Por Marcel Farah (http://domtotal.com/)
Uma pátria educadora enxerga a educação para além da escola. O processo de construção de uma pátria educadora não pode ser focado unicamente no aspecto escolar da educação. É preciso considerar as experiências de educação que existem para além da escola, na rua, na praça, nas redes, na mídia, no campo, e por ai vai.
Quanto à mídia, hoje mais oligopolizada do que nunca, há muito o que se desvelar em relação a nossas políticas educacionais, em relação ao sentido do que seria uma pátria educadora e em relação ao cerco que é imposto ao Governo Federal, à esquerda social como um todo e à tradição da educação como ação cultural para a liberdade.
A educação brasileira experimentou por alguns anos ser regada de utopia transformadora, com um viés emancipatório que buscava mudar as pessoas que mudariam a realidade de baixo para cima.
As experiências de educação libertadoras foram um aperitivo das políticas públicas de educação na década de 1960 com o plano nacional de alfabetização que moldava-se pela ideia de alfabetizar conscientizando.
Estas experiências estiveram presentes em diversos outros espaços fora do Estado, ligadas aos processos formativos dos movimentos sociais, das organizações não governamentais, dos sindicatos, de parte das igrejas etc, a educação popular se construiu por dentro e por fora da escola.
Não há como pensar uma pátria educadora sem considerar profundamente estes processos, e principalmente seus princípios éticos, filosóficos e políticos, de transformação da realidade, de reformas de base, de revolução.
A realidade brasileira e latino-americana é marcada pela desigualdade e pela inserção subordinada de nossas nações na modernidade. Terceiro mundo, subdesenvolvidos, “em desenvolvimento”, periféricos, são marcas da construção da identidade colonizada de nossos países. Uma educação comprometida com a melhora da vida das pessoas deve partir deste contexto para dizer o que é importante e o que não é importante estudar, e como devemos estudar e aprender.
Portanto, uma pátria educadora é um estado e uma sociedade que enxergam a educação para além da escola, e que consideram o contexto de construção histórica de nosso país e de nosso continente.
Duas questões não podem ficar de lado neste debate da educação: a educação popular, e a integração latino-americana.
Educação popular como educação contextualizada, que reverta o processo de mercantilização da educação, garanta o acesso universal, a prioridade à educação pública, e a qualidade com referência social, ou seja, de interesse da maioria da sociedade e não de apenas algumas elites empresariais. Uma educação que respeite os profissionais da educação, garante salários adequados, e não se submeta aos interesses do mercado. Uma educação para além da escola, inclusiva, que se enxergue na rua, na praça, nas redes, na mídia, no campo.
Integração latino-americana, que seja também um processo educacional, e de solidariedade entre os povos latino-americanos, como uma política de relacionamento e integração dos países da latino-americanos de forma autônoma em relação aos grandes centros de poder e dominação internacional. Com o fortalecimento da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) em detrimento da ALCA (Área Livre de Comércio das Américas).
Uma pátria educadora deve assumir uma postura que supere o colonialismo de nossos meios de comunicação, de nossa inserção internacional e de nossa tradição educacional.