Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia/254748-11
Será lançado na próxima sexta-feira (12), no teatro da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) o documentário de Antônio Olavo, A Cor do Trabalho. A sessão especial de lançamento é aberta ao público e acontece às 19 horas, em Salvador. A obra é uma iniciativa da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (Setre) e será distribuída gratuitamente em escolas e instituições públicas com objetivo de exibir o filme aos jovens.
O documentário A Cor do Trabalho é parte de um conjunto de ações desenvolvidas pela Setre desde 2007, entre as quais o Edital de Apoio à Economia Solidária de Matriz Africana, cujo objetivo é fortalecer e valorizar, de forma permanente, as raízes históricas do povo negro, nos aspectos sociais, econômicos, culturais, étnicos, religiosos e políticos.
Para o secretário estadual do Trabalho e Esporte, Nilton Vasconcelos, “o documentário registra como a união entre a solidariedade e o trabalho constituiu uma força com o poder de transformar histórias e vidas da população negra na Bahia, tornando positivas as suas vivências, superando as adversidades e servindo de exemplos e referências para as gerações posteriores”.
Milton Barbosa, superintendente de Economia Solidária da Setre comenta que o documentário resgata o trabalho do empreendedorismo negro desde a abolição da escravatura. “A escravidão deixou como herança uma população negra sem instrução que se viu, de repente, jogada às margens da sociedade porque não tinha nem educação, nem trabalho, e viu a necessidade de iniciar seus próprios negócios para conseguir sobreviver”.
Ele conta que, ao longo da história, muitos desses empreendedores foram bem sucedidos em seus negócios e é essa trajetória de sucesso que será mostrada no documentário. O papel da mulher, da família e dos laços comunitários, sociais e religiosos também é destacado na obra.
A obra
A Cor do Trabalho é dirigido por Antônio Olavo, que tem uma vasta experiência em tratar a história de resistência do povo negro na telona. O documentário levou um ano para ficar pronto, em 72 minutos conta a história de 32 pessoas negras que tiveram sucesso em seus empreendimentos e carreiras profissionais.
“Existe um legado que serviu para modificar boa parte da vida dos negros baianos, mas ainda hoje, mesmo com muitos esforços, é oculto. Este documentário mostra que o trabalho é uma contribuição para rasgar esse véu que cobre a história do povo negro”, explica.
Ele conta que muitos negros e negras serviram de referência para a criação de uma identidade do povo negro e principalmente de resistência ao modelo racista imposto pela sociedade. O documentário consiste em pequenos relatos de pessoas que estão fora do padrão mais comum de associação dos negros ao trabalho, isso porque a ideia perpetuada é do negro jogador de futebol – quando tem sucesso – , mas que de um modo geral dedica-se a funções consideradas subalternas.
A Cor do Trabalho mostra que esta não é a realidade do povo negro e incentiva os jovens a sonhar com um futuro diferente de seus pais. Das 32 pessoas entrevistadas – entre elas, médicos, psiquiatras, empreendedores de sucesso do setor metalúrgico, professores universitários – foi comum ouvir frases como “minha mãe era costureira”, ou “meu pai não teve educação, é analfabeto”. Olavo busca, através da narrativa, mostrar que a próxima geração terá uma realidade totalmente diferente. “Eles irão contar que os país eram reitores de universidades, engenheiros, pessoas que tiveram uma condição de estudar e escolher seus empregos”.
Como o filme será exibido para jovens estudantes de escolas públicas, o objetivo é mostrar que eles podem fazer suas escolhas e ser protagonistas de suas histórias profissionais. “Que o documentário sirva de espelho, para eles perceberam que é possível ocupar o espaço que eles quiserem, podem ser jogadores de futebol também, músico também, empregada doméstica também, mas podem sim ser professores universitários, médicos, reitores, entre outras funções”, disse Olavo.
O documentário busca conscientizar a população jovem e negra das oportunidades que eles podem ter através da educação e do trabalho. “A condição do negro hoje na sociedade brasileira é subordinada a preconceitos, desigualdade social e econômica. Existem outros caminhos, a educação é importantíssima para conquistar uma condição de vida melhor”, afirma o diretor.
Antônio Olavo tem uma vasta experiência em retratar a história do povo negro no cinema, ele foi o diretor de outros três documentários importantes sobre o tema, o primeiro, Paixão e Guerra no Sertão de Canudos, lançado em 1993, conta a história de Antônio Conselheiro vivendo em comunidade.
Anos depois, já em 2004, Olavo foi pioneiro ao mostrar as comunidades quilombolas no cinema. O documentário Quilombos da Bahia traz à tona uma realidade diferente, que ao longo de 12 anos, mudou consideravelmente. Segundo ele, na época do filme, apenas 3 comunidades estavam em processo de titulação, hoje já passa de 500 e 66% destas não tinham energia elétrica, atualmente, por meio de políticas públicas do governo federal, 100% contam com este recurso. O documentário é o retrato de um outro Brasil.
Já em 2008, Olavo dirigiu um documentário que narra a história de Abdias do Nascimento, e consequentemente do movimento de resistência negro no século 20.
E um novo projeto está por vir, já em janeiro de 2015 Olavo começa a rodar um novo documentário cujo objetivo é contar a história da Revolta dos Alfaiates, este contará com apoio de um edital da Ancine.