Carta construída durante o 2o Encontro Latino Americano e Caribe das mulheres da economia social e solidária

Nós, mulheres, que somos a grande maioria na Economia Solidária. Somos negras, indígenas, brancas, jovens, idosas, de todas as crenças e de todos os territórios, reunidas no 2o Encontro das mulheres da América Latina e Caribe da Economia Solidária: Mulheres Transformando a América Latina, para aprofundar o debate sobre temas comuns da nossa realidade. Estamos todas produzindo ou comercializando coletivamente como catadoras, agricultoras, costureiras, artesãs, cozinheiras, doceiras, pescadoras, sociólogas, educadoras, dentistas, metalúrgicas, tecelãs, outras e até mesmo como Gestoras Públicas.

O atual modelo de desenvolvimento é estruturado na exploração do trabalho, nos valores capitalistas, pela apropriação privada de recursos naturais, pela concentração de riquezas e da terra e pela mercantilização da vida. Isto produz discriminação e desigualdades estruturais nas relações sociais entre homens e mulheres e, sobretudo, para as populações negras, indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais, sendo as mulheres e crianças, oriundas desses grupos, as maiores vitimas. Diante disto, reafirmamos a necessidade de políticas públicas estruturantes para um novo modelo de desenvolvimento que possibilite o reconhecimento das mulheres como sujeito político, a importância da sua auto-organização e o fim da divisão sexual do trabalho, que desvaloriza e separa o trabalho das mulheres em relação ao dos homens.

Por isso nosso 2o Encontro – Economia Solidária: Mulheres transformando a América Latina apontam para a necessidade de:

Garantir mecanismos de mudança do modelo econômico de desenvolvimento, centrado no mercado e no mercantil;

Garantir a visibilizar e a valorização das experiências, dos conhecimentos e das práticas das mulheres na construção da Economia Solidária, da agroecologia, da justiça ambiental para garantindo a sua autonomia econômica.

Garantir o reconhecimento da esfera produtiva ( criação dos filhos, os cuidados do trabalho doméstico) para a sustentação da sociedade, pondo fim a sua invisibilidade e afirmando a necessidade de investimentos e políticas publicas nesta área.

Garantir que o poder sobre a economia e sobre o que produzimos esteja nas mãos do povo, com igual participação das mulheres.

Garantir equipamentos públicos como creches, coletivas, padarias e restaurantes comunitários; lavanderias

Garantir a efetividade das políticas de enfrentamento a Violência contra a Mulher.

Garantir assessoria técnica na área da agro ecologia, gestão de resíduos sólidos, autogestão, produção e comercialização;

Garantir políticas de incentivo à produção, comercialização, e consumo consciente, favorecendo uma relação direta e transparente entre quem produz e quem consome, aproximando produtor (a) e consumidor (a).

Garantir investimento direto nos empreendimentos com políticas públicas de crédito e financiamento desburocratizado para as mulheres, e criação do fundo nacional de Economia solidaria.

Garantir a implantação da Lei das Compras Coletivas onde o Estado adquire os produtos da Economia Solidária e da Agricultura Familiar, estendendo-as em todas as esferas de Governo.

Garantir a integração da Economia solidaria em toda a America Latina, intensificando o processo de autogestão, cooperação e bem viver para um desenvolvimento Justo e Sustentável.

Porto Alegre, RS, 14 de Setembro de 2012.

Baixe a carta em: http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=1626&Itemid=99999999