Por Luísa Martins (Agência RBS)
É um novo capítulo de um velho debate. A Câmara dos Deputados já aprovou o projeto que, ao contrário da lei vigente, dispensa o símbolo amarelo da transgenia nos rótulos de produtos que contêm matéria-prima geneticamente modificada destinados a consumo humano.
Nas redes sociais, o confronto de ideias ganhou força. “Afinal, se são bons para a saúde, qual o problema de manter o símbolo?”, questionaram alguns. “Qual a necessidade da indicação tão aparente se não há malefícios comprovados?”, rebateram outros, replicando a discussão entre bancadas ambiental e ruralista.
O site do Senado Federal abriu uma enquete sobre o projeto de lei, apresentado pelo deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS). Até a noite de segunda-feira, haviam sido registrados 5.509 votos contra e 317 a favor. A consulta popular servirá de substrato para que os senadores saibam se a população apoia ou não a proposta.
Há três anos, estudo da Universidade de Caen, na França, demonstrou que camundongos nutridos com alimentos transgênicos sofrem de câncer com mais frequência e morrem antes que os demais. Neste mês, o Massachussetts Institute of Technology (MIT) realizou uma pesquisa que confere ao glifosato — um dos herbicidas mais utilizados na indústria transgênica — a capacidade de causar autismo em 50% das crianças até 2025.
Os dados são preocupantes, mas não isentos à crítica. O cirurgião oncológico americano David Gorski escreveu um artigo que contesta os estudos de correlação, que indicam a força de relacionamento entre duas variáveis (no caso, consumo de glifosato e autismo).
A correlação não necessariamente significaria causa e consequência. Seguindo a lógica do estudo do MIT, diz Gorski, o aumento do consumo de vegetais orgânicos também coincide com a maior incidência de casos de autismo, sugerindo que a metodologia da pesquisa é, no mínimo, questionável.
O assunto é díspar inclusive entre países. Tanto que a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) não se posiciona: mantém a neutralidade e evita fazer recomendações.
— O importante é incentivar os estudos, observar as experiências bem e malsucedidas e documentá-las. A FAO é como um clube, ao qual várias nações estão vinculadas. Algumas delas já têm os transgênicos adotados na legislação, outras apenas em parte e outras, ainda, os proíbem sumariamente — afirma o representante do órgão no Brasil, Alan Bojenic, lamentando: — O grande problema é que a discussão virou política.
No fim da tarde de segunda, um grupo de cerca de 30 pessoas protestou contra alimentos transgênicos na esquina das avenidas Goethe e Mostardeiro, nas imediações do Parcão, na Capital.
Zero Hora levantou os pontos mais polêmicos sobre os transgênicos e consultou especialistas para falar sobre eles. Dos contrários aos defensores, as opiniões evidenciam: ainda há muito o que se descobrir. E discutir.
Marca da discórdia
No dia 28 de abril, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que acaba com a exigência de afixar o símbolo de transgenia nos rótulos de produtos que contenham qualquer matéria-prima geneticamente modificada destinados a uso humano.
O aviso aos consumidores, de acordo com a proposta, somente será obrigatório nas embalagens dos alimentos que tiverem mais de 1% de transgênicos na sua composição final, detectada em análise específica.
Atualmente, de acordo com a lei, o símbolo amarelo com um T maiúsculo é obrigatório nos produtos que contêm ou são produzidos com mais de 1% de organismos geneticamente modificados.
Se aprovada pelo Senado e sancionada pela presidente Dilma Rousseff, a informação deverá vir da seguinte maneira: “(nome do produto) transgênico” ou “contém (nome do ingrediente) transgênico”.