Por Rosely Sayão*
Qual educação alimentar temos praticado? A educação das refeições rápidas compradas prontas.
Eu estava fazendo compras em um supermercado quando uma consumidora chamou minha atenção. Era uma jovem mulher acompanhada de sua filha de mais ou menos cinco anos. O que despertou meu interesse foi o fato de a mãe dialogar com a filha o tempo todo. Falavam sobre as compras, a filha fazia perguntas e a mãe respondia de bom grado e com uma linguagem bem adequada para a criança. Todas as respostas fornecidas pela mãe continham informações corretas, mas eram adaptadas ao universo da criança dessa idade.
Não é mais tão comum assim vermos pais e filhos conversarem quando fazem um passeio juntos ou compras, como era o caso.
Quase toda a comunicação que vejo nessas situações se restringe a ordens, proibições, reclamações e pedidos.
A partir daquele momento eu me esqueci da tarefa que precisava realizar e passei a acompanhar tanto as compras quanto os diálogos travados entre mãe e filha.
Com toda a atenção voltada para as duas, notei que a cada alimento comprado a mãe repetia a mesma frase: “Esse vamos levar porque é saudável”.
Como a garota não perguntou o significado dessa palavra, presumi que “saudável” já fazia parte de seu cotidiano.
Meu passeio estava delicioso, mas chegou um momento em que ele se transformou em uma maravilha. Foi quando a garota pediu à mãe que ela comprasse um pacote de biscoitos -o que foi de pronto negado.
Sem expressar nenhuma reação mais forte perante uma vontade sua que não seria satisfeita, a menina perguntou: “Esse nós não vamos comprar porque ele é doente?”.
Pronto: depois de ouvir isso eu já podia seguir com minhas compras, e fiz isso. Mas é claro que a cena que eu testemunhara me faria pensar.
Lembrei-me logo de uma notícia que lera no mesmo dia segundo a qual quase metade da população brasileira apresenta excesso de peso. Essa notícia, fruto de uma pesquisa realizada no país todo, teve grande repercussão e muitos especialistas -médicos e nutricionistas, em especial- foram convocados a opinar e a orientar a população a respeito da boa alimentação, ou melhor, da alimentação saudável.
Dias depois, recebi a mensagem de uma leitora que, preocupada com a obesidade infantil, me perguntava se não seria interessante que as escolas adotassem em sua prática uma disciplina chamada educação alimentar.
Qual educação alimentar temos praticado com as crianças e os jovens? A educação do chamado “fast food”, ou seja, refeições rápidas, compradas prontas ou ingeridas em lanchonetes, por exemplo. Observar as lancheiras das crianças nas escolas nos permite essa constatação: algumas levam lanches caseiros, mas uma grande parte leva merendas industrializadas. Ou “doentes”, como diria a garota de cinco anos que encontrei no supermercado.
Creio que todos que têm filhos devem se lembrar de uma refeição simples, mas muito gostosa, feita por mãe, avó, tia, pai ou todos juntos. Não era preciso ter preocupação se o alimento era ou não saudável: o fato de a refeição ter sido feita em casa, com afeto, já era um sinal de que só poderia fazer bem. Fazia. E, além de tudo, era muito gostosa.
Mas parece que o estilo de vida que adotamos não mais comporta mãe fazendo comida para os filhos, lanche para levar à escola, bolo para a festa de aniversário etc. Se há quem faça, por que deveríamos fazer?
O resultado disso é que quem responde pela tal da educação alimentar dos mais novos é o mercado do consumo. O excesso de peso, inclusive de crianças, é fruto desse fato.
Poderíamos fazer uma campanha pela alimentação gostosa, em todos os sentidos. Lancheiras amorosas, por favor! As crianças agradecem.
* psicóloga e autora de “Como Educar Meu Filho?” (Publifolha)