Fonte: http://www.brasildefato.com.br/

Em evento paralelo, movimentos sociais elaboram propostas que serão entregues aos Chefes de Estado presentes na Cúpula do Mercosul.

Um Mercosul produtivo e social. Resumindo em uma frase, esse é o conteúdo central da proposta que movimentos sociais latino-americamos levarão para os Chefes de Estado dos países que integram o Mercado Comum do Sul (Mercosul). Os presidentes de Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela – além dos da Bolívia e do Chile – se encontram em Córdoba (Argentina), a partir de quarta-feira (20), para a Cúpula do Mercosul.

“A palavra Mercosul só diz respeito a mercado, mas nós falamos de um processo de integração regional que deve avançar mais, com a incorporação da Bolívia, Chile e também Peru, Equador e Colômbia”, de integração regional que deve avançar mais, com a incorporação da Bolívia, Chile e também Peru, Equador e Colômbia”, afirmou Pedro Wasiejko, secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores Argentina (CTA), que participou do encontro dos movimentos sociais, batizado de Cúpula dos Povos pela Soberania e Integração Latino-Americana.

Mabel Melo, da Rede de Integração dos Povos (Rebrip), explica que o esforço dos movimentos sociais é pensar como os países podem estabelecer uma relação de complementaridade em diversos setores, não só no comercial. Como exemplo, cita a questão da água, grupo de trabalho de que participou no encontro. Após a reestatização da empresa de saneamento básico na Grande Buenos Aires este ano, Mabel aponta a importância da troca de experiências com municípios da América Latina que já realizaram essa transição. “Lá, discutimos experiências positivas, já que uma das preocupações dos trabalhadores do setor, na Argentina, é construir um serviço público de qualidade”, relata. No fim do evento, foi elaborado um documento, com propostas, que será entregue aos governos de cada país. “Os movimentos sociais latino-americanos têm um acúmulo muito grande na questão da integração, com o enfoque na soberania dos povos, luta pela auditoria da dívida externa de todos os países, soberania alimentar ou mecanismos de controle do capital financeiro”, exemplifica Sandra Quintela, da Rede Jubileu Sul e da Campanha Continental Contra Alca. Quintela conta que em dezembro, na Bolívia, haverá um novo encontro entre os movimentos sociais latino-americanos – ainda maior e com mais representatividade – para sistematizar e consolidar propostas de integração para o continente. Encontro Oficial O encontro entre os chefes de Estado dos países participantes do Mercosul, que se inicia no dia 20, é o primeiro após a entrada da Venezuela. Compõem também o bloco, como membros-plenos, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Bolívia e Chile são membros-associados, uma graduação inferior. Para os movimentos sociais, a presença de Hugo Chávez pode ser positiva para que o Mercosul trabalhe também em áreas sociais, e não apenas nos temas econômicos. “A agenda existente hoje nessa perspectiva é muito tímida, mas esperamos poder avançar em questões mais estruturais. O mercado comum é apenas uma ponta”, avalia Sandra. De acordo com Mabel Melo, essa é também a expectativa dos movimentos sociais presentes na Cúpula dos Povos: a de que possa haver mais possibilidades de diálogo com as organizações populares. Entretanto, pondera Sandra, os movimentos não podem nunca deixar de pressionar: “Temos que marcar nossa posição autônoma em relação aos governos, sempre propondo e mantendo a postura crítica, problematizando questões como, por exemplo, a da construção do gasoduto. Sabemos que a Bolívia precisa escoar seu gás, mas isso pode ser feito levando em conta que ele atravessará reservas indígenas?”, questiona Sandra. Pelo menos na retórica, é para onde aponta a posição de alguns governos. O ministro argentino das Relações Exteriores, Jorge Taiana, afirmou que “a integração produtiva é decisiva se quisermos um Mercosul que beneficie a todos, que não seja só concebido como uma questão comercial”, e apontou a necessidade de se criar um fundo para financiar projetos de interesse em comum entre os países. Contexto tumultuado Também é aguardada para esta Cúpula do Mercosul a presença do presidente cubano Fidel Castro, que assinará um acordo de complementaridade econômica entre a ilha e o Mercosul. A Argentina apresentará um balanço de sua gestão na Presidência semestral do bloco, no qual será destacada a adesão da Venezuela. Para o próximo semestre, o Brasil irá assumir a Presidência. De acordo com o diplomata José Felício, sub-secretário de América do Sul do Brasil, a estratégia do Brasil nestes seis meses ainda não foi definida. O Brasil assumirá o posto em uma conjuntura regional conflitiva. Nos últimos anos, os países-membros do Mercosul passaram por diversos impasses bilaterais. O governo de Néstor Kirchner (Argentina), apoiado por ambientalistas, trava uma batalha com Tabaré Vazquez (Uruguai) sobre a instalação de duas fábricas de celulose próximas ao rio Paraguai, fronteira entre os dois países. Recentemente, uma decisão do Tribunal de Haia favoreceu o governo uruguaio, que apóia o projeto, e gerou revolta na Argentina. O Chile – que ainda estuda sua adesão plena ao bloco – está insatisfeito com medidas tomadas pela Argentina que aumentam os custos energéticos e o preço do gás no país. O produto tem sido tema de debate também entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Bolívia, Evo Morales, que nacionalizou as reserva bolivianos este ano e estará presente na Cúpula. Assim como foi com a Venezuela, os movimentos sociais vêem com bons olhos uma futura adesão da Bolívia. Já Paraguai e Uruguai têm reclamado do que vem sendo chamado de “assimetrias do Mercosul”: vantagens que os países ricos (Brasil e Argentina) teriam sobre os dois mais pobres (Uruguai e Paraguai). As exportações uruguaias para o Brasil, por exemplo, já chegaram a US$ 1 bilhão e hoje não passam de US$ 500 milhões por ano.