Por Ângelo Cavalcante (angelocavalcante@yahoo.com.br)
Não adianta exigir crescimento econômico se os fundamentos da economia monopolizada e oligopolizada não permitem que o produto do trabalho seja distribuído para o conjunto da população. Não adianta mirar cegamente no fetiche do crescimento econômico se os oligopólios totalitários que governam o Brasil impedem mobilidade econômica e, portanto, social. De nada vale crescer infinitamente se a potência e a virtude desse crescimento não forem disseminadas para o conjunto dos produtores nacionais, o que inclui, inclusive, as famílias.
A crise é o instituto dos monopólios e oligopólios que represam os capitais, que impedem o fluxo benéfico dos capitais produtivos adentrarem fundo pelos poros da economia, garantindo-lhe vigor, força e possibilidade de participação produtiva na totalidade da economia nacional. Não bastasse essa muralha continental e classista, tem-se, ainda a artilharia bancaria e financista de alta resolução que sorve, parasitariamente, os rendimentos do trabalho real.
De outra forma, o desenvolvimento nacional passa pela superação desses blocos antimodernizantes e que tomaram a economia nacional de assalto com a participação e anuência de seu sócio menor, o Estado. Ou nos livramos desses grilhões ou a História nacional não segue, não avança.
E sobre o tema da produção livre e para todos, nada daquela cantilena velha, nefasta e monetarista de “deixar o bolo crescer para distribuir” tão cantada pela eminência parda de Delfim Neto na terra-sem-lei dos militares golpistas. Isso, terminantemente, não funciona. Já fora abundantemente provado e, tal experiência logrou duas décadas perdidas e infames do ponto de vista econômico catapultando o Brasil, por conseguinte, para a cloaca do neoliberalismo latino-americano, perverso em toda a sua estrutura, dinâmica e latitudes.
FHC é o herdeiro direto da lógica do “bolo que cresce”; esse bolo deu tamanho para um amorfo de seis milhões de desempregados; uma quebradeira geral das empresas nacionais; o maior endividamento interno já visto por aqui. A capacidade de investimento dos Estados se limitava a servir cafezinhos para banqueiros e financistas outros; legou-nos a pior e mais delicada vulnerabilidade externa dentre os chamados grandes países; neste período, o Brasil, fora intermitentemente vitimado por longas ondas de ataques especulativos e nunca os nós da dependência da banca internacional foram tão arrochados. Boa dica acerca deste Brasil alquebrado é a leitura de Brasil Privatizado I e II do muito sério e, lamentavelmente falecido, jornalista Aloysio Biondi.
O ciclo neoliberal brasileiro, ainda não superado, teve seu ápice de cinismos e bancarrotas com Fernando Henrique Cardoso (FHC), o Príncipe da Sociologia, que desmontou, por meio da venda, doação ou empréstimo, a estrutura produtiva do país sob o mito da modernização tecnológica e administrativa e, nesse movimento, ampliou os já vastos campos ociosos da produção nacional; piorou pela distância e indiferença o fundamental dialogo com a chamada sociedade civil e seus movimentos sociais e capou e recapou a governança nacional de suas possibilidades de regulação. Desta feita, o Brasil viu-se com as melhores condições para se tornar a maior praça de especulação financista do planeta.
O que viramos, em síntese: Um fazendão parturiente de commodities à custa de trabalho precarizado, degradado e escravo e o maior balcão de remuneração dos capitais especulativos, não-produtivos, gerador de desemprego, instabilidade social e migração. A bomba macroeconômica feita por FHC é de tão difícil compreensão e desmonte que, desfazer esse artefato de nitroglicerina pura é trabalho meticuloso e de gerações inteiras.
Então… Para a compreensão do que foram os anos Lula e este tempo de governo de Dilma Rousseff só decifrando as largas fissuras econômicas e institucionais propositadamente feitas pelo vendilhão FHC e sua camarilha de banqueiros, agiotas planetários e correntistas “gold” de paraísos fiscais.
Finalmente, o crescimento nos tem sentido se a macroeconomia honrar a microeconomia. Se os grandes e altos níveis de produtividade da “plantation” brasileira se submeterem a alguma regulação séria e efetiva e garantir o conceito universal de que crescimento se converte em desenvolvimento pela ampliação e democratização da produção, pelo alargamento e incorporação de novos agentes produtivos e pela multipolaridade econômica que descentraliza capitais, viabiliza regiões e integra o próprio país.
* Ângelo Cavalcante – Economista, Cientista Político e Professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara.