Por Diego Borges, repórter do Diário do Nordeste
Juntos, os 28 bancos comunitários emprestam, em média, cerca de R$ 2 milhões ao ano a pessoas de baixa renda
Não tem volta. A economia solidária está enraizada em comunidades e municípios cearenses, transformando a vida de milhares de pessoas que vivem nessas regiões carentes do Estado, e vem crescendo de maneira bastante expressiva.
Dendê Sol, Santana, Paju, Bem, Bassa, Par, Pirambu, entre outras instituições, acompanharam a boa experiência iniciada em 1998 pelo Banco Palmas e também implantaram o projeto, favorecendo a geração de renda e emprego nos respectivos entornos. Juntos, os 28 bancos comunitários emprestam, em média, cerca de R$ 2 milhões ao ano a pessoas de baixa renda, que em sua maioria estão excluídas do sistema bancário convencional.
“O banco é uma grande inovação, de propriedade da própria comunidade e possibilita que os pobres administrem sua riqueza do próprio banco, sem intervenção de fora. Não pensamos nele só como assistência, mas queremos provar que as classes D e E são extremamente produtivas”, explica o coordenador geral do Banco Palmas, João Joaquim de Melo Neto.
Renda gerada
De fato, esse tipo de instituição fez com que moradores de bairros como Conjunto Palmeiras, Pirambu, Edson Queiroz, São Cristóvão, além de municípios como Irauçuba, Maranguape e Choró, passassem a gerar emprego e renda a partir da utilização do dinheiro dos moradores dentro da própria região.
Recursos na comunidade
A partir da utilização da moeda social, aceita apenas pelos estabelecimentos do entorno, a renda fica retida na região, não sofrendo o risco de ser gasta em outro bairros, e contribuindo para a elevação das vendas do comércio local, gerando um círculo virtuoso para a economia.
“Isso ajuda a movimentar, a fazer com que a riqueza proveniente do trabalho no município fique a circular ali dentro. Os empréstimos, que normalmente têm juros altos, no comunitário é mais justo. O banco comunitário chega aonde nenhuma experiência de microcrédito chega, porque ele não exige garantias.
Inclusão apesar do SPC
O cliente é aquele que está no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) e que já foi ao banco convencional, mas não conseguiu”, complementa o professor Jeová Torres, coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Estudos em Gestão Social da UFC.
O Banco Paju, por exemplo, criado em 2006, em Maracanaú, oferta empréstimos de até R$ 5.000 para empreendedores do município e conta atualmente com uma carteira de R$ 500 mil, utilizada para fornecer subsídios a diversas modalidades de microcrédito.
Desde o ano de sua implementação, cerca de R$ 800 mil já foram emprestados. No Palmas, em adição às tradicionais linhas voltadas a incentivar a produção e o consumo na própria comunidade, há uma para os beneficiários do Bolsa Família.
Com o teto de R$ 50 e pagando juros de 1,5% ao mês, vários moradores do Conjunto Palmeiras conseguiram dar o pontapé inicial ao próprio negócio, dinamizando a região. O banco também recebe grande procura por funcionar como correspondente bancário de instituições como Caixa e Banco do Brasil.
Mas apesar das evidentes melhorias, os bancos comunitários ainda carecem de regulamentação perante o Banco Central. Com isso, mais benefícios deixam de ser gerados pela falta de canalização de recursos públicos para o fortalecimento dessas experiências, acarretando em um dos maiores entraves à cadeia: o atraso tecnológico.
“Se fôssemos regulamentados, teríamos mais acesso a recursos, principalmente tecnológicos, que poderiam ser desenvolvidos em institutos de pesquisa, além de podermos desenvolver trabalhos na área ambiental”, afirma Joaquim.
sem assistencialismo “Queremos provar que as classes D e E são extremamente produtivas”, disse Joaquim de Melo Neto, Coordenador do Banco Palmas.