Por Fagner Araújo

Nos dias 25 e 26 de outubro de 2013, ocorreu na cidade de Temuco, região de Araucanía, o Seminário e Feira “Encuentro del Tiempo Pewün para una Economía Sustentable del Wallmapu”. Evento organizado pela Red de Colaboracíon para el Emprendimiento Sustentable com Identidad, uma articulação do Centro de Innovacíon y Emprendimiento Mapuche (CIEM-UFRO), Red de Ferias y Mercados com Identidad e o Coletivo de Comunicacíon Mapuche. Colaboraram para esta realização: Mesa Regional Cooperativa Wallmapu, Cooperativa Wallmapu, Red de Economía Soldária (Ecosol Chile), Curso Economía Solidaria del Centro de Innovacíon Professional (CIP-UFRO) e o Centro de Educacíon y Tecnología para el Desarrollo del Sur (Cet Sur). Contribuições da Corporacíon de Fomento (CORFO), Corporacíon Nacional de Desarrollo Indígena (CONADI) e Fondo de Innovacíon Agraria (FIA).

Com o objetivo de gerar um espaço para reflexões e apresentações de experiências, permitiu-se uma maior visualização e projeção de modelos de empreendimentos de Economia Solidária com enfoque no associativismo, na sustentabilidade e no comércio justo da região de Araucanía (Chile) e de algumas localidades de Neuquén (Argentina).

Wallmapu é o nome dado à nação Mapuche, território localizado do sul do Chile ao Sudoeste da Argentina, território histórico, geográfico e culturalmente habitado pelos indígenas Mapuche. Pewün no idioma Mapuche significa a estação do ano, Primavera, assim seguindo as estações Walüng, Rimu e Püken que significam Verão, Outono e Inverno, respectivamente. Os povos Mapuche organizados na Red de Ferias y Mercados Com Identidad realizam encontros em locais diferentes da nação Wallmapu, de acordo a cada estação do ano para comercialização de seus produtos na perspectiva da Economia Solidária, da sustentabilidade e do comércio justo.

O Seminário realizou-se pela manhã da sexta-feira (25/10), que após as celebrações de boas vindas por representantes do CIEM/UFRO e do CIP/UFRO, foram expostas experiências latino-americanas de empreendimentos associativos e cooperativos. Flavio Chuñir Chilpe, diretor executivo da Fundacíon de Organizaciones Campesinas de Salinas (FUNORSAL), localizada na Província de Bolívar ao centro do Equador, há 3500 metros de altitude em meio à Cordilheira dos Andes. Flávio Chuñir fez uma exposição sobre aspectos da Lei de Economia Popular e Solidária no Equador, trazendo as principais características dos processos econômicos solidários impetrados na legislação. Sobre um apanhado histórico do processo de emancipação econômica de Salinas, Chuñir apresentou os estágios que desencadearam na libertação dos camponeses da escravidão da propriedade, do analfabetismo e iniciaram suas primeiras infraestruturas, tornando Salinas autogestionária, através de seus empreendimentos familiares, e que hoje detém de todo o processo de produção, exporta seus produtos e dispõem de sua própria e única instituição financeira, uma cooperativa de captação e crédito.

Por conseguinte, Fagner dos Santos Araújo, membro da Coordenação Executiva do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), fez uma apresentação do processo organizativo do FBES, uma plataforma que articula e mobiliza os diversos atores em torno do movimento da Economia Solidária e que elabora propostas para políticas públicas com base em um desenvolvimento socioeconômico solidário. Segundo Fagner Araújo, o FBES está presente em todo o país através de fóruns locais, estaduais e microrregionais que envolvem mais de 3000 organizações, dentre empreendimentos solidários, órgãos consultivos e governos estaduais e municipais através da Rede de Gestores de Economia Solidária. Para ele, o FBES colabora para a aprovação de leis estaduais e municipais, participa do desenvolvimento e implementação de políticas públicas e programas governamentais, articula e mobiliza diversos atores na criação e consolidação de várias redes e cadeias produtivas solidárias. Fagner destacou os principais desafios e conquistas do FBES em 10 anos de existência: criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária, do Conselho Nacional de Economia Solidária e a realização da Conferência Nacional de Economia Solidária. Fagner fez um apanhado do processo de implementação de programas governamentais e políticas públicas a partir do Governo Lula, da luta dos movimentos sociais pela aprovação de leis, como o Projeto de Lei 4685 que dispõe sobre a Política Nacional de Economia Solidária, em trâmite no Congresso e do necessário fortalecimento do cooperativismo solidário através da regulamentação da Lei Geral do Cooperativismo (5764/1971).

O painel seguinte tratou sobre os antigos e novos circuitos econômicos em Wallmapu na perspectiva do Kümemogen (Bem Viver), e com o objetivo de gerar instâncias de articulação e estabelecer propostas e desafios para o comércio associativo com a identidade Wallmapu, moderação de Cristian Alister (CIEM-UFRO). Seus expositores: Pedro Maimán, do Centro Cultural Liwen, trouxe contribuições e perspectivas do estudo da história Mapuche; Salvador Penchulef apresentou propostas de organizações do Município de Galvarino, Auracanía; José Aylwin, falou sobre os direitos, o Bem Viver e a necessidade de uma nova Constituição.

Sob a moderação do professor Gonzalo Silva (CIEM/UFRO), considerando tais perspectivas, foram convidados representantes da Red de Ferias Walüng para exposição das intenções alcançadas da Feria Walüng de Kurarrewe. Para apresentação dos novos modelos baseados no Kümemogen, convidou-se representantes da Red de Ferias y Mercados com Identidad, possibilitando assim, a socialização dos desafios e perspectivas para fortalecimento das Feiras de Economia Solidária das redes que integram o território Wallmapu.

Para o Dr. René Montalba, diretor da CIEM-UFRO, este contexto fundamenta a articulação entre universidades, órgãos governamentais, empresários e organizações territoriais Mapuche. Ele destacou sua satisfação com o nível das apresentações e considerou em especial, a experiência de Salinerito como exemplar, sobre a qual atribui ser uma conquista, a oportunidade dos empreendedores locais a conhecerem. Por fim, da tarde de quinta (25) à sexta-feira (26), na Praça Teodoro Schmidt, se desenvolveu a Feria Pewün, uma iniciativa que reúne o trabalho de grupos de diversos locais do território Wallmapu (Chile e Argentina), tendendo a empreendimentos econômicos que visa sensibilizar suas organizações na construção de espaços de conversas, oficinas, música e arte indígena.