Por Camila Queiroz
No próximo dia 5 de dezembro, multinacionais e Estados estarão reunidos na Conferência das Partes das Nações Unidas (COP17), em Durban, África do Sul. Com uma crítica incisiva ao evento, apelidado de “Conferência dos contaminantes”, a Via Campesina e outras organizações realizam o Dia Mundial da Soberania Alimentar para Esfriar a Terra.
“Apelamos aos camponeses e camponesas, trabalhadores, sem terras e a todos os movimentos sociais para que se unam a nós (…) para pedir uma mudança em todo o sistema capitalista. A luta contra a mudança climática é uma luta contra o capitalismo neoliberal, a falta de terras, a desapropriação, a fome, a pobreza e a desigualdade”, declara a convocatória.
Para marcar a data, haverá marchas públicas contra a Conferência, e ações contra empresas multinacionais, a exemplo da Monsanto, apontada pelas organizações por “minar a soberania de nossas sementes”. As marchas e ações culminarão em uma massiva Assembleia dos Oprimidos, que objetiva debater formas de reverter o sistema econômico-social injusto.
As organizações reivindicam uma real reforma agrária, voltada para a soberania alimentar; a revolução agroecológica, em solução à mudança climática; reestruturação de todo o sistema alimentar, que deve ser baseado nas necessidades humanas e ter participação igualitária das mulheres; fim do controle das multinacionais sobre os recursos genéticos; e soberania das sementes, visando mitigar a mudança climática.
Criticam a postura de multinacionais e governos, que além de geraram a crise climática ora vivenciada, apresentam falsas soluções. “Estes vergonhosos planos apresentados como soluções incluem, entre outras medidas, a promoção de sementes geneticamente modificadas, os biocombustíveis, o comércio de carbono, a agricultura climaticamente inteligente e a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD)”, assinalam.
A contradição é tão clara que o continente mais ameaçado pelas mudanças climáticas é a África, justamente o que menos contribui para o aquecimento global, segundo cientistas.
“Isto terá um forte impacto na agricultura, que é com o que boa parte das famílias africanas ganha a vida. Haverá perdas na colheita dos alimentos básicos do continente, como o milho, o sorgo, o painço, a mandioca, etc., devido ao aumento da temperatura”, alerta, acrescentando que os reais promotores do aquecimento global e desigualdades sociais são a agricultura e a produção industrial.
Por sua vez, a África do Sul, enquanto organiza a COP17, descuida da própria casa. Em 17 anos de democracia deixou na rua milhares de moradores e trabalhadores agrícolas, repassando apenas 5% da terra agricultável a cidadãos negros. Essa falta de justiça social no campo gera insegurança alimentar e nutricional para toda a população pobre, frisam as organizações, ressaltando que África do Sul é hoje a sociedade mais desigual do mundo.
Diante deste cenário, reafirmam que só a ação direta dos camponeses conseguirá desmascarar o que caracterizam como “falsas soluções”. Reivindicam, ao contrário, as decisões contidas no Acordo dos Povos de Cochabamba, resultado da Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra, ocorrida na Bolívia, em abril do ano passado.
Organizações interessadas em se somar ao Dia Mundial da Soberania Alimentar para Esfriar a Terra devem entrar em contato pelo e-mail lvcatcop17@gmail.com
*Adital