Fonte: http://www.agencia.fapesp.br, por Thiago Romero

Boa parte da floresta amazônica desmatada no Mato Grosso está sendo convertida diretamente para o plantio de culturas agrícolas, antes de passar pelo processo de pastagem. E o crescimento dessa rápida conversão pode estar definindo um novo paradigma para a perda de biodiversidade na Amazônia.

É o que aponta artigo que será publicado esta semana no site e depois na versão impressa da Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas). O trabalho é assinado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e das Universidades de Maryland e New Hampshire, nos Estados Unidos.

O estudo envolveu um amplo mapeamento do desflorestamento no Mato Grosso para a identificação das áreas utilizadas para a agricultura. O levantamento mostra que, de 2001 a 2004, 540 mil hectares foram convertidos diretamente de floresta natural para o plantio de culturas como a soja, o que representou 23% do desmatamento total registrado em 2003 no estado.

“O rápido crescimento do uso de áreas desflorestadas para plantação sugere que acelerar o cultivo sem necessariamente passar pelo processo de pastagem, principalmente entre as culturas que já contam com processos mecanizados, está sendo incentivado por razões exclusivamente econômicas”, disse um dos autores do artigo, Yosio Shimabukuro, pesquisador da Divisão de Sensoriamento Remoto (DSR) do Inpe, à Agência FAPESP.

Além da agricultura mecanizada na Amazônia ter crescido 3,6 milhões de hectares de 2001 a 2004, contribuindo decisivamente para o aumento do desmatamento no Mato Grosso, a conversão direta tem ocorrido rapidamente em todo o estado. Mais de 90% das áreas destinadas ao plantio começaram a ser plantadas logo no primeiro ano após o desflorestamento.

O trabalho, desenvolvido no âmbito do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), iniciativa internacional de pesquisa liderada pelo Brasil, teve como base mapas de desflorestamento, pesquisas de campo e imagens de satélites de plantações, pastos e áreas de reflorestamento.

Segundo Shimabukuro, o trabalho envolveu apenas a fase de identificação da utilização de terras. Uma análise dos impactos ambientais, o que inclui o fluxo de carbono e a fragmentação da floresta, poderá ser feita em estudos futuros, uma vez que Mato Grosso é o estado brasileiro com maiores índices de desflorestamento e produção de soja desde 2001.

“Demos o primeiro passo com a elaboração de um diagnóstico. Ainda não podemos apontar os impactos ambientais causados pela crescente conversão de áreas desflorestadas para a plantação. Essa é uma transição que precisa ter seus impactos analisados cuidadosamente”, afirma Shimabukuro.

O artigo Cropland expansion changes deforestation dynamics in the southern Brazilian Amazon poderá ser lido por assinantes da Pnas em www.pnas.org.