se consideram preconceituosos. Por incrível que pareça, apenas 4% dos brasileiros admitiram, em recente pesquisa, ser racistas.

Conforme a campanha, é importante que todos os brasileiros reconheçam esses momentos e comecem a trabalhar sua forma de convivência com as pessoas.

“O preconceito racial existe e faz mal para todas as pessoas, não só aos negros, mas para toda a sociedade. Além de reprovável sob qualquer ponto de vista, dificulta a superação de graves distorções sociais. Relatório lançado em 2005, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), mostra que 64% da população de baixa renda no Brasil é composta por pessoas negras, aproximadamente 25 milhões de indivíduos. Podemos ver que a pobreza no Brasil tem cor. Quase 80% de jovens assassinados(as), entre 16 e 24 anos, são homens negros. E uma mulher negra ganha quatro vezes menos do que um homem branco”, afirma o site www.dialogoscontraoracismo.org.br .

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) expressam bem a desigualdade: na área da educação, da população negra jovem com idade entre 15 e 17 anos, apenas 36% concluíram ou estão concluindo o Ensino Médio. Já entre os não-negros, este percentual é de 60%. No Ensino Superior, enquanto 57,2% dos não-negros conseguem ingressar nas Universidades, apenas 18,4% dos negros têm este acesso.

Ainda sob esse aspecto, o Movimento Negro Unificado reforça que por conta de tudo isso fica óbvio que o Estado brasileiro tem uma dívida social e histórica para com as populações negras. “A realidade do povo negro é cruel: não temos acesso ao ensino superior, mais de 10 milhões de mulheres negras já foram esterilizadas, somos a maioria dos desempregados. Como se não bastasse, a violência policial mata jovens negros em todo o país e o sistema judiciário, associado ao econômico, vem confinando negros aos cárceres, ou melhor, aos campos de concentração brasileiros”, afirma em seu site.