Por Secretaria Executiva do FBES
Estão em andamento no país quatros campanhas para mobilizar a sociedade em temas como economia solidária, reforma do sistema político, contra agrotóxicos, valorização da vida e da biodiversidade, defesa das florestas e desenvolvimento justo e sustentável.
Cada uma destas campanhas trabalha seu tema em específico, mas todas têm o desafio de sensibilizar a sociedade em atividades pedagógicas para a crítica, a denúncia e a proposição de alternativas ao atual modelo de sociedade na sua reprodução socioeconômica, na forma de fazer politica e participação social no país. Se olharmos em conjunto, estas campanhas são complementares e integradas nas questões que abordam, provocando o cidadão comum a ter consciência e participação cidadã sobre sua vida e a do planeta.
Algumas das provocações propostas pelas campanhas são:
O que estamos consumindo no nosso prato? Quais as consequências para nossa saúde?
Quais as alternativas para consumir produtos saudáveis, que não exploram e intoxicam o trabalhador/a e o meio ambiente?
Nosso sistema político é realmente democrático? Como exercer nossa cidadania para além do voto? Com quais mecanismos podemos diminuir a corrupção e melhorar nosso sistema político de modo que fique mais transparente e participativo?
Como podemos trabalhar sem ser patrão ou empregado? Aonde haja cooperação, a participação e o desenvolvimento justo e sustentável?
Como podemos reverter os atuais níveis de desmatamento e preservar nossas nascentes, rios, florestas e biodiversidade?
Enquanto proposições imediatas, as campanhas da Lei da Economia Solidária, da Reforma Política e da Defesa das Florestas e o Desenvolvimento Sustentável têm abaixo-assinados que serão encaminhados ao Congresso, as duas primeiras que propõe projetos de lei de iniciativa popular, e a última que busca barrar um retrocesso em nossa legislação ambiental. Todas estas campanhas e a Contra os Agrotóxicos têm o horizonte de mudar não apenas as posturas das pessoas, mas de provocar mudanças na forma como até então ocorrem os processos produtivos e participativos no país.
A campanha pela lei da economia solidária propõe o reconhecimento do trabalho associado, o direito a uma economia justa e solidária para que existam políticas públicas que apoiem e facilitem as práticas da cooperação em nosso país. A campanha também busca ampliar as práticas coletivas nos territórios e a organização do movimento de economia solidária junto aos fóruns locais, ampliando uma nova forma de fazer política e gerar trabalho.
A aprovação de uma lei da economia solidária beneficiará práticas coletivas no campo e na cidade, por exemplo, facilitando que organizações agroecológicos coletivas ou cooperativas urbanas sejam reconhecidas e valorizadas.
A campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida busca abrir um debate com a população sobre a falta de fiscalização no uso, consumo e venda de agrotóxicos, bem como sobre a contaminação dos solos e das águas bem como denunciar os impactos dos venenos na saúde dos trabalhadores, das comunidades rurais e dos consumidores nas cidades. Neste sentido, a proposta é construir formas de restringir o uso de venenos e de impedir sua expansão, propondo projetos de lei, portarias e iniciativas legais e jurídicas, e principalmente, ampliar a construção de um outro modelo agrícola, baseado na agricultura camponesa e agroecológica.
Assim como a campanha da economia solidária, a campanha contra os agrotóxicos busca ampliar um outro modelo de desenvolvimento que não concentre riquezas e que valorize o/a trabalhador/a com sua cultura e produção local. A campanha em defesa das florestas e do desenvolvimento sustentável também aborda a qualidade de vida da população, e amplia o debate para os mecanismos de proteção das florestas, rios e da natureza. A aprovação na Câmara dos Deputados da alteração do código florestal flexibiliza a necessidade de proteção e sustentabilidade dos recursos naturais, é defendida por parcelas economicamente poderosas da população, os ruralistas e grandes latifundiários, que hoje concentram a maior parte das terras produtivas no país, com a base da produção agrícola que utiliza sementes transgênicas, agrotóxicos e explora o/a agricultor/a, sem gerar qualquer tipo de benefício e desenvolvimento sustentável nas regiões produtoras.
Assim como a campanha pela lei da economia solidária e da reforma política, esta campanha busca pressionar o Congresso para que ouça a sociedade brasileira, dentro do compromisso democrático de respeitar e dialogar com a sociedade.
A campanha para a reforma política avança nos mecanismo democráticos e de controle social do Congresso, das eleições e no modo de fazer a política nacional. É propositiva frente a um cenário nacional com escândalos de corrupção, descrença nas eleições e nos partidos políticos. A política nacional hoje é conduzida por grandes interesses econômicos, à exemplo da aprovação na Câmara dos Deputados da alteração do código florestal, fortemente apoiada pela bancada ruralista.
As campanhas se complementam e convergem não apenas por mobilizar as pessoas, a cidadã e cidadão comum, mas por propor a ampliação de perspectivas que já ocorrem no país e que possam ser construídas pela maioria da população.
A convergência entre as campanhas pode ocorrer em aspectos simples, como:
Agenda comum: com a participação em seminários, reuniões, comitês, coordenações e eventos mútuos e conjuntos;
Troca e disponibilização de informações virtuais e materiais;
Mobilização conjunta: trabalhando o tema das quatro campanhas com a sociedade e com a coleta conjunta das assinaturas pelos projetos de iniciativa popular da reforma politica e da economia solidária, e em apoio a defesa das florestas e o desenvolvimento sustentável.
Mais do que as campanhas em si, a proposta é exercitar a união, os diálogos e as convergências de bandeiras e lutas para a construção de uma sociedade justa, sustentável e solidária. De uma esquerda que busca mostrar caminhos frente a uma crise global que se amplia, que mostra indignação, mas que ainda não sabe ao certo para onde correr. E neste sentido, os movimentos sociais, redes e organizações que promovem estas campanhas, já têm alguns anos de caminhada que precisam ser mostrados e construídos por todas/os indignadas/os deste mundo.